vendredi 28 mai 2010

Moreira da Silva e o Samba de Breque.


(texte français plus bas, texto português traduzido do francês)

Mesmo que pelo resto do ano eu passe a viver, na Bélgica, dentro de uma bolha hermética, afastado do universo musical em efervescência no Brasil, eu já não vou mais cambalear como um morto de fome todas as noites atrás do primeiro show em cartaz, uma vez tendo retornado ao meu destino. Um bom prato de frios em frente à televisão –mesmo que no meio de uma viagem- não precisa ser algo desagradável. Tanto que uma boa quantidade de canais temáticos difusores de documentários não são absolutamente desprovidos de interesse.
Ontem à noite, a TV Cultura passou uma cinebiografia sobre Moreira da Silva*, conhecido por ter popularizado (ou inventado ?) o samba-de-breque : uma sub-categoria do samba que a nova geração continua a prestigiar, por suas melodias ligeiras e letras pinceladas de humor. Podemos encontrar exemplos nos repertórios de Pedro Miranda, Mariana Baltar, Moyseis Marques, Marcos Sacramento, Aline Calixto, e ainda muitos outros mais.
Ao observar esse documentário, eu refleti e lamentei comigo mesmo pela imagem tão básica que os europeus ainda têm do samba, minimizando-o a esse ritmo frenético –quase irritante quando fora de contexto- dos sambas-enredo, que têm suas divulgações em fevereiro, quando os programas de atualidades das televisões promovem uma volta ao mundo através de imagens das festividades do Carnaval... Com mulatas e paetês em profusão...
Quando eu observava essas imagens anuais –ainda miúdo- eu pensava que o Brasil seria o último lugar sobre a face da Terra para o qual um dia eu viajaria... Pois é !...
Não se conhecem, fora do Brasil, as infinitas variantes do samba, que coexistem, e que se distinguem pelo ritmo, pela instrumentação, e pelas harmonias : samba-batido, samba-chulado, samba-exaltação, samba-corrido, partido-alto, samba-raiado, samba de roda, e ainda outras fusões...

Um dos primeiros sambas-de-breque que eu me lembro ter ouvido foi num momento delicioso do filme « Ópera do Malandro » (Ruy Guerra, 1986, baseado na comédia musical de Chico Buarque), quando o Max Overseas desafia na sinuca um outro malandro rival , sob a canção Desafio do Malandro (Chico Buarque). Essa passagem é um exemplo perfeito desse gênero musical, bem próximo do chorinho em sua cadência (vide o video no texto em francês).
A certa altura do samba, a música pára subitamente, provocando uma curta pausa (break=breque=freio) durante a qual o cantor lança uma frase falada –frequentemente uma nota irônica- que faz a música retomar seu ritmo ainda com mais fôlego.
O break permite, inclusive, a inserção de um passo de dança apropriado. Porém, melhor do que uma explicação teórica, seguem mais abaixo imagens que falam mais explicitamente por si mesmas...


*Moreira da Silva (1902-2000) -carioca da Tijuca- criado no morro do Salgueiro- foi apelidado de « o último malandro », passando a ser também carinhosamente chamado de Kid Morengueira, um de seus personagens, espécie de alter ego de si mesmo em algumas canções.
Para os leitores não brasileiros, esclarecendo : o « malandro », figura mítica do Rio de Janeiro, encarna esse personagem elegante dos anos 1930/ 40, -espécie de bandido simpático- um tanto cafetão e bastante trapaceiro, conhecido pelo seu gosto especial pelas mulheres e pelo samba. Com seu passo cadenciado, ele errava pelos bairros boêmios da cidade, tamborilando com os dedos o ritmo do samba numa caixa de fósforos... Ao menos no imaginário do samba daqueles anos de outrora... !
Na verdade, Moreira da Silva foi sobretudo um trabalhador esforçado, tendo vivido de maneira irrepreensível, cidadão que exerceu diversas profissões. Mas a partir de 1931, Moreira deu início, em paralelo, a uma carreira de cantor e de compositor. Ele faleceu com 98 anos no ano 2000... Mesmo que permaneça ainda, de alguma forma, se apresentando em cena...

1 commentaire:

Unknown a dit…

Sempre gostei do Moringueira, as entrevistas dele eram hilárias,abçs
tuka

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