Não tenham vergonha de confessar ! Vocês também gostam, como eu, antes mesmo de ler a resanha dum disco, dvd ou show, de ir direito contar as estrelas que o jornalista atribuiu ! Isso nos envolve no assunto de imediato, sem erro. É claro que isso vale tambem para um filme, uma exposição ou um livro. Viramos então « o crítico do crítico ». E também julgamos : « O que é isso ?!?.... eu teria dado...nao… eu dou ( ! ) uma estrela a mais - ou a menos ...». Mesmo quando a gente tem a mesma opinião do crítico, até o « ½ » é sujeito a negociação.
Durante esses anos de jornalismo musical, sempre preferi usar a palavra « cronista », pois « crítico » sempre carregou esse lado pejorativo, pedante, do « cara que pretende saber mais do que os outros », e isso não é novidade. Existe desde o início da história desse gênero jornalístico, há séculos…
Pois é ; o perfeito « crítico » deve saber mais do que os outros. Ele conhece sua matéria na ponta dos dedos : a sua história, os movimentos, seus integrantes e suas respectivas obras, além de saber situar uma nova criação num panorama geral. Assim ele é didático. Depois, claro, pode se dar ao direito, com a sensibilidade que lhe pertence, de emitir sua opinião e atribuir uma ‘cotação’, baseado em dados -quase-objetivos. Com os conhecimentos que acumulou, ele adquiriu credibilidade.
Aliás, como leitores, podemos nos situar também. Após um tempo, já conhecendo um pouco as tendências de tal jornalista, podemos concluir que, se ele gostou, então não vamos gostar ! Muitas vezes reagi assim, antes de escolher um filme no cinema.
Falando de música – e não de letra - se o crítico tem também ao menos alguma mínima formação musical, ele pode trazer consigo informações interessantes. Vai descortinar uma canção, a sua estrutura, julgar o uso dos instrumentos, dos tons escolhidos ; ou analisar a personalidade e a técnica de uma voz. No entanto, a técnica se julga somente quando é possível escutar uma cantora ou um cantor ao vivo. Existem tantas possibilidades para se compensar as falhas de uma voz em estúdio...
Ontem mesmo, quis rever o dvd « Angela Rô Rô, ao vivo », de 2006.
Os anos difíceis da cantora não estragaram a sua voz sob qualquer aspecto. Uma grande sorte ! Ela sabe pausar ainda o seu vocal, manter uma nota ; e respira com o ventre e não com o peito para manter o fôlego. Não desafina em um momento sequer, e usa o microfone como se deve - durante as notas fortes e altas, que alcança com facilidade. Angela é ainda senhora de sua grande técnica, disso não há dúvida.
Existe um outro parâmetro importante que o jornalista-crítico não pode controlar : seu estado de espírito na hora do julgamento ! Pequenos ou grandes problemas pessoais vão - queira ou não - alterar sua visão ... ou a sua audição. E às vezes não há como adiar sua resenha, pois o fechamento do jornal não espera…
Enfim, outro critério importante em relação à música : em que condição a gente a escuta. E aqui, nesse ponto, quero contar uma historinha. Duas semanas atrás, depois várias audições, e mesmo com a maior boa vontade, eu não conseguia encontrar muitos adjetivos positivos para o disco « Inclassificáveis », do Ney Matogrosso.
Mas acontece que, numa viagem de uma hora que fiz, coloquei mais uma vez o cd no meu carro. Não vou dizer que o achei de repente genial, mas já me soava aí bem mais razoável. Me sentia mais dentro do disco, e das 16 faixas (demais, para qualquer artista !). Então vou escrever o que ? « Bom para se ouvir no carro » ?… Claro que não !
Porém, coincidentemente, no mesmo dia, uma amiga me ligou, dizendo que o livro que estava lendo parecia ora um, ora outro, dependendo do local da leitura ! Depois da minha experiência com o cd no carro, eu pude realmente acreditar nela. Mas qual a razão… ? A luz da janela, o cômodo onde lia, o aconchego da poltrona, o espaço da sala… ? Vejam que, com 24 anos de jornalismo, não hesito em me colocar em questão !
Esse prólogo era, finalmente, para introduzir essa crônica :
« Contando Estrelas », que voltará de vez em quando, relatando minhas impressões sobre discos e dvd’s muito recentes, ou até alguns mais antigos, que acompanham o meu dia-dia. Então, seguem aqui minhas estrelas, conforme os critérios habituais, dos discos que ouvi desde minha chegada aqui em Bruxelas, do Brasil, já faz um mês…
Durante esses anos de jornalismo musical, sempre preferi usar a palavra « cronista », pois « crítico » sempre carregou esse lado pejorativo, pedante, do « cara que pretende saber mais do que os outros », e isso não é novidade. Existe desde o início da história desse gênero jornalístico, há séculos…
Pois é ; o perfeito « crítico » deve saber mais do que os outros. Ele conhece sua matéria na ponta dos dedos : a sua história, os movimentos, seus integrantes e suas respectivas obras, além de saber situar uma nova criação num panorama geral. Assim ele é didático. Depois, claro, pode se dar ao direito, com a sensibilidade que lhe pertence, de emitir sua opinião e atribuir uma ‘cotação’, baseado em dados -quase-objetivos. Com os conhecimentos que acumulou, ele adquiriu credibilidade.
Aliás, como leitores, podemos nos situar também. Após um tempo, já conhecendo um pouco as tendências de tal jornalista, podemos concluir que, se ele gostou, então não vamos gostar ! Muitas vezes reagi assim, antes de escolher um filme no cinema.
Falando de música – e não de letra - se o crítico tem também ao menos alguma mínima formação musical, ele pode trazer consigo informações interessantes. Vai descortinar uma canção, a sua estrutura, julgar o uso dos instrumentos, dos tons escolhidos ; ou analisar a personalidade e a técnica de uma voz. No entanto, a técnica se julga somente quando é possível escutar uma cantora ou um cantor ao vivo. Existem tantas possibilidades para se compensar as falhas de uma voz em estúdio...
Ontem mesmo, quis rever o dvd « Angela Rô Rô, ao vivo », de 2006.
Os anos difíceis da cantora não estragaram a sua voz sob qualquer aspecto. Uma grande sorte ! Ela sabe pausar ainda o seu vocal, manter uma nota ; e respira com o ventre e não com o peito para manter o fôlego. Não desafina em um momento sequer, e usa o microfone como se deve - durante as notas fortes e altas, que alcança com facilidade. Angela é ainda senhora de sua grande técnica, disso não há dúvida.
Existe um outro parâmetro importante que o jornalista-crítico não pode controlar : seu estado de espírito na hora do julgamento ! Pequenos ou grandes problemas pessoais vão - queira ou não - alterar sua visão ... ou a sua audição. E às vezes não há como adiar sua resenha, pois o fechamento do jornal não espera…
Enfim, outro critério importante em relação à música : em que condição a gente a escuta. E aqui, nesse ponto, quero contar uma historinha. Duas semanas atrás, depois várias audições, e mesmo com a maior boa vontade, eu não conseguia encontrar muitos adjetivos positivos para o disco « Inclassificáveis », do Ney Matogrosso.
Mas acontece que, numa viagem de uma hora que fiz, coloquei mais uma vez o cd no meu carro. Não vou dizer que o achei de repente genial, mas já me soava aí bem mais razoável. Me sentia mais dentro do disco, e das 16 faixas (demais, para qualquer artista !). Então vou escrever o que ? « Bom para se ouvir no carro » ?… Claro que não !
Porém, coincidentemente, no mesmo dia, uma amiga me ligou, dizendo que o livro que estava lendo parecia ora um, ora outro, dependendo do local da leitura ! Depois da minha experiência com o cd no carro, eu pude realmente acreditar nela. Mas qual a razão… ? A luz da janela, o cômodo onde lia, o aconchego da poltrona, o espaço da sala… ? Vejam que, com 24 anos de jornalismo, não hesito em me colocar em questão !
Esse prólogo era, finalmente, para introduzir essa crônica :
« Contando Estrelas », que voltará de vez em quando, relatando minhas impressões sobre discos e dvd’s muito recentes, ou até alguns mais antigos, que acompanham o meu dia-dia. Então, seguem aqui minhas estrelas, conforme os critérios habituais, dos discos que ouvi desde minha chegada aqui em Bruxelas, do Brasil, já faz um mês…
15 commentaires:
Oi, isso parece uma meaculpa do comentário que fiz a respeito do post sobre o show do Milton. É isso aí companheiro , a humildade e reconhecimento das gafes, faz nos fortalecer e engrandecer. Desta vez a sutileza e a gentileza com que vc comentou o novo cd do Ney te dá mais uma força e qualidade no que está fazendo. Parabéns mais uma vez.
Tuka
Ah esquecí de falar, é melhor sair correndo e comprar o cd da Adriana calcanhoto , é fantástico, quase tão bom como todos e tão maravilhoso como o Maritimo. bjs Tuka
Ué, cadê o texto em francês que estava sendo totalmente útil para eu relembrar o que aprendi bem garoto? E sobre estrelas, a mais importante de todas, claro, é a Etoile Solitaire du Glorieux Botafogo de Futebol et Regatas... Agora, claro que todo mundo vê a cotação antes de ler a crítica, só para saber se "a besta" do crítico acertou dessa vez ou não. Que venham as estrelas, ou melhor "les etoiles". Aliás, como é estrelas em flamengo?
Eduardo, eu também sou da Constelação da Estrela Solitária. Je suis né au glorieux 1958, quand le Botafogo était le grand Champion ( tudo errado... )Perdemos esse Campeonato, né?
Eu concordo com o Daniel sobre crítica. Aqui no Rio tá acontecendo coisa pior: mania de listas sobre "os dez piores": filmes, inclusive, que é + minha praia. Acho ridículo.
Olá, Daniel! Aqui é o Otaner, desculpa a demora em te responder. Coloquei seu blog nos links legais que temos ali na lateral do La Cumbuca, afinal seus textos são muito bons, quer dizer, pelo menos os que estão num idioma que eu entendo, hehehe.
Vamos nos falando, um abraço!
Caro Tuka! O Calcahonotto é bom mesmo. Tao bom que os outros?..hum, preciso de tempo para dar uma opiniao...De qualquer jeito, vou ter a possibilidade de vê-la no Portugal, fim deste mês. E nao, amigo, este post nao é um meaculpa depois do show do Milton/ Jobim. E nao cometi nenhuma "gafe" que eu saiba. So dei minha opiniao sobre o show, e isso nao quer dizer que nao tenho um maior respeito para esses îcones. Como me dizia um dos seus grandes jornalistas musicais, "posso falar mal dum disco dum artista, que nao nos impede a jantar juntos o dia seguinte. Respeito, sempre vou ter, mas niguem me impedira a escrever meu pensamento. Nem impedirei ninguem a deixar aqui o seu. Democracia!! Abraçao, amigo...
Ola Eduardo, hoe gaat het met u? Une étoile, het is een ster in het vlaams. E assim, "een ster"! Caro amigo Botafoguense, agora nao sei que lingua devo usar com vocé! Veja So, me fez escrever em "flamengo", fazia tempo..!, e eu sou vascaino, mas "so para contrariar"...Abraço
Aldebarana, "os dez melhores", "os dez piores", queira ou nao, nos gostamos de fazer essas listas. Para falar de futebol de novo, cada torcedor faz sua propria "séleçao" nao é? beijo...
Obrigado Otainer, estou seguindo seu blog tambem! Tinha razao, o Vitor Araujo parece um fenômeno. Agora lamento de nao ter o visto...Abraço!
Tambem te colocarei nas links, ciao!
Oi Daniel!
Gostei muito do texto. Realmente é complicado para o crítico resumir o trabalho de um artista em algumas estrelinhas... Enfim, mas acho que se houver bom senso, fica tudo bem. Mas lógico que o fã do artista sempre vai reclamar o porquê de você não ter dado a cotação máxima ao disco de seu ídolo.
Nas minhas estrelinhas, eu tento fazer uma comparação entre os trabalhos anteriores do artista e outros discos que estão sendo lançados no período. Assim, mesmo que o texto seja elogioso, isso não significa que o CD terá direito a cinco estrelas... Aliás, "cinco estrelas" para mim é uma coisa beeeeem rara... No ano passado, só me lembrei de um disco para o qual daria a cotação máxima...
Abraço,
Flamengo - palavrinha aliás detestável por lembrar determinada equipe de futebol - é a mesma coisa que Valão, ou Valois, ou Vlaam, com "entendi" da sua frase. Então o povo eleito é o povo da ster? Esse blog multinacional e multilingual é cultura. hahaha. Daniel. perdi seu endereço para mandar a Brasileiros. Me mande, por favor.
Luiz Felipe, acho legal essa postura de não "queimar" o artista e sua carreira por conta de um disco pior aqui ou ali. Saudável a tua atitude de ponderar o conjunto da obra na hora de "criticar". Ao mesmo tempo, sobre aquele "produto específico", acho que devemos alertar o público sobre o seu conteúdo, mas na maior delicadeza, sem "linchamanto" do artista. Acredito que as expressões comentarista/cronista/resenhista já estão aos poucos substituindo a pesada palavra "crítico". Afinal, quem somos nós pra julgar e condenar, se somos apenas poeira de estrelas... dust in the wind. Daniel, esse sol de outono aqui no Rio me deixa assim, filosófica... e hoje mais até, pois vou tomar chocolate... rs.
Ola Luiz Felipe, gostaria mesmo de saber qual era aquele disco 5 estrelas! O seu jeito de julgar um trabalho me parece sensato. Tem fa e tem fa cego. Fui e sou fa de various artistas, e por isso sou mais exigente a respeito deles. Me entristesse observar um grande artista perder seu fôlego. Nao sou um fa radical nao. Alias em varias entrevistas brasileiras, começava a dizer: "Meu caro X, o que é isso, ..." e o artista aceitava minha critica. Era bem diferente duma entrevista que tinha feito com o Lou Reed nos anos 85-86,que me respondeu, "nao gostou do disco? Entao Ciao...". A entrevista demorou 30 segundos...
Abraço, Luiz!
Caro Eduardo, posso te dar meu enderesso, atraves do meu mail daniel.achedjian@skynet.be
Seria um prazer de receber a Brasileiros.
Oi Daniel!
Bom, curiosamente, o meu disco cinco estrelas do ano passado foi um trabalho de estréia. Quem mereceu as minhas humildes cinco estrelas foi o cantor libanês Mika, com o seu CD "Live In Cartoon Motion". Como na época eu não tinha blog, eu compensei hoje, escrevendo sobre o DVD que ele lançou há pouco tempo. O DVD tb merece as cinco estrelas!
Na seara nacional, no ano passado, um CD que eu dou cinco estrelas é o "Dentro do Mar Tem Rio", da Maria Bethânia. Aliás, filmaram o DVD, mas ele acabou esquecido pela Biscoito Fino, por causa do projeto de Bethânia com a Omara Portuondo (que por sinal, tb já teve DVD gravado em Minas Gerais). Vou torcer para que saia pelo menos até o Natal...
E nesse mês, ao que tudo indica, a EMI lança o DVD de "Inclassificáveis". Estava na primeira fila no dia da gravação. Estou morrendo de vergonha de aparecer! Hehehe...
Grande abraço,
Luiz Felipe.
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