mercredi 9 juillet 2008

Caçando entrevistas…

Delicioso momento com o Paulinho da Viola, em frente duma tela do Heitor dos Prazeres (foto Daniel A.)

Era tudo tao fácil, quando eu trabalhava para jornais e revistas de peso, aqui na Bélgica... O editor-chefe me ligava dizendo : « Daniel, amanhã de manhã você tem um compromisso na sede da gravadora X, para entrevistar – por exemplo – Nile Rodgers, Robert Palmer, ou The Smiths. Ou então a entrevista acontecia num bar « fashion », como foi o caso do Brian Ferry e do Sting (com quem inclusive eu já falava de música brasileira !). Outras vezes, a gravadora me convidava para ir a Londres, Amsterdam ou Paris, a fim de assistir a um show específico, de um artista / grupo sob seu selo, seguido de uma visita aos camarins. Eu não precisava fazer nada de muito especial ; eu esperava o telefonema do meu chefe, organizava a pauta e conduzia naturalmente a conversa com o entrevistado.
A idéia de entrar em contato com artistas brasileiros me veio assim, de repente, durante o vôo que me levava ao Rio em outubro de 2003. Eu não tinha qualquer contato com o showbizz por aí, e nenhum dos jornais para os quais eu trabalhava se interessava pela MPB…Eu só contava com os meus próprios conhecimentos e com a minha paixão que já contava 14 anos – na época - pela sua música popular. E eu tinha um programa semanal de MPB numa rádio independente pela comunidade espanhol e latina em Bruxelas, a Radio Si ; mais tarde então, pude trabalhar numa rádio independente bem maior : a Rádio Judaica.
Assim, nesse avião, eu já me dava por satisfeito caso viesse a conseguir entrevistar o porteiro do prédio do Lenine, um taxista que tivesse levado o Ney Matogrosso ao aeroporto ; ou, melhor ainda, a própria faxineira do Luiz Melodia ! Esses, só para citar nomes que eu pude um dia entrevistar de verdade. Passando em frente ao Canecão, no caminho que liga o aeroporto ao meu hotel em Ipanema, tinha percebido que a Maria Rita – a grande revelação daquele ano, 2003 - ia cantar no dia seguinte na histórica casa de shows. Eu já a tinha visto um ano antes, no extinto Mistura Fina da Lagoa.
Depois de um bom banho, e de ter trocado meus sapatos por um par de sandálias, fui até lá, meio naive, mas cheio de vontade, tentando falar com o assessor de imprensa da filha de Elis Regina - provavelmente já cansada de comentar a respeito dessa sua filiação.
A agenda de entrevistas da cantora, naturalmente, estava « overbooked »; e eu, belga gentil de sandálias, fui convidado a tomar uma água de côco na praia de Copacabana…
Mesmo bastante resfriado, resolvi fazer uma segunda (e na minha cabeça, a última) tentativa, entrando em contato com a então jovem gravadora Trama, de São Paulo. Felizmente consegui ser recebido por um dos sócios, o famoso João Marcelo Boscoli, também filho da Elis e do Ronaldo Boscoli - um cara musicalmente cultíssimo, que sempre foi ligado ao mercado estrangeiro. A gente conversou longamente sobre o funcionamento do selo, que me parecia em certos aspectos até mais eficiente que qualquer outro « major ». Mais agressiva, a Trama, no bom sentido da palavra, eu diria ; e mais dedicada aos artistas. Seguiram-se então as entrevistas com os « menimos e meninas » da Trama, como Ed Motta, Totonho e Os Cabra, Patricia Marx, Wilson Simoninha, Max de Castro, Jair Oliveira, Fernanda Porto, Caju e Castanha, Mad Zoo, Otto… enfim, essa onda jovem paulistana, ligada às músicas soul, pop e eletrônica, em sua maioria. Serei sempre muito grato ao João Marcelo, tanto quanto à assessora de imprensa Piky Candeias da época, pois a partir daí o boca-a-boca começou a funcionar (« le téléphone arabe », em francês), e as portas passaram a se abrir sem chaves. Às vezes até demais, eu diria ; eu tinha que recusar até entrevistas com grandes nomes por falta de tempo, simplesmente. Eu só podia ficar apenas um mês. Fiquei exausto, mas super feliz por tantos encontros, tão ricos em humanidade, recheados de emoção. Eu acordava às seis da manhã, e havia me limitado a duas entrevistas por dia (e mais os shows, à noite), já que é preciso concentrar-se para mergulhar de fato no universo musical de cada artista.

"Admiravel menina nova" em 2004, nos camarins do Circo Voador: Pitty
(foto Daniel A.)


Vocês podem perceber que sou compulsivo por natureza mas, podem crer, super exigente comigo mesmo na qualidade do meu trabalho. Consegui fazer assim 50 entevistas em 29 dias, misturando todos os estilos, e também as gerações. De Gal Costa a Arnaldo Antunes ; da turma da Bossa Nova (Carlos Lyra, Roberto Menescal, Leny Andrade, Wanda Sá…) até artistas mais ‘underground’ como o Lucas Santtana. Tambem fazia questão de me encontrar com nomes promissores da época : Vanessa da Mata, Jay Vaquer, Isabela Taviani, Pitty... mas sem me esquecer de grandes ícones do samba, como a Beth Carvalho, o Martinho da Vila ou o Paulinho da Viola. Ainda me vêem à mente nomes consagrados como Alceu Valença, Frejat, Leila Pinheiro, João Donato e Adriana Calcanhotto.

Alceu Valença, um pernambucano à vontade no Leblon (foto Daniel A.)

A "Fome de sede" do Arnaldo Antunes (foto Daniel A.)

Sobre cada um(a) guardo piadas e anedotas até bem engraçadas no meu baú, a partir do qual planejo desenvolver, um desses dias (ou meses...), um livro em francês. Até porque o mercado do livro sobre a MPB é quase inexistente no meu idioma de origem. Isso é uma das razoes desses encontros além de servir para o programma de radio, o blog, e artigos da parte francés da revista « Brazuca », que me contatou recentemente.
Depois, em 2004 e 2005, já foi ficando mais fácil agendar essas entrevistas, inclusive porque, modéstia à parte, meu trabalho como entrevistador passou a ser « bem cotado » pelos artistas em geral.
Mas eu tentava especialmente conseguir fazer contato com nomes menos conhecidos, mas cujo trabalho já me havia seduzido - principalmente as cantoras. Algumas excelentes sumiram (por enquanto…), como Vanessa Bumagny, Marcela Biasi, ou Nila Branco ; outras ainda fazem parte da atualidade, como Katia B., Virginia Rosa, Eliana Printes e a percussionista Lanlan (hoje na banda Moinho), cujo primeiro disco solo « hardcore » eu tinha adorado.
E, mais tarde, nada foi impecilho para que eu entrasse em contato com os grandes compositores, como o Moska, o Chico César e Los Hermanos (esses, num restaurante na Gávea, sem o Marcelo Camelo ).
E agora… ? Deixei de lado, durante três anos, esse ofício de entrevistador, e naturalmente meus contatos sumiram. Muitos assessores de imprensa mudaram, e os e-mails dos artistas também foram trocados. Como canta a Ana Luisa, junto com o Pedro Luis, « zerei o counter e vou recomeçar ». De novo, mais uma vez, não tenho mais « contatos imediatos » com o showbizz brasileiro, e vou precisar contar com um esforçado e fiel escudeiro. Vou dar uma de Caetano Veloso, e fazer eu mesmo a minha própria « obra em progresso », junto com vocês aqui. E vamos ver então como as coisas vão rolar ao longo da minha próxima viagem, daqui a poucas semanas, ao eixo Rio-São Paulo. Já recebi retornos favoráveis por parte de Ana Costa, Ana Luisa, Zé Renato, Marina Machado, Silvia Machete, Fernanda Takai, Edu Krieger, Bruna Caram, Cecília Spyer, Marina Lima, Alexia Bomtempo, Glaucia Nasser, Thais Gulin, Mart’nalia, Pedro Luis e a Parede ou Fred Martins : todos artistas que admiro ou que me chamaram a atenção de alguma forma. Pois eu não tenho vergonha de dizer que sou um « jornalista-fã », e mesmo quando não estou apaixonado pelo trabalho de um artista, a simples fé e a entrega de cada um à sua música, por si mesmas, já me deixam fascinado. Aliás, em qualquer arte.

Encontro inesperado com um dos maiores melodista da MPB: Edu Lobo
(foto arquivo Daniel A.)


Ontem também enviei outras solicitações de entrevistas que não vou postar aqui, pois já lancei sobre vocês inúmeros nomes. Mais uma prova da minha compulsividade ? Nem tanto, pois é preciso ponderar que talvez apenas um terço desses pedidos de encontros com artistas vão efetivamente se transformar em entrevistas, em função de datas de tournées ou de gravações em estúdio. E também não me esqueço de que muitos desses encontros aconteceram sem agendamento prévio, por acaso mesmo, depois de shows, ou conduzindo uma entrevista que me levava a conseguir uma outra, como foi o caso quando a Wanda Sa me ajudou a encontrar o grande Edu Lobo.
Bom, e entao, vocés me acompanham nessa minha « caçada », desta vez?!?

18 commentaires:

Anonyme a dit…

Oi, Daniel! Puxa, que fôlego! Só conhecer o Edu Lobo e o Arnaldo Antunes já me deixaria nas nuvens.
Pra mim o Edu Lobo é a personalidade mais "elegante" da Bossa Nova. Já o Arnaldo eu considero um dos gênios contemporâneos. Boa sorte na sua empreitada. Abraço.

Anonyme a dit…

Daniel, falando em Edu Lobo, ontem foi gravado na Globo, o programa SOM BRASIL - Especial Edu Lobo. Com Edu Lobo, Nação Zumbi, Mônica Salmaso e Thaís Gulin. Vai ao ar dia 25 de julho, depois do programa do JÔ.
Maria Carol

Daniel Achedjian a dit…

Pois é Pandora, o Edu é tao elegante como o Paulinho. Para mim quase tao bom melodista que o Tom. Quanto ao Arnaldo, o entrevistei na ocasiao duma exposiçao da sua obra plastica numa galeria em Ipanema. Pude comprar esse "Fome de sede" que pode ter um outro titulo. E so ler as letras em vermelho...entendeu..? (-: abraço!

Daniel Achedjian a dit…

Obrigado pela noticia Maria, esse programma passa tambem na Globo internacional, umas semana depois. Anotei, valeu, abraço!

Tombom a dit…

Daniel, teu blog é excelente!
Cheio de informações interessantes.

Espero que nesta enorme relação de músicos brasileiros você possa incluir ROSA PASSOS (www.rossapassos.com.br), grande cantora e compositora que está em tournée por Portugal/Espanha neste mês de julho.

Grande abraço,
Tom
São Paulo/SP, Brasil

Anonyme a dit…

As letras vermelhas... afff... só agora é que eu percebi... rs.

Daniel Achedjian a dit…

Obrigado Tom, ja pude encontrar a Rosa aqui, em Bruxelas, depois um show intimo (100 pessoas no maximo, em 2006). Ela possui a voz que mantem do melhor jeito possivel o espirito da Bossa hoje em dia. Talvez com a Joyce e, por incrivel que parece, a Fernanda Takai. obrigado pela visita e volte sempre!

Márcio a dit…

Boa sorte em sua nova jornada, Daniel! Digo isso porque nem sempre é fácil obter bom resultado de uma entrevista. Há artistas - do Brasil e de todos os países - que são excelentes no palco (ou nas telas, ou escrevendo ou pintando), mas que, por motivos variados, não conseguem se exprimir bem falando. O entrevistador tem de ser virar para "tirar leite de pedra", e nem sempre consegue. Vamos ver se você vai ter de ser muito criativo e paciente nessa tarefa. Saudações!

Daniel Achedjian a dit…

Pois é Marcio! Parece que vocé conhece bem esse papel de entrevistador.Mas devo dizer que era mais dificil, quando entrevistava os ingleses, americanos e ainda mais artistas da França. Os brasileiros sao mais a vontade neste exercicio e gostam de falar. As vezes é so apertar o botao e eles nao param! (-:
Tambem, no Brasil, uma entrevista pode demorar uma hora ou até duas sem que seja um problema. So me lembro que, com a Calcanhotto e o Joao Donato, tive que "tirar leite da pedra", para usar essa expressao saborosa que nao conhecia! Abraço!

Anonyme a dit…

Parece que vc continua tirando "leite, água e vinho das pedras". O blog já é um livro, é só adaptar o melhor possível . Difícil é deixar algo de fora, todos os textos são bons. bjs Tuka

Anonyme a dit…

Fala Daniel!!!!
Ontem, Dulce Lobo, a irmã de Edu, esteve no nosso studio para ver como anda a produção do site dele! Ela é extremamente simpática como a grande maioria dos pernambucanos!
Acredito que no máximo em 30 dias a nova página de Edu, na internet, estará pronta. Vou te avisar por aqui.
Estou te enviando, agora, por email, aquela listinha que vc me pediu!
Abraço!

Daniel Achedjian a dit…

Obridadissimo caro Tuxa, nao escondo que atras desses textos, principalmente em francés, tem uma ideia de livro por ser feito. Mais um sonho para se realisar...abraçao, amigo, é bom te ler de novo!!

Daniel Achedjian a dit…

Em seu lugar, estaria animadissimo, caro Cal. Espero que outros artistas vieram pedir seus talentos! E quem sabe, atraves de vocé, vou poder encontrar de novo o GRANDE Edu. Abraço, amigo...

Daniel Achedjian a dit…

Queria indicar para quem nao sabe, que a cantora em dueto com a Mariana Aydar é a grande sambista Leci Brandao, autora dessa bela cançao...

Anonyme a dit…

Foi o que acabo de te propor por email amigo...hehehehehhehe
Posso conseguir o Rodrigo Santos (baixista do Barão) que está numa belíssima carreira solo...seu primeiro álbum foi muito bem aceito pela crítica...
Produzimos o site dele também:www.rodsantos.com.br

Vou, com calma, ver mais alguns nomes pra vc...
E por falar na Marina, tem uma entrevista extremamente interessante com ela na nova edição da RollingStones brasileira...

Daniel Achedjian a dit…

Comprei esse disco do Rodrigo, Cal. So devo o escutar de novo. Claro que o cara deve ser legal.
Me guarde esse Rolling stones por favor...

Anonyme a dit…

Vou separa a revista hj pra vc, amigo...e me desculpe pelo "s" no final do nome...é ROLLING STONE, né? Hahahhahahahahahahahah
Abraço

Anonyme a dit…

Olha eu aqui de novo...hehehheheheh
Pra colocar o "r" em separar...e detacar o inicio da entrevista da Marina:
RS: Este é um momento de entressafra: seu disco anterior (Lá nos Primórdios, 2006) já foi trabalhado e o novo ainda não saiu. É uma hora boa de dar entrevistas?
Marina: É uma hora genial. Acho bacana que as pessoas saibam como é o processo, o meio do trabalho.Mas todo mundo só se interessa pelo resultado.

Vem correndo pra cá, Daniel!!!!! hahahahhahahah

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