Como montar um cardápio musical caprichado para um público aprendiz...?
Esse foi o grande desafio da retomada do programa “Tropicália”, e acredito que continuará persistindo nos programas por vir. O retorno que tive nessa re-estréia foi fantástico, mas não pude escapar à pergunta que já esperava vinda de boa parte dos ouvintes: “Será que um programa de MPB de 150 minutos, sem os nomes que conhecemos pelo menos um pouquinho - ou dos quais já ouvimos falar - como Caetano, Gil, Chico, Milton ou Roberto pode ser concebido? Ainda mais sem Djavan, Ivan Lins, João Bosco ou Cartola... E cadê o Dorival?!?
Pois é… Foi um pouco de propósito, porém sem tender a um exagero em termos de excentricidade. Quis mostrar que é possível construir uma coletânea radiofônica – várias, na verdade - sem necessariamente apelar para esses ícones incontestáveis. Organizei então vários núcleos dentro dos quais distribuí as músicas por essas mais de duas horas. No entanto, alguns grandes nomes não faltaram: Zé Renato com 'Por que estou aqui', essa linda parceria com Arnaldo Antunes, extraída do seu álbum “Cabô”, de 2000; e também a Bethânia com a Omara Portuondo, 'Marambaia'; sendo a Omara mais conhecida aqui do que a diva baiana.
Mas o momento ansiosamente esperado pelos ouvintes da pura Bossa Nova foi dignamente representado por “Só tinha de ser com você”, do Tom, assim como seu divino 'Retrato em branco e preto' parceria com o Chico Buarque, na versão orquestral cantado por João Gilberto. Na verdade, eu tinha extraído essas duas faixas pré-mixadas do "Chill Brazil 3", provavelmente a melhor coletânea – dentre milhares- que pude encontrar, para quem quer iniciar- se na MPB de um modo geral. São cinco volumes duplos, cada um capitaneado por uma personalidade musical detentora de absoluta credibilidade. O mais recente - 'Chill Brazil 5' - saiu esse ano, e consiste na escolha, pela avaliação esperta do Charles Gavin, de novas boas cantoras. O Charles Gavin, como vocês devem saber, além de ser baterista dos Titãs, sempre foi um pesquisador musical incansável.
Por falar em novas vozes femininas, veiculei a mineira Glaucia Nasser ('Vida em cena') e também a carioca Anna Luisa, com a faixa - título do seu primeiro disco (“Do zero”), parceria de Pedro Luis e Seu Jorge. O seu segundo disco, “Girando”, deveria sair ainda este ano. Foi a prórpia Anna Luiza quem me levou a falar dos dois compositores que a gente cita sem parar quando se refere à nova geraçao de talentos: Edu Krieger e Rodrigo Maranhão. Anna se apresenta regularmente com eles (em breve, no Teatro Rival, no Rio); e não pude também resistir a tocar 'Desafio' do Edu, com sua introdução fulgurante na flauta (na verdade um sampler).
Também do seu álbum “Bordado”, coloquei o irresistível 'Para tocar no rádio', do Rodrigo, que me lembra as melhores canções do Roberto Mendes ou do Gerônimo.
Com 'Mares de Espanha', cantado por Toni Platão, quis mostrar que bons intérpretes não se encontram apenas no meio feminino. Prova disso é que Zé Renato e Ed Motta, ambos presentes no programa passado, constam da minha lista dos melhores cantores do Brasil.
Durante esse meu “show” de regresso, quis abrir um espaço para algumas cantoras que parecem ter sumido do mercado por enquanto: Nila Branco, Marcela Biasi e a delicada e sutil Verônica Sabino. Na realidade, essa última não vai demorar a voltar à cena com um novo dvd, reassumindo sua carreira, meio em recesso desde seu disco autoral “Agora” (2003). A Marcela, por sua vez, havia gerado um dos discos mais sedutores do ano de 2004, “Arrastando maravilhas”, que eu já costumava tocar muito na primeira edição do “Tropicalia”. E a roqueira de Goiânia, a Nila Branco, com “Tudo que eu quis” (2004) foi responsável simplesmente por um dos melhores discos pop/rock desses últimos anos. Nesta excelente produção, ela juntava composições do Nando Reis, do Paulo Miklos, do Kiko Zambianchi, do Zeca Baleiro ou do Rodrigo Amarante, numa homogeneidade própria e madura, sem concessões ou fantasias.
Nao pude deixar de apresentar, para quem não a conhecia aqui na Bélgica (ou seja, a maioria...), a Maria Rita. Idem a paulistana “soul” Paula Lima (que desperdiçou seu talento no programa “Icones”, na França, como “La nouvelle star”). E bom, não dispensei também a Roberta Sá, com essa canção que não consigo tirar da minha cabeça: 'Que belo estranho dia…', com sua letra saborosa a serviço duma melodia bordada através de grande inteligência harmônica, da autoria de Lula Queiroga.
Nao pude deixar de apresentar, para quem não a conhecia aqui na Bélgica (ou seja, a maioria...), a Maria Rita. Idem a paulistana “soul” Paula Lima (que desperdiçou seu talento no programa “Icones”, na França, como “La nouvelle star”). E bom, não dispensei também a Roberta Sá, com essa canção que não consigo tirar da minha cabeça: 'Que belo estranho dia…', com sua letra saborosa a serviço duma melodia bordada através de grande inteligência harmônica, da autoria de Lula Queiroga.
E por falar em “valores incontestáveis”, toquei 'Mulher sem razão' da Adriana Calcanhotto, intérprete que sempre atraiu a curiosidade dos ouvintes iniciantes.
Creio que Adriana foi a artista sobre a qual recebi o maior número de ligações de ouvintes interessados em obter mais informações. Fechei então o programa com 'Fazê o quê”' do PLaP, faixa do seu primeiro e arrasador disco “Astronauta Tupi” (1997). Acrescentei ainda, como um “bônus”, 'Jacksoul Brasileiro', na versão que junta Lenine e Fernanda Abreu, extraída do álbum “Raio X”(1997), da “carioca sangue bom” – um disco que teve seu equivalente em fita VHS na época, mas que nunca foi relançado em dvd. Uma pena, pois nele podemos assistir à ultima gravação da qual o Chico Science participou, em 'Rio 40°', antes do seu acidente fatal.
E, por fim, antes de introduzir o último disco do Marcelo Camelo, tive que resumir a arte de Los Hermanos, colocando uma faixa do álbum “Bloco do eu sozinho” (2001).
As bolachas recentes...
Demorou um tempão até eu conseguir entrar no mundo introspectivo do Marcelo Camelo, via seu projeto solitário “Sou” / “Nós”. Claro que o Marcelo não consegue atingir aqui o nível de qualidade de muitas composições que ele fez para os Hermanos; mas, afinal, tudo é uma questão de “clima” nesse álbum “zen”. O tratamento das guitaras é exelente ao longo das 14 faixas (demais, mais uma vez, como sempre…). Aliás, a canção de introdução 'Téo e a gaivota' me fez lembrar direto “Sun King”, a canção mais obscura do lendário “Abbey Road” dos Beatles.
Para o programa, decidi colocar 'Mais tarde' um dos títulos mais próximos do universo hermaniano.
Apresentar o Ed Motta (que cancelou seu show em Paris por probelmas de saúde) não foi tarefa muito fácil, uma vez que o cara é multi-…tudo!!
Não consegui entrevistá-lo em agosto por falta de tempo, nem li qualquer entrevista com ele; porém, pressinto que “Chapter 9” deve concretizar o resultado perfeito que o talentoso artista vem buscando desde “Dwitza” (2001). “Chapter 9” é simplesmente brilhante, sem excessos por parte desse músico compulsivo, e exibe sua habilidade como malabarista em canções do mundo jazz / rock ('Tommy boy’s big mistake' ou dos musicais da Broadway ('The Runaways'), viés que ele já explorava em “Aystelum”, de 2005. “Chapter 9” é um grande disco, do qual pincei a faixa de introdução: 'The man from the oldest building'.
Não consegui entrevistá-lo em agosto por falta de tempo, nem li qualquer entrevista com ele; porém, pressinto que “Chapter 9” deve concretizar o resultado perfeito que o talentoso artista vem buscando desde “Dwitza” (2001). “Chapter 9” é simplesmente brilhante, sem excessos por parte desse músico compulsivo, e exibe sua habilidade como malabarista em canções do mundo jazz / rock ('Tommy boy’s big mistake' ou dos musicais da Broadway ('The Runaways'), viés que ele já explorava em “Aystelum”, de 2005. “Chapter 9” é um grande disco, do qual pincei a faixa de introdução: 'The man from the oldest building'.
Provavelmente devo ser o único a não demonstar tanto entusiasmo com o mais recente cd da Mart’nalia, uma artista – na minha opinião - essencial na estrada da MPB desta década. “Madrugada” é provavelmente o disco mais “internacional” da cantora, o mais liso / limpo, com produção caprichada e tudo. E é isso que me causa um certo problema... parece o disco de uma artista que “se estabeleceu” de vez… De novo, só percebo a genuidade e a malícia que me seduzem na cantora em faixas como 'Ela é minha cara' (Celso Fonseca / Ronaldo Bastos). Mart’nalia também acertou nas versões de 'Sai dessa'(Nathan Marques e Ana Terra) - que passei nas ondas – “Sem dizer adeus” (Moska) e a bela 'Alegre Menina' (Dori Caymmi / Jorge Amado). Talvez a Mart’nalia devesse ter ousado envolver-se um pouco mais nas composições, pois ela já provou seu senso agudo para as melodias irresistíveis. Aqui, nada do calibre de 'Benditas', 'Entretantos', 'Pretinhosidades' ou 'Chega' Enfim: eu esperava mais desse álbum , que fica, de qualquer forma, acima da média dos lançamentos em geral.
Fã do Zeca Baleiro desde o primeiro acorde, apresentei a faixa 'Madureira', bem típica do mundo “baleirista” (que horror, esse neologismo!) e uma das canções do divertido “O Coração do Homen-bomba”, esse ainda bem no espírito dos seus “Bailes do Baleiro” - show que ele levou Brasil afora em 2007. Deixo mais reflexões sobre esse álbum para um post que aborde a entrevista que o artista me concedeu. Um disco bom, porém não tão essencial quanto “Stefen Fry”, “Líricas” ou “Pet shop”.
Veiculei também, como novidade deste ano, 'Quanto tempo' canção leve do conjunto Doces Cariocas, que reúne artistas como Pierre Aderne, Alexia Bomtempo, Dadi, os irmãos Lancelotti… enfim, integrantes dessa “new wave” chique carioca.
Como até mostra a capa, o disco, feito um doce, poderia ser comprado numa confetaria. Muito agradável, leve e despretensioso – passeando entre sambinhas, baladas pop e bossa nova. Mas afinal, um disco talvez mais consistante do que o parece.
Como até mostra a capa, o disco, feito um doce, poderia ser comprado numa confetaria. Muito agradável, leve e despretensioso – passeando entre sambinhas, baladas pop e bossa nova. Mas afinal, um disco talvez mais consistante do que o parece.
Eu já conhecia o perfil da Suely Mesquita através dos trabalhos do Pedro Luis, da Fernanda Abeu e do Moska, e do seu primeiro disco "Sexo puro" (2002) mas foi uma satisfação perceber um rosto e uma voz nessa excelente compositora, quando a vi no “Alegro bistrô” de Copacabana, em agosto passado. E seu novo trabalho, “Microswing”, foi uma das boas surpresas do estoque de discos que trouxe aqui para a Europa. Quer dizer, o álbum não soa perfeito, e tem lá suas fraquezas, mas o achei tocante e humano. Provavelmente por causa da voz muito pessoal da Suely, que alterna entre o pop, o blues, ou até o folk... mas que nao hesita em flertar com o samba. Não resisti e toquei no ar a irresistível 'Zona e progresso', parceria com o Pedro Luis, e faixa título do disco desse último, de 2001.
E até o próximo programa, no dia 6 de outubro, segunda-feira agora! (Para saber como acessar, podem dar uma olhada no post do 23/09...)
10 commentaires:
Salut Daniel,
je suis un producteur brésilien et je serais en France en Novembre. Je voulais savoir si tu es là pendant la premiere semaine de novembre pour qu'on puisse nous rencontrer. J'imagine que tu connais au moins une des mes artists, car Andreia Dias ouvre Chill Brazil 5. Je n'ai pas ton address email, tu peux m'écrire au flabreu@scubidu.com.br
A plus!
Flavio
www.scubidu.com.br
Daniel, please do not forget my request: "Cabra Pentium", by Totonho & os Cabra!
Kisses
OK, Scubidu...te escrevo jaja, abraço...
I will do it Jane! I can even play all the record if you want to...!!rsrs See ya!
Olá aniel,
Voltei agora com mais tempo para ler-te e tive uma surpresa.Agora leio um post em português e ouço uma rádio em francês música de qualidade brasileira.Parabéns pela seleção escolhida.Amei!
Daniel, fiquei emocionada com a transmissão de ontem ... Abrir e fechar com um "tema" do Yamandú e seu violão "sujo" foi genial ... e Nando Reis, Zeca Baleiro...
Sobre Totonho & Os Cabra:
sem palavras ... obrigada, de coração! Uma seleção maravilhosa, diversificada, e você em forma total. Mal senti o tempo passar - estava trabalhando no PC e deixei rolar - e as tuas explicações foram introduzidas com muita propriedade e charme. Parabéns!Bjs.
Olá Daniel!!!!
Quando cheguei em casa ontem, o programa já tinha começado, mas deu pra ouvir muita coisa ainda!
Gostei muito!!!!! Vc fez uma salada musical muito gostosa...muito "rádio"...FM de alta qualidade!
Tenha certeza que serei um ouvinte fiel...e vou, depois, falar um pouco mais do seu projeto lá no meu blog...
Parabéns, amigo!!!!
Abração
Aghata, Olga, Cal, que bom que condeguiram escutar atraves do site da radio!! E sempre uma coisa estranha de saber que sua propria voz passa a 10.000 km do estudio da estaçao, debaixo de um outro céu, e num outro momento do dia: aqui a metade do continente dormindo, e vocés, voltando (provavelmente) do trabalho...Obrigado a todos...
Oi,
Gostei muito do timbre da tua voz sem falar q ouvi tudo muito limpo,nenhum ruído,nada.
Parabéns.
Ola Daniel, eu adorei o teu blog, achei mto bacana, adoro musica popular brasileira e fico mto feliz de ver alguem q nao esta no Brasil escrevendo sobre musica. Tb tenho um blog, www.aventurasmusicaisdemisterteles.blogspot.com, visite tb, abracao pra vc e tudo de bom! Parabens pelo blog!
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