(texto português em baixo)
C’est en 1997 que j’ai pris connaissance pour la première fois du nom de Lula Queiroga sur l’album « O Dia em que faremos contato » de Lenine, un disque qui avait bousculé certaines de mes certitudes musicales.
Lula Queiroga apparaissait aux crédits de plusieurs titres. Parmi ceux-ci, le rageur Dois olhos negros dont il était l’unique auteur, un rock viscéral et tribal à la ligne mélodique tortueuse, délivré sans concession par Lenine.
Par la suite, en cherchant bien, je retrouvais « Baque solto » (1983), premier essais discographique signé par les deux compères qui ne présageait en rien du son qu’ils allaient nous livrer par la suite.
Lenine connut une reconnaissance nationale et internationale vers la fin des années 90, tandis que Lula Queiroga, se cantonnait à une carrière plus discrète, surtout dédié à la composition pour autrui. Il lança cependant les très estimés « Aboiando a vaca mecânica » (2001) et « Azul Invisivel vermelho cruel » (2004), disques que je n’ai jamais eu la chance d’avoir entre les mains. Cependant certains des titres inclus dans ces albums –et d’autres de ses compositions- se retrouvèrent aux répertoires de Ney Matogrosso, Zizi Possi, Elba Ramalho, Zélia Duncan, Virginia Rosa, Paula Morelenbaum, et bien d’autres.
Plus récemment, ce furent Belo estranho dia de amanhã sur le dernier album de Roberta Sá (2007) et Tem juizo mas não usa , la meilleure plage de « Ponto enredo » (2008) de Pedro Luis e a Parede, qui attirèrent mon attention. Je fus surpris de voir que ces deux titres –parmi les plus joués sur Tropicália- étaient issus du même esprit créateur. L’une une bossa délicate, l’autre une samba rock vénéneuse et irrésistible. Elles sont d’ailleurs inclues dans des versions quelque peu distinctes sur le nouvel album de Lula Queiroga, "Tem juizo mas não usa", du même titre composé avec Pedro Luis.
Bien sûr, Lenine et Lula Queiroga ont bu aux mêmes sources sonores : le rock, l’électro, l’afrocyber culture de Chico Science et à l’héritage ancestral du Pernambuco. Cependant les deux artistes ont des personnalités bien différentes. Physiquement, sur scène ou vocalement, Lenine possède cette attitude primale, et une sauvagerie instinctive qui ne sont pas le propre de Queiroga, artiste à la posture plus intellectuelle. D’où une projection médiatique visuelle plus évidente pour Lenine.
Mais Lula possède en main une palette harmonique bien plus riche en termes de composition, ainsi qu’une volonté constante de recherche quant à l’instrumentation. Pour résumé, je dirais que Lula Queiroga aurait pu composer chacun des titres de Lenine, mais que l’inverse est peu probable. Lenine est un troubadour moderne, un interprète sans égale, maître de sa guitare percussive et des atmosphères musicales qu’il veut installer. Qu’elles soient angoissantes, orageuses ou parfois méditatives.
Il reste tout simplement plus rock que son « gémeaux » de Recife.
Mais Lula possède en main une palette harmonique bien plus riche en termes de composition, ainsi qu’une volonté constante de recherche quant à l’instrumentation. Pour résumé, je dirais que Lula Queiroga aurait pu composer chacun des titres de Lenine, mais que l’inverse est peu probable. Lenine est un troubadour moderne, un interprète sans égale, maître de sa guitare percussive et des atmosphères musicales qu’il veut installer. Qu’elles soient angoissantes, orageuses ou parfois méditatives.
Il reste tout simplement plus rock que son « gémeaux » de Recife.
De son côté, Lula Queiroga est un inventeur de sons contemporains, un expérimentateur, pas très éloigné parfois de certains avant-guardistes de São Paulo (je pense à André Abujamra, à Itamar Assumpção pour certaines lignes mélodiques saccadées, voire à Arnaldo Antunes dans ses intonations). C’est ce mélange peu définissable, qui emprunte à une multitude d’influences passionantes, que Lula Queiroga nous offre dans « Tem juizo mas não usa ». À chaque écoute, il nous livre de nouvelles surprises aux entournures de chaque ligne mélodique. Il est trop tôt pour dire si l’album sera une des meilleures productions de l’année, mais il sera difficile de faire plus contemporain.
LULA QUEIROGA: « Tem juizo mas não usa » (Luni prod.)
(texto português traduzido do francês, destinado aos leitores aprendizes)
Pequeno estudo comparado : Lula Queiroga e Lenine.
En vidéo: LULA QUEIROGA (live): « Tem juizo mas não usa » (Pedro Luis/ Lula Queiroga)
LENINE: "Dois olhos negros" (live MTV") (Lula Queiroga)
LULA QUEIROGA: « Tem juizo mas não usa » (Luni prod.)
(texto português traduzido do francês, destinado aos leitores aprendizes)
Pequeno estudo comparado : Lula Queiroga e Lenine.
Foi em 1997 que eu tomei conhecimento pela primeira vez do nome de Lula Queiroga, através do álbum « O Dia em que faremos contato », de Lenine ; um disco que veio balançar algumas de minhas certezas musicais. Um verdadeiro choque…
Lula Queiroga aparecia nos créditos de diversas faixas. Dentre algumas, Dois olhos negros , do qual ele é o único autor : um rock visceral e tribal, de linha melódica tortuosa, executado sem concessões por Lenine.
Na sequência, procurando bem, eu reencontrei « Baque solto » (1983), primeiro ensaio discográfico assinado pelos dois amigos de longa data, que ainda não nos mostrava o som com o qual eles iriam nos invadir, 10 anos depois.
Lenine é senhor de um reconhecimento nacional e internacional desde o final dos anos 90, enquanto que Lula Queiroga encastelou-se numa carreira mais discreta, dedicada sobretudo à composição para terceiros. Mas ele lançou, em paralelo, os apreciados « Aboiando a vaca mecânica » (2001) e « Azul Invisivel vermelho cruel » (2004), discos que eu jamais tive a oportunidade de ter em mãos. Porém, alguns títulos constantes desses álbuns - além de outras de suas composições – nos trazem de volta aos repertórios de Ney Matogrosso, Zizi Possi, Elba Ramalho, Zélia Duncan, Virginia Rosa, Paula Morelenbaum, além de outros.
Mais recentemente, foram Belo estranho dia de amanhã, do mais recente álbum de Roberta Sá (2007) ; e Tem juizo mas não usa (Lula Queiroga/ Pedro Luis), a melhor faixa de « Ponto enredo » (2008), de Pedro Luis e a Parede, que me chamaram a atenção. Eu me surpreendi ao verificar que esses dois títulos – dentre os mais tocados no Tropicália – são resultado do mesmo espírito criativo. O primeiro é uma bossa delicada ; o outro um samba-rock « envenenado » e irresistível. Essas faixas estão também inclusas, sob versões um pouco diferentes, dentro de « Tem juizo mas não usa », terceiro disco de Lula, que acabou de sair.
Na verdade, Lenine e Lula Queiroga beberam das mesmas fontes sonoras : do rock, do eletro, da cultura afrocyber do Mangue Beat, e da herança ancestral de Pernambuco. Não obstante, os dois artistas têm personalidades bem diferentes. Fisicamente, em cena ou vocalmente, Lenine é dono de uma atitute primal e de uma selvageria instintivas, que não são próprias de Queiroga - artista de postura mais intelectual. Daí uma projeção midiática visual mais evidente para Lenine.
Mas Lula tem nas mãos uma paleta harmônica bem mais rica em termos de composições, bem como um impulso constante de proceder à pesquisa instrumental. Em resumo, eu diria que Lula Queiroga poderia ter composto qualquer título de Lenine, mas o inverso é pouco provável. Lenine é um trovador moderno, um intérprete sem igual ; mestre de sua guitarra percussiva e das atmosferas musicais que ele pretende criar. Quer elas soem angustiantes, tempestuosas, ou por vezes meditativas.
Resta-lhe simplesmente mais rock do que seu « gêmeo » de Recife.
Por seu lado, Lula Queiroga é um inventor de sons contemporâneos, um experimentador, não tão distante assim de certos vanguardistas de São Paulo (eu penso em André Abujamra ou Itamar Assumpção para certas linhas melódicas mais bruscas, à maneira de Arnaldo Antunes em suas entonações), ou em Portugal, Pedro Abrunhosa. É essa mistura, meio indefinida, que conduz a uma multiplicidade de influências apaixonantes, e que Lula Queiroga nos oferece em « Tem juizo mas não usa ». A cada vez que se ouve, ele nos aponta novas surpresas através dos contornos de cada linha melódica. Ainda é muito cedo para dizer se esse álbum será uma da melhores produções do ano, mas será difícil que se faça algo mais comtemporâneo.
Lula Queiroga aparecia nos créditos de diversas faixas. Dentre algumas, Dois olhos negros , do qual ele é o único autor : um rock visceral e tribal, de linha melódica tortuosa, executado sem concessões por Lenine.
Na sequência, procurando bem, eu reencontrei « Baque solto » (1983), primeiro ensaio discográfico assinado pelos dois amigos de longa data, que ainda não nos mostrava o som com o qual eles iriam nos invadir, 10 anos depois.
Lenine é senhor de um reconhecimento nacional e internacional desde o final dos anos 90, enquanto que Lula Queiroga encastelou-se numa carreira mais discreta, dedicada sobretudo à composição para terceiros. Mas ele lançou, em paralelo, os apreciados « Aboiando a vaca mecânica » (2001) e « Azul Invisivel vermelho cruel » (2004), discos que eu jamais tive a oportunidade de ter em mãos. Porém, alguns títulos constantes desses álbuns - além de outras de suas composições – nos trazem de volta aos repertórios de Ney Matogrosso, Zizi Possi, Elba Ramalho, Zélia Duncan, Virginia Rosa, Paula Morelenbaum, além de outros.
Mais recentemente, foram Belo estranho dia de amanhã, do mais recente álbum de Roberta Sá (2007) ; e Tem juizo mas não usa (Lula Queiroga/ Pedro Luis), a melhor faixa de « Ponto enredo » (2008), de Pedro Luis e a Parede, que me chamaram a atenção. Eu me surpreendi ao verificar que esses dois títulos – dentre os mais tocados no Tropicália – são resultado do mesmo espírito criativo. O primeiro é uma bossa delicada ; o outro um samba-rock « envenenado » e irresistível. Essas faixas estão também inclusas, sob versões um pouco diferentes, dentro de « Tem juizo mas não usa », terceiro disco de Lula, que acabou de sair.
Na verdade, Lenine e Lula Queiroga beberam das mesmas fontes sonoras : do rock, do eletro, da cultura afrocyber do Mangue Beat, e da herança ancestral de Pernambuco. Não obstante, os dois artistas têm personalidades bem diferentes. Fisicamente, em cena ou vocalmente, Lenine é dono de uma atitute primal e de uma selvageria instintivas, que não são próprias de Queiroga - artista de postura mais intelectual. Daí uma projeção midiática visual mais evidente para Lenine.
Mas Lula tem nas mãos uma paleta harmônica bem mais rica em termos de composições, bem como um impulso constante de proceder à pesquisa instrumental. Em resumo, eu diria que Lula Queiroga poderia ter composto qualquer título de Lenine, mas o inverso é pouco provável. Lenine é um trovador moderno, um intérprete sem igual ; mestre de sua guitarra percussiva e das atmosferas musicais que ele pretende criar. Quer elas soem angustiantes, tempestuosas, ou por vezes meditativas.
Resta-lhe simplesmente mais rock do que seu « gêmeo » de Recife.
Por seu lado, Lula Queiroga é um inventor de sons contemporâneos, um experimentador, não tão distante assim de certos vanguardistas de São Paulo (eu penso em André Abujamra ou Itamar Assumpção para certas linhas melódicas mais bruscas, à maneira de Arnaldo Antunes em suas entonações), ou em Portugal, Pedro Abrunhosa. É essa mistura, meio indefinida, que conduz a uma multiplicidade de influências apaixonantes, e que Lula Queiroga nos oferece em « Tem juizo mas não usa ». A cada vez que se ouve, ele nos aponta novas surpresas através dos contornos de cada linha melódica. Ainda é muito cedo para dizer se esse álbum será uma da melhores produções do ano, mas será difícil que se faça algo mais comtemporâneo.
En vidéo: LULA QUEIROGA (live): « Tem juizo mas não usa » (Pedro Luis/ Lula Queiroga)
LENINE: "Dois olhos negros" (live MTV") (Lula Queiroga)
5 commentaires:
Muito boa a idéia de comparar dois artistas de uma mesma geração, Daniel! Gostaria de sugerir, pois você certamente tem o conhecimento necessário para a tarefa, a comparação das carreiras de jovens artistas filhos de outros artistas da música popular brasileira: Moreno Veloso, Bena Lobo, Maria Rita, Bebel Gilberto, Diogo Nogueira, Davi Moraes, etc. Só para fazer uma saudável comparação com outra paixão brasileira, digo - sem medo de errar - que em toda a história do futebol brasileiro só houve um craque filho de craque: Ademir da Guia, filho de Domingos da Guia. E na mpb, haverá algum candidato real a ser também craque filho de craque? Aguardo sua opinião. Um abraço!
Oi Daniel, cada vez mais escrevendo melhor, parabéns as colunas estão sempre em bom 'Tom". As vezes me dá a impressão que vc mora aqui ou nasceu por perto.
Tuka
Acho muito bom sua sugestao Marcio!Ja outros nomes me vieram na cabeça...Vou pensar neste assunto seriamente. Seria muito interessante para os leitores de linhgua francêses! Abraços, Daniel.
Obrigado Tuka, sempre bom ter seu apoio!
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