Vitalino Pereira dos Santos
e uma das suas mais tradicionais figurinas: o boi.
e uma das suas mais tradicionais figurinas: o boi.
(Texte français plus bas)
(texto traduzido do post precedente em francês com mais fotos e videos)
Alguém pode se perguntar por que depois de quase um ano e meio, esse blog tem a pretensão de intitular-se pomposamente « Art et Musique Populaire Brésilienne ».
É verdade que, no início, a idéia era a de compartilhar não somente a minha paixão pelas músicas do Brasil, mas também pela Arte Popular Brasileira, que eu considero a arte que verdadeiramente reflete a identidade desse país. Para tanto, eu havia criado um segundo blog (exclusivamente em francês, aqui, sob a coluna à direita dessa página) para o qual eu não tive tempo ainda de dedicar nada além do que um texto introdutório. No entanto, para acrescentar uma nova cor a esse blog essencialmente musical, eu considero interessante falar também de artes plásticas –de vez em quando- partindo do princípio de que as artes – quando elas atingem um patamar de qualidade – são por essência interligadas.
Nesses últimos anos, o interesse pelos mais famosos representantes da Arte Popular Brasileira não fez mais do que aumentar e – em conseqüência – idem suas cotações nas galerias e casas de leilões. Seus valores de mercado acompanham hoje de perto aqueles das pinturas e esculturas classificadas como eruditas que – em sua maioria – bebem mais nas fontes estrangeiras do que na cultura do seu próprio país. As belas esculturas em madeira de Artur Pereira e de GTO – proeminentes artistas populares – podem chegar facilmente a valores que vão de 15 a 20.000 euros (de 40 a 60.000 reais), enquanto que as estatuetas pintadas de Vitalino do início dos anos cinqüenta chegam sob o martelo dos grandes leiloeiros a 3 ou 4.000 euros (8 a 10.000 reais). Algumas peças desse mesmo artista que já pertenceram à coleção do escritor Jorge Amado, foram arrematadas por 8.000 euros, em dezembro de 2008.
Minha paixão pela arte popular brasileira me veio naturalmente pelo viés da música e de suas letras, reflexo dos diferentes temas concernentes a cada região do país. Dessa mesma forma, dentro das telas de Heitor dos Prazeres (1898-1966), eu captei o frenesi dos pagodes (reuniões de sambistas), assim como através das esculturas de Vitalino, me vieram à mente todo o cotidiano e o imaginário das regiões agrárias do Nordeste, cantadas à mesma época por Luiz Gonzaga (1912-1989).
Através de sua arte, Vitalino Pereira dos Santos foi o primeiro a se constituir cronista de sua época e de sua região, tão rica em tradições e festas, tanto religiosas quanto pagãs. Como já foi comentado anteriormente nesse blog, um espaço-galeria dedicado à Arte Popular Brasileira (mas também portuguesa) está sendo elaborado no momento em Bruxelas, com vistas à sua inauguração em 2010. Mas hoje, como o Brasil comemora o centenário desse grande artista que é Vitalino Pereira dos Santos, eu não poderia perder a oportunidade de lembra-lo. Vitalino é uma figura emblemática do Brasil, cuja obra faz parte do currículo pedagógico do ensino geral das escolas primárias. Ele é simplesmente o primeiro nome que vem como referência do espírito brasileiro, quando se trata de evocar a Arte popular, que não é outra senão aquela com « A » maiúsculo.
Eu recomendo que vocês leiam aqui, abaixo, o texto escrito pela jornalista Leticia Lins - publicado no site « Globoonline » - enumerando as festividades e homenagens organizadas para honrar esse grande mestre.
« RECIFE e SÃO PAULO - A revista americana Time publicou na edição de 1º de fevereiro de 1963 a notícia da morte de um importante artista plástico brasileiro. O artista era o pernambucano Vitalino Pereira dos Santos, conhecido no Brasil como Mestre Vitalino, o homem que dava vida ao barro. Nesta sexta-feira, Pernambuco e todo o país lembram os cem anos de nascimento do artista. Em São Paulo, considerada a maior cidade nordestina do país, estão programados shows para o Centro de Centro de Tradições Nordestinas, neste domingo. A Banda de Pífanos de Caruaru se apresenta ao lado de Valdeck de Garanhuns, seu Jorge do Rastapé e a quadrilha Asa Branca. Pernambuco também comemora a data com uma série de homenagens aquele que foi o primeiro artesão do estado a imortalizar no barro os tipos populares do Nordeste: as bandinhas de pífano, os caçadores, os emigrantes, os vaqueiros. Ele viveu no Alto do Moura, no município de Caruaru, a 130 quilômetros de Recife e deixou uma multidão de discípulos que fazem hoje do manipular o barro o seu meio de vida. Calcula-se que só em Caruaru 500 pessoas vivem desse tipo de artesanato. No Alto do Moura está a casa museu onde Vitalino viveu e onde seus filhos dão continuidade ao seu ofício. É lá que acontecem as principais comemorações para lembrar o Mestre, que era também um tocador de pífano - o pife, como dizem os nordestinos da caatinga. Vitalino ganha selo dos correios e também ganha a Medalha comemorativa do centenário, instituída pela Casa da Nieda do Brasil. Além disso, no Alto do Moura, desfilam 26 grupos folclóricos. Para assinalar a data, ainda, Caruaru estendeu seus festejos juninos até esta sexta. O artista também ganha estátua em frente à casa onde residiu e os moradores de Caruaru verão de graça o espetáculo "As Sete Luas de Barro", que conta a trajetória de Vitalino para a fama e os choques culturais que enfrentou ao viajar para cidades grandes como o Rio de Janeiro. Em Recife, a Feira Nacional de Negócios do Artesanato também presta homenagem ao Mestre e para divulgá-la, o Governo de Pernambuco colocou estátuas gigantes dos bonecos do mestre nas principais vias da Cidade. A décima edição da Fenearte se encerra nesse final de semana. Mestre Vitalino nasceu no dia 10 de julho de 1909, na zona rural de Caruaru e morreu de varíola, aos 54 anos.Na cidade, coleções de obras do mestre estão em exposição permanente no museu do barro e no de arte popular. Neste ano do centenário, foram montadas ainda duas mostras de fotografias, uma com recriações de casas de barro, e outra no Recife, com fotos de Vitalino feitas pelo francês Pierre Verger, em 1947. »
Nesses últimos anos, o interesse pelos mais famosos representantes da Arte Popular Brasileira não fez mais do que aumentar e – em conseqüência – idem suas cotações nas galerias e casas de leilões. Seus valores de mercado acompanham hoje de perto aqueles das pinturas e esculturas classificadas como eruditas que – em sua maioria – bebem mais nas fontes estrangeiras do que na cultura do seu próprio país. As belas esculturas em madeira de Artur Pereira e de GTO – proeminentes artistas populares – podem chegar facilmente a valores que vão de 15 a 20.000 euros (de 40 a 60.000 reais), enquanto que as estatuetas pintadas de Vitalino do início dos anos cinqüenta chegam sob o martelo dos grandes leiloeiros a 3 ou 4.000 euros (8 a 10.000 reais). Algumas peças desse mesmo artista que já pertenceram à coleção do escritor Jorge Amado, foram arrematadas por 8.000 euros, em dezembro de 2008.
Minha paixão pela arte popular brasileira me veio naturalmente pelo viés da música e de suas letras, reflexo dos diferentes temas concernentes a cada região do país. Dessa mesma forma, dentro das telas de Heitor dos Prazeres (1898-1966), eu captei o frenesi dos pagodes (reuniões de sambistas), assim como através das esculturas de Vitalino, me vieram à mente todo o cotidiano e o imaginário das regiões agrárias do Nordeste, cantadas à mesma época por Luiz Gonzaga (1912-1989).
Através de sua arte, Vitalino Pereira dos Santos foi o primeiro a se constituir cronista de sua época e de sua região, tão rica em tradições e festas, tanto religiosas quanto pagãs. Como já foi comentado anteriormente nesse blog, um espaço-galeria dedicado à Arte Popular Brasileira (mas também portuguesa) está sendo elaborado no momento em Bruxelas, com vistas à sua inauguração em 2010. Mas hoje, como o Brasil comemora o centenário desse grande artista que é Vitalino Pereira dos Santos, eu não poderia perder a oportunidade de lembra-lo. Vitalino é uma figura emblemática do Brasil, cuja obra faz parte do currículo pedagógico do ensino geral das escolas primárias. Ele é simplesmente o primeiro nome que vem como referência do espírito brasileiro, quando se trata de evocar a Arte popular, que não é outra senão aquela com « A » maiúsculo.
Eu recomendo que vocês leiam aqui, abaixo, o texto escrito pela jornalista Leticia Lins - publicado no site « Globoonline » - enumerando as festividades e homenagens organizadas para honrar esse grande mestre.
« RECIFE e SÃO PAULO - A revista americana Time publicou na edição de 1º de fevereiro de 1963 a notícia da morte de um importante artista plástico brasileiro. O artista era o pernambucano Vitalino Pereira dos Santos, conhecido no Brasil como Mestre Vitalino, o homem que dava vida ao barro. Nesta sexta-feira, Pernambuco e todo o país lembram os cem anos de nascimento do artista. Em São Paulo, considerada a maior cidade nordestina do país, estão programados shows para o Centro de Centro de Tradições Nordestinas, neste domingo. A Banda de Pífanos de Caruaru se apresenta ao lado de Valdeck de Garanhuns, seu Jorge do Rastapé e a quadrilha Asa Branca. Pernambuco também comemora a data com uma série de homenagens aquele que foi o primeiro artesão do estado a imortalizar no barro os tipos populares do Nordeste: as bandinhas de pífano, os caçadores, os emigrantes, os vaqueiros. Ele viveu no Alto do Moura, no município de Caruaru, a 130 quilômetros de Recife e deixou uma multidão de discípulos que fazem hoje do manipular o barro o seu meio de vida. Calcula-se que só em Caruaru 500 pessoas vivem desse tipo de artesanato. No Alto do Moura está a casa museu onde Vitalino viveu e onde seus filhos dão continuidade ao seu ofício. É lá que acontecem as principais comemorações para lembrar o Mestre, que era também um tocador de pífano - o pife, como dizem os nordestinos da caatinga. Vitalino ganha selo dos correios e também ganha a Medalha comemorativa do centenário, instituída pela Casa da Nieda do Brasil. Além disso, no Alto do Moura, desfilam 26 grupos folclóricos. Para assinalar a data, ainda, Caruaru estendeu seus festejos juninos até esta sexta. O artista também ganha estátua em frente à casa onde residiu e os moradores de Caruaru verão de graça o espetáculo "As Sete Luas de Barro", que conta a trajetória de Vitalino para a fama e os choques culturais que enfrentou ao viajar para cidades grandes como o Rio de Janeiro. Em Recife, a Feira Nacional de Negócios do Artesanato também presta homenagem ao Mestre e para divulgá-la, o Governo de Pernambuco colocou estátuas gigantes dos bonecos do mestre nas principais vias da Cidade. A décima edição da Fenearte se encerra nesse final de semana. Mestre Vitalino nasceu no dia 10 de julho de 1909, na zona rural de Caruaru e morreu de varíola, aos 54 anos.Na cidade, coleções de obras do mestre estão em exposição permanente no museu do barro e no de arte popular. Neste ano do centenário, foram montadas ainda duas mostras de fotografias, uma com recriações de casas de barro, e outra no Recife, com fotos de Vitalino feitas pelo francês Pierre Verger, em 1947. »
1 commentaire:
Belo post, Daniel !
Mestre Vitalino sempre me impressionou tanto pela expressividade de suas peças quanto pela sua consciência social e generosidade. Conta-se que, já famoso, quando questionado sobre a cópia exaustiva de sua "marca", ele respondeu simplesmente que, além de considerar uma homemagem a si próprio, achava justo que outros seguissem seus passos ... "porque afinal, todos precisam trabalhar para comer." Ele mesmo ensinou não só aos filhos de sangue a sua arte, mas a muitos outros, que multiplicaram sua idéia original.
Na feira de Caruaru, em cada peça de barro, pintada ou não, da mais tosca à mais elaborada, pulsa a alma de Vitalino, Mestre no melhor molde daqueles das primeiras corporações de ofícios.
Bjs.
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