samedi 13 juin 2009

BRASIL, 20 ANOS: « Se fizer bom tempo amanhã… »*

Rio nao é sempre um cartão postal (foto Pablo Jacob)

(* « Maricotinha »- Dorival Caymmi)

(texto traduzido do post precedente)

« A vida, companheiro… A vida é a arte do encontro », como disse o poeta Vinicius de Moraes. Eu aderi sem restrições a essa máxima, genial por tamanha verdade e simplicidade. De minha parte, eu poderia parodiá-la humildemente, ao escrever, queridos amigos, que a vida é às vezes a arte de prever como será o tempo amanhã. Eu sei... Essa minha versão não tem a mesma força poética, mas há exatamente 20 anos que os primeiors raios de sol que surgiram na manhã de 13 de junho de 1989, não surgiram apenas para agradar o povo amável, como também vieram para mudar radicalmente a minha vida...
Em março de 1989, eu e um colega legal havíamos decidido empreender nossa primeira viagem exótica. Eu entendo por tal, algo para além das fronteiras européias : um tipo de viagem iniciática em busca de uma cultura verdadeiramente incomum.
Nenhuma idéia nos veio à mente, mas um outro cara que tinha acabado de chegar do Rio de Janeiro nos fez imaginar a cidade como um lugar sempre em festa, onde o paraíso estaria à nossa disposição por alguns trocados. Ele coloriu sua descrição com alguns elementos pesuasivos como as caipirinhas, as praias com seus coqueiros (é mesmo ?!?) e as brasileiras todas clonadas a partir de Gisèle Bunschen e Thaís Araújo. E de fato, com uma inflação galopante na ocasião – quase surrealista ! – todos os preços para o turista pareciam ridiculamente baixos mesmo.
Muito sinceramente, a idéia do Brasil não me encantou muito. As fotos dos panfletos mostrando as pistas ao longo das praias (da Avenida Atlântica, em Copacabana ; e da Vieira Souto, em Ipanema) me pareciam bastante desagradáveis. Em resumo : para mim, os brasileiros eram um bando de loucos simpáticos que se maquiavam escandalosamente e que, uma vez por ano, faziam barulho no Caranaval. Aquilo que se dizia ser o samba – o que parecia ser – eu achava simplesmente insuportável depois de ouvir por dois minutos. Musicalmente, enquanto eu bebia da fonte do rock alternativo e do soul norteamericanos, minha mãe escutava na sala um certo Sergio Mendes & Brasil 66, que eu comparava ao tipo de música que se poderia ouvir nos shows de Las Vegas. Havia também os dois álbuns « Vinicius & Toquinho en la fusa » (1971), com Maria Bethânia e Maria Creuza ; e para ser franco, eu achava a Bossa Nova insípida – sem nuance e particularmente enfadonha… Esses dois álbuns viriam a se tornar um pouco mais tarde as minhas « tábuas dos dez mandamentos »... O primiro degrau de uma escada sem fim (puxa! Bela imagem, não é ?)…
Com relação à viagem, apático e sem imaginação, concordei então em ir para o Rio, imaginando que um dia eu poderia falar dessa agradável excursão a meus futuros filhos... ou aos filhos dos outros. « Rio ? É preciso ir lá uma vez na vida». À parte o fato de que logo contarei 40 viagens ao Brasil.

Nós desembarcamos no aeroporto do Galeão, no dia 10 de junho de 1989, e desde então, um dilúvio nos acolheu francamente. Eu não preciso explicar a vocês que atravessar a zona norte cercada de favelas pela primeira vez nessas condições nos parecia mais próximo do apocalypse de um pós-guerra do que propriamente da descoberta de um Paraíso perdido... Chegando ao Hotel Excelsior de Copacabana (então em reforma), constatamos que sair de lá seria uma missão impossível, de tanta água cobrindo as ruas. E a situação não mudou pelos próximos dois e três dias. Minhas atividades ficaram reduzidas ao vai-e-vem entre o bar de reputação duvidosa e a televisão que transmitia o programa do Faustão (extremamente traumatizante para quem ainda não conhecia !), que gritava num idioma o qual eu não compreendia uma palavra sequer. Havia também a janela de onde eu não via o Redentor, mas sim uma nesga de mar e alguns cogumelos onde se lia « Coca-Cola » : as barracas de sol plantadas nas varandas vazia. A depressão extrema!
Menos paciente do que eu, meu colega de quarto me comunica então rancorosamente que se nada mudasse, ele não via razão alguma para ficar um dia a mais sequer vivendo tamanho pesadelo. Pelo meu lado, eu tinha poucos argumentos para confrontá-lo. O céu parecia fechado como um nariz entupido de gripe, e nós já tínhamos arrumado nossa bagagem naquela tarde de 12 de junho. Mas então, alguma coisa aconteceu durante a noite... Uma reunião secreta entre os Orixás cheios de misericórda ? O fato é que na manhã do dia 13, o céu se abriu a mim como o mar a Moisés, e um sol radiante expulsou nosso humor melancólico. « The rest is history » - O resto é história, como se diz ; ou, mais humildemente, faz parte da minha história. No limite de voltar para casa decididos a definitivamente nunca mais voltarmos um dia ao Brasil, nós ficamos 3 semanas ; e muito em breve, no que me diz respeito, serão quase 40 viagens em 20 anos.
Na verdade, na ocasião, eu não tinha ainda sido radicalmente contaminado pelo vírus da música brasileira ; mas ele infiltrou-se insidiosamente em mim, à espera de um sinal...
No meu retorno à Bélgica, algumas boas almas me ofereceram ingressos para assistir aos shows de Maria Bethânia, assim como de João Gilberto, que se apresentavam no Palácio de Belas Artes de Bruxelas (Palais des Beaux Arts de Bruxelles), dentro da programação do festival « Viva Brasil ». E aí sim, a doce obssessão se revelaria, tomando conta de todo o meu ser... E a visita de um exorcista não é nada urgente...
P.S. : Devo apresentar as minhas desculpas por uma das frases citadas anteriormente nesse post : eu já pude encontrar alguns brasileiros sem maquiagem ; e pensando bem, eles fazem barulho ao longo do ano inteiro..!


1 commentaire:

Anonyme a dit…

Oi Dani , mais um post muito bom , bem traduzido e bem escrito. parabéns pelo o novo visual do Blog, cada vez melhor , continuo torcendo por vc. Tuka

CE BLOG EST DÉDIÉ AUX CURIEUX QUI AIMERAIENT CONNAÎTRE L'ART ET LA MUSIQUE POPULAIRE BRÉSILIENNE. UNE OCCASION POUR LES FRANCOPHONES DE DÉCOUVRIR UN MONDE INCONNU OU IL EST DE MISE DE LAISSER SES PRÉJUGES AU VESTIAIRE.