lundi 26 mai 2008

Carta ao Rio 2008 / 4. Silvia Machete, Paulinho Moska & Eduardo Neves, Pedro Mariano.

Pedro Mariano fazendo musica, jogando charme (foto Daniel A.)

Para a maioria dos artistas brasileiros que passam pela Europa durante nosso verão, Portugal representa quase sempre a porta de entrada para o Velho Continente. Aliás, muitos desses artistas chegam até outras cidades
lusitanas, mas não costumam ultrapassar as fronteiras portucalenses. É natural que Portugal, por suas raízes culturais mais peculiares, não seja representativo dos outros países da comunidade européia.
Então, sempre que posso, dou um pulinho até Lisboa ou à cidade d´O Porto, para checar nomes geralmente já consagrados. Este ano, inclusive, a agenda de shows começa bem recheada, com artistas de alto quilate, como Adriana Calcanhoto, Celso Fonseca, Djavan, Maria Rita, Asa da Águia, Milton Nacimento e Jobim Trio, ou ainda a Rita Lee. E isso é só o começo. Os ingressos para o ‘Pic-nic’ da Rita e para o show ‘Maré’ da Adriana ja estão na minha carteira.
Voltando à série de posts « Carta ao Rio 2008 », que iniciei em 15 de abril, contando minhas andanças pelas casas de shows da cidade maravilhosa, constatei que dessa vez poucos foram os nomes de grande repercussão, além do Milton. Mas foi muito bem assim. Afinal, tive a oportunidade de conferir, ao vivo, talentos que eu já havia « adivinhado » através dos discos.
Eu já conhecia bem, por exemplo, o Lui Coimbra, o Edu Krieger, ou o Tony Platão ; mas fui agradavelmente surpreendido pela Angela Evans, pelo projeto da
Fernanda Takai, e pela « soft bossa » da Marina Machado (ler os posts anteriores).
Ao mesmo tempo, pude verificar a reforma do Teatro Rival, no centro - que para mim perdeu um pouco da sua alma - ou descobrir novas casas como o « Conversa Fiada », na rua Vinucius de Moraes em Ipanema, além do « Lapa 40° ». Não escondo, no entanto, que ainda sinto uma grande saudade do antigo « People » quando era uma casa de show, e isso já faz tempo ; idem do « Ballroom Humaitá », que era bem mais democrático ; e também da « Mistura Fina », quando localizado na Lagoa Rodrigo de Freitas.



Silvia Machete, entre trapezio e bambolé (foto Daniel A.)


Enfim, quando fui assistir aos shows do Milton e da Silvia Machete, fiquei um tanto intrigado ao perceber que não foram feitas grandes modificações no novo local do « Mistura » - agora no mesmo endereço do antigo « Jazzmania ». A bela vista sobre a Vieira Souto e a praia de Ipanema, a partir do Posto Seis, foi preservada ; enfim… quando a gente consegue com algum esforço limpar os vidros das grandes janelas. Só mesmo o palco mudou de lugar, mas ficou ainda pequeno demais para que a Silvia Machete se sentisse totalmente à vontade no seu show de lançamento de « Bomb of love », ao qual assisti no dia 26 de março. Entre o trapézio e o bambolê, o exíguo espaço não permitia que ela se expressasse bem, através de seu show mais performático. Mas prefiro reter na lembrança a forte personalidade da bela voz da cantora, assim como seu timbre cheio de docura e sensualidade. A divertida Silvia é capaz de espalhar seu bom humor através de suas apresentações em estilo circensce pela platéia, sem que isso não se torne um subterfúgio para esconder qualquer fraqueza vocal. Muito pelo contrário. E, ao final, retomando o mega sucesso da Cindy Lauper, ’Girls just wanna have fun’, a Silvia acertou em cheio na escolha de um título que realmente tem a cara dela. Foi a melhor e mais empolgante surpresa da minha viagem. (ler a resenha do disco no post ‘Contando estrelas’, do dia 13 de maio).


Eduardo Neves e Moska no Samba (foto Daniel A.)


Quanto so show do Moska & Eduardo Neves, quase fui barrado no « Lapa 40° », porque tinha esquecido a minha carteira de identidade, que inclusive nunca levo comigo. Parece que não se entra assim, sem lenço e sem documento, num lugar onde se joga sinuca mais a sério. Foi bom saber que ainda tenho minha cara de menor de idade ! Bem, afinal, consegui entrar com meu próprio « jeitinho belgarioca », e pude conferir esse projeto « Moska no samba », que rolou todas as terças-feiras de abril e maio, com direito a convidados diferentes de vez eom quando. Na noite em que eu fui, era a vez da Mart’nália compartilhar o palco em duas ou três canções cuja a excelente ‘Acordando’.
Sempre mantive um bom relacionamento com o Paulinho, que já em 2004 tinha me contado sobre o projeto de gravar um disco de samba. O autor de ‘O Ultimo dia’não desistiu da idéia, e me confidenciou recetemente que, depois de um novo disco de carreira, voltará a estudar esse projeto. Engraçado e interessante, essa tendência ao longo desses últimos anos, de muitos artistas de peso desejarem voltar ao samba de raiz. Foi o caso da Zelia Duncan, da Maria Rita, do Luis Melodia, a Fernanda Abreu e muitos outros. Provavelmente alguns por razoes lovaveis, outros mais por efeito de moda ou em busca dum segundo fôlego. Mas no geral rendeu bons resultados.
Voltando a esse show animado - porém faltando um pouco de homogeneidade - o excelente saxofonista da banda do Zeca Pagodinho, Eduardo Neves, roubou a cena com sua maestria. Tocou por uma boa meia hora antes do Moska entrar. Paulinho cantou composições próprias condizentes com a ocasião, como ‘O Bilhete no fim’ e ‘Paixão e medo’, além de grandes clássicos do samba como ’A Flor e o espinho’ (Nelson Cavaquinho), ‘Rosa’ (Pixinguinha), e ’Foi um Rio …’ (Paulinho da Vilola). Ok, bem sei que ‘Rosa’ é mais uma valsa-chorinho ! O Moska se sentia bem à vontade, mas não conseguiu esquentar uma platéia pouco numerosa naquele dia. Também, o lugar e seu espaço, a meu ver, não ajudou muito. Teria que ter assistido em uma outra noite.



Acompanhando o Pedro Mariano, o excelente baixista Lendro
Matsumoto (foto Daniel A.)


Quase no fim da minha viagem, tive então a chance de retornar àquele agora ascéptico Teatro Rival, para assistir à atuação do Pedro Mariano - dessa vez numa versão acústica, com baixo, violão e bateria, que caracteriza também o seu último disco de 2007 (com um teclado a mais). No palco, o cantor se sente em casa : brinca e seduz uma platéia feminina já conquistada, e prova que se firma como um dos melhores intépretes masculinos, tanto da MPB de vertente pop/soul quanto da tradicional. Ele debulhou seus sucessos de carreira (‘Tem dó’, Voz no ouvido’, ‘Tá tudo bem’, ‘Fazendo música, jogando bola’) e a maioria das canções do seu último disco ; esse último, para mim, o melhor da sua discografia, incluindo, evidentemente, o « Piano e Voz », feito em parceria com seu pai Cesar Camargo Mariano (2004). Pedro alternou os títulos atrás da bateria e à frente do palco para as melodias ; e, ao fim do espetáculo, me pareceu um tanto estático. O cantor correndo de lá pra cá em cena não atendeu ao público, que não deixava de pedir que ele dançasse. Sem resultado. Mas o roteiro dos seus 10 anos de carreira foi bem construído, e rendido graças também ao violão do Conrado Goes e do excelente baixista Leandro Matsumoto. Nesse show, bem percussivo, não faltou também, naturalmente, a homenagem à mãe : Elis.

Assim, finalmente, assisti a um show de boa qualidade, para fechar caprichosamente mais essa minha temporada musical no Rio. Como diz o Jô, « também adorei…. ».




lundi 19 mai 2008

Bossa Nova : un amour, un sourire, une fleur…et un Rolleyflex !*

Vinicius de Moraes et Tom jobim en 1960 (photo Pedro de Moraes)
Une rencontre décisive pour la Bossa Nova

1958
: naissance de la Bossa Nova, il y a donc 50 ans ! Sur son album « Cançao do amor demais », la diva Eliseth Cardoso interprète 13 chansons signées par le duo fraîchement constitué : Antonio Carlos Jobim et Vinicius de Moraes. Sur les titres ‘Chega de saudade’ (‘Assez de nostalgie’) et ‘Outra vez’ (‘À nouveau’), Joao Gilberto initie à la guitare une nouvelle cadence, un rythme différent (‘uma batida diferente’) qui, pour faire simple, ralenti le tempo que marque le tambourin de la samba traditionnelle.
Alors ? Ce disque culte est-il le vrai départ du mouvement ? Certains puristes l’affirment, tandis que d’autres jugeront que la voix de la chanteuse, déjà très célèbre à cette époque, ne s’extirpe pas d’une certaine dramaturgie, encore due au Boléro. Même constat pour les arrangements, encore loin du minimalisme qui caractérisera l’approche synthétique de Joao Gilberto. Pour les adeptes de cette théorie, le référence reste donc le 78 tours de deux titres ‘Chega de saudade/ Bim bom’, interprété par Joao et sorti en juillet de cette même année 58.

Joao Gilberto: la voix et le rythme de la Bossa Nova.
(photo Mario L.Thompson)

Laissons ces historiens se crêper la perruque, mais nous constaterons que les deux écoles s’accordent cependant pour faire de ‘Chega de saudade’ l’hymne officiel de la Bossa Nova. Entre-temps, j’aurai eu l’occasion de citer le triumvirat fondateur du mouvement musical : Tom Jobim (1927-1994), harmoniste et compositeur de génie ; Vinicius de Moraes (1913-1980), le poète, journaliste, parolier, diplomate qui coiffe encore autres casquettes ; et enfin Joao Gilberto, qui représente peut-être le mieux, aux yeux du monde, cette nouvelle déferlante musicale. Outres cette manière révolutionnaire de s’accompagner à la guitare, Joao estampille une nouvelle manière de chanter, douce, sans emphase ni effet de virtuosité. Il possède une parfaite division du phrasé, et une justesse de ton infaillible. Car chanter les harmonies sophistiquées de la Bossa, devrait être un exercice imposé à chaque ‘nouvelle star’.. ! Celui ou celle qui parvient à interpréter sans strass, sans stress et sans fausse notes, ce bijou qu’est, par exemple, ‘Desafinado’ a déjà gagné ses galons d’excellent interprète. Ruy Castro dans son ouvrage truculent, « Chega de Saudade » (en version portugaise ou anglaise), raconte la petite histoire de cette chanson. ‘Desafinado’ ( ‘désaccordé’, ‘hors du ton’…), deuxième 78 tours de Joao Gilberto sorti en novembre1958, et composé par Jobim et Newton Mendonça (1927-1960), s’avère être un clin d’œil moqueur dirigé à l’encontre des nombreux chanteurs ‘approximatifs’ des pianos-bars et boîtes nocturnes de Rio. Et de fait, la chanson s’avère un exercice ardu pour des interprètes de peu de technique. De tant de justesse dans la voix de Joao, sa complexité laissa perplexes les oreilles peu averties qui allèrent jusqu’à accuser le bahianais de chanter faux. Paradoxe avec le sujet de la chanson !

Vinicius et Eliseth Cardoso (photo Pedro de Morais)

2008 : …ou 50 ans plus tard. Rio de Janeiro, berceau de cette nouvelle identité musicale brésilienne, fête à grands coups d’événements le demi-siècle de vie de la Bossa Nova. Mais quant est-il réellement de son existence dans la musique actuelle ?
Certains des puristes précités affirment que le mouvement est mort au début des années soixante. 1964, pour être pointu. Bien, bien…donc, la bossa est morte, le disco est mort, le rock est mort, et Elvis est toujours bien vivant caché sur une île…Sauf que si nous y prêtons attention, la bossa s’est infiltrée partout, jusqu’à recevoir le terme de musique de supermarchés. Je meurs ! Mais de fait, la Bossa est utilisée comme régulateur d’humeur pour ménagères de plus et moins de 50 ans, à la chasse de biens de consommation dans les grandes surfaces. Même effet thérapeutique pour les ascenseurs d’hôtel musicalisés, qui se doivent d’absorber le stress des hommes d’affaires ‘affairés’ ou colorer le séjour des vacanciers. Et pour terminer, dans la même optique, il est intéressant de quantifier le pourcentage d’éléments ‘bossanovistas’ en tapis sonore des publicités. Le résultat est assez édifiant.
Mais bien plus qu’un benzo-anxiolitico-calmant, la Bossa reste un style bigrement sophistiqué, aux harmonies et mélodies aussi belles que complexes. Sachez qu’il vous faudra jouer environ 28 accords de guitare si vous voulez accompagner la version originale de ‘Chega de saudade’, qui ne dure pourtant qu’une minute et 59 secondes ! Pas étonnant dès lors que la Bossa Nova et le Jazz de la west coast américaine, ou ‘cool jazz’, se soient enrichis mutuellement à cette époque. Vocalement, Joao Gilberto et Chet Becker furent des cousins très proches et Bossa et Jazz flirtent encore toujours ensemble, comme ces idylles qui lièrent Stan Getz, Charlie Bird et Gerry Mulligan au Brésil.
La Bossa Nova s’avère être un sujet extrêmement large car il touche également à un style de vie hédoniste et à divers aspects du design tant plastique, que de la vie quotidienne.Mais musicalement, aussi, il me faudra revenir sur d’autres acteurs et actrices de grande importance du mouvement, et sur sa nouvelle jeunesse reconquise sur le plan international dans les années 80. On pourra alors évoquer alors la scène pop anglaise, de Style Council et Matt Bianco jusqu’à Everything But the Girl, et se réjouir de la consécration mondiale d’importants protagonistes du mouvement brésilien, comme Marcos Valle ou Joyce, redécouvert par les DJ’s londoniens. Sans parler de l’omniprésence du style dans le paysage musical français et de son côté ‘branchouille’ qu’on lui attribue souvent (lire ‘objectif du blog’). Et que dire encore sur l’importance cruciale que représente le marché japonais…Cette année ne sera pas trop longue pour traiter ces aspects dans cet humble blog. Et tiens, tant que j’y pense, pour revenir au début de ce post, je vous propose d’écouter les versions précités de ‘Chega de saudade’, à travers les précieuses voix d’Eliseth Cardoso et Joao Gilberto. Alors.. ? Vous optez pour avril ou juillet 1958… ?

*« Um amor, um sorriso, uma flor… », ‘Meditaçao’-Jobim/Mendonça.
« Rolleyflex », appareil photo cité dans ‘Desafinado’-Jobim/Mendonça

mardi 13 mai 2008

Contando estrelas: Edu Krieger, Fernanda Takai, Silvia Machete, Angela Evans, Marina Machado, Primadonna, Milton Nascimento, Cartola, Clara Bellar.

Como mencionei no post interior, eis aqui alguns discos, não necessariamente recentes, que vêm compondo a trilha sonora das minhas últimas semanas :

Edu Krieger : « Edu Krieger » (2007) Biscoito Fino (****)
A última faixa ‘Deus conserve para sempre meu bom senso temperado a pitadas de loucura’, resume perfeitamente esse grande disco lançado no ano passado. Influênçias e ritmos nordestinos -aqui na linha das canções de Cordel- com levada pop, guitarras distorcidas, percussões tradicionais e berimbau, além dum forte toque eletrônico. Edu joga com esses elementos com a maior maestria ao longos dessas 14 faixas, de ótima qualidade melódica. Junto com Fred Martins e Rodrigo Maranhão, dentre outros, aqui tenho a honra de apresentar a vocês mais um daqueles nomes que formarao o futuro da MPB de qualidade.
(P.S. :ler o post ‘Carta ao Rio/3.Edu Krieger’, de 15 de abril 2008)

Fernanda Takai : « Onde brilhem os olhos seus » (2007) Deckdisk (****)
Nao vou escrever aqui mais uma crítica sobre essa excelente
homenagem a Nara Leão, pois vocês já sabem tudo a esse respeito. Quero apenas destacar mais uma vez os arranjos do John Ulhoa e sua ousadia de ter transformado - com muito bom gosto - ‘Odeon’ num Fox Trot ; ‘Com açucar, com afeto’ num pop empolgante ; e ‘Trevo de quatro folhas’ num bebop swingado. E com a voz duplicada da Fernanda, que nos remete à epoca das Andrews Sisters. (ler o post ‘Diz que fui pro Rival’, de 4 de abril 2008)

Silvia Machete : « Bomb of love » (2007) Independente (***L)
-de Luxo, em lugar daquele eternel « ½ » )
Seria um erro imaginar que o único interesse sobre essa nova cantora reside na originalidade das suas apresentaçoes divertidas do tipo circo ou cabaret parisiense (ler num futuro post ‘Carta ao Rio’). Antes de tudo, Silvia tem um excelente vocal : suave, sensual e enérgico. Além disso, gente, ela sabe compor, e de que maneira! Músicas em ritmos de rumba, pop, bossa... tudo num som que me remeteu imediatamente a Los Hermanos, nas cançoes menos rock. Dez pequenas jóias, sendo que seis de sua autoria (cujas três em parceria). O subtítulo do disco, ‘Música safada para corações românticos’, traduz o humor da cantora, presente tanto nas letras como no palco. Vale a pena conferir no site. (www.silviamachete.com)

Angela Evans : « Um pouco de morro outro tanto cidade sim » (2006) Biscoito Fino (***L)
Como já deixava tranparecer no show ao qual pude assistir no Centro Cultural Carioca (ler o post « Pra não dizer que não falei », de 27 de março de 2008), Angela Evans pode se orgulhar de possuir uma voz segura e bem própria. Uma intérprete mais séria do que muitas outras « novas-cantoras-de-samba-da-Lapa ». Nesse disco de estréia, ela se coloca à disposição de grandes sambistas e compositores como Wilson Moreira, Nei Lopes, Elton Medeiros ou Wilson das Neves, cujas composiçoes ela gravou ao vivo no estudio. « Um Pouco de morro… » conta com os arranjos e a regência do Mestre Cristóvão Bastos, sob o olhar protetor do Herminio Bello de Carvalho.
Melodias belíssimas e samba de primeira compõem o disco, e assim podemos apostar nessa visceral intérprete mineira, que será certamente mais uma bela estrela da Lapa.

Marina Machado : « Tempo quente » (2008) Nascimento Music,EMI (**L)
Mesmo depois de um show morno no Rival dessa intérprete, com seu jeito cheio de maneirismos ingênuos - um pouco irritantes – achei que valia a pena conferir esse terceiro disco produzido por Milton Nascimento através de seu próprio selo. Numa categoria próxima a uma Bebel Gilberto, a Marina se mostra mais pop, num som dominado pelo inevitável e excelente Sacha Ambach nos teclados. « Tempo quente » deslancha bem no seu primeiro terço, com a participação do Samuel Rosa no vocal de ‘Grilos’ (Roberto Carlos/Erasmo Carlos). E o cantor cantor do Skank oferece tambem o ótimo ‘Simplismente’, com seu habitual parceiro Chico Amaral. Uma faixa que nos faz esperar a volta da banda. Outra participaçao é a do Seu Jorge na canção ‘Otimismo’ , que também deu de presente ao disco ‘Seu olhar’... bela canção, de tamanha leveza... Repete-se então o mesmo procedimento : o Bituca participa no vocal de uma canção alheia, ‘Discovery’ (Lula Queiroga), enquanto ‘Lilia’, instrumental da sua autoria, se revela dispensável tanto como a versão em inglês – « Unencounter » - de « Canção da América ». Afinal : um bom disco, porém iregular. Poderia ter ficado ótimo até, mas com três ou quatro títulos a
menos.

Primadonna : « Tudo vai valer a pena » (2008) Som Livre (***)
Quem está à procura de originalidade, pode manter-se afastado. O título em si já dá o tom, bem como as letras simplérrimas. Mas quem está à procura de um bom disco de rock puro, com boas guitarras distorcidas, bateria « quadrada », linha de baixo básica (até demais), pode mergulhar nesse primeiro disco da banda carioca Primadonna. Liderado pelo guitarista Claudio Costa, que assina a maioria das canções, e pelo excelente cantor Sandro Abreu (entre Dinho Ouro Preto e Rogério Flausino, do Jota Quest), a banda coloca em nossas mãos 11 títulos simples e eficientes, e que dispensam muitas audições para nos envolver. Estamos aqui mais perto do Capital Inicial do que do Barão Vermelho- foi como pude ler-, já que o jeito de compor e os refrões estão bem próximos, nas estruturas, das boas canções da banda de Brasília.
Uma prova de que para se produzir um bom disco não é obrigatoriamente necessário que se seja sempre original.

Milton Nascimento & Jobim Trio : « Novas Bossas » (2008) Nascimento music, Emi (***L)
Já relatado, no post « Carta ao Rio/3.Milton Nascimento & Jobim Trio », de 18 de abril de 2008.








Vários Artistas : « Viva Cartola ! 100 anos » (2007) Biscoito Fino (**) Uma coletânea composta por canções saídas do acervo do selo. Somente ‘Basta de clamares inocência’ interpretada por Mart´nália foi gravada em separado para essa ocasião. Já houve melhores homenagens ao Senhor « verde & rosa » Angenor de Oliveira.





Clara Bellar : « Meu coraçao brasileiro » (2007) Atração Fonográfica (**)
A atriz internacional franco-americana (« Artificial Intelligence », « Les Randonneurs » ou « Kill the poor ») se oferece um presente, retomando grandes clássicos do repertório brasileiro como Sampa (Caetano), Feitiço da Vila (Noel/Vadico) ou Joanna Francesa (Chico Buaque).
Na sua festa, ela convida Dori Caymmi (direção musical), João Bosco e, surpresa…Milton Nascimento que passava por ai! A voz da bela senhora termina por soar bem banal, e o resultado é pouco entusiasmado.

mardi 6 mai 2008

Contando estrelas…

Não tenham vergonha de confessar ! Vocês também gostam, como eu, antes mesmo de ler a resanha dum disco, dvd ou show, de ir direito contar as estrelas que o jornalista atribuiu ! Isso nos envolve no assunto de imediato, sem erro. É claro que isso vale tambem para um filme, uma exposição ou um livro. Viramos então « o crítico do crítico ». E também julgamos : « O que é isso ?!?.... eu teria dado...nao… eu dou ( ! ) uma estrela a mais - ou a menos ...». Mesmo quando a gente tem a mesma opinião do crítico, até o « ½ » é sujeito a negociação.
Durante esses anos de jornalismo musical, sempre preferi usar a palavra « cronista », pois « crítico » sempre carregou esse lado pejorativo, pedante, do « cara que pretende saber mais do que os outros », e isso não é novidade. Existe desde o início da história desse gênero jornalístico, há séculos…
Pois é ; o perfeito « crítico » deve saber mais do que os outros. Ele conhece sua matéria na ponta dos dedos : a sua história, os movimentos, seus integrantes e suas respectivas obras, além de saber situar uma nova criação num panorama geral. Assim ele é didático. Depois, claro, pode se dar ao direito, com a sensibilidade que lhe pertence, de emitir sua opinião e atribuir uma ‘cotação’, baseado em dados -quase-objetivos. Com os conhecimentos que acumulou, ele adquiriu credibilidade.
Aliás, como leitores, podemos nos situar também. Após um tempo, já conhecendo um pouco as tendências de tal jornalista, podemos concluir que, se ele gostou, então não vamos gostar ! Muitas vezes reagi assim, antes de escolher um filme no cinema.
Falando de música – e não de letra - se o crítico tem também ao menos alguma mínima formação musical, ele pode trazer consigo informações interessantes. Vai descortinar uma canção, a sua estrutura, julgar o uso dos instrumentos, dos tons escolhidos ; ou analisar a personalidade e a técnica de uma voz. No entanto, a técnica se julga somente quando é possível escutar uma cantora ou um cantor ao vivo. Existem tantas possibilidades para se compensar as falhas de uma voz em estúdio...

Angela Rô Rô: sempre Dona da sua voz e sua tecnica

Ontem mesmo, quis rever o dvd « Angela Rô Rô, ao vivo », de 2006.
Os anos difíceis da cantora não estragaram a sua voz sob qualquer aspecto. Uma grande sorte ! Ela sabe pausar ainda o seu vocal, manter uma nota ; e respira com o ventre e não com o peito para manter o fôlego. Não desafina em um momento sequer, e usa o microfone como se deve - durante as notas fortes e altas, que alcança com facilidade. Angela é ainda senhora de sua grande técnica, disso não há dúvida.
Existe um outro parâmetro importante que o jornalista-crítico não pode controlar : seu estado de espírito na hora do julgamento ! Pequenos ou grandes problemas pessoais vão - queira ou não - alterar sua visão ... ou a sua audição. E às vezes não há como adiar sua resenha, pois o fechamento do jornal não espera…
Enfim, outro critério importante em relação à música : em que condição a gente a escuta. E aqui, nesse ponto, quero contar uma historinha. Duas semanas atrás, depois várias audições, e mesmo com a maior boa vontade, eu não conseguia encontrar muitos adjetivos positivos para o disco « Inclassificáveis », do Ney Matogrosso.

Ney Matogrosso, sem maquilegem (foto Daniel A.)

Mas acontece que, numa viagem de uma hora que fiz, coloquei mais uma vez o cd no meu carro. Não vou dizer que o achei de repente genial, mas já me soava aí bem mais razoável. Me sentia mais dentro do disco, e das 16 faixas (demais, para qualquer artista !). Então vou escrever o que ? « Bom para se ouvir no carro » ?… Claro que não !
Porém, coincidentemente, no mesmo dia, uma amiga me ligou, dizendo que o livro que estava lendo parecia ora um, ora outro, dependendo do local da leitura ! Depois da minha experiência com o cd no carro, eu pude realmente acreditar nela. Mas qual a razão… ? A luz da janela, o cômodo onde lia, o aconchego da poltrona, o espaço da sala… ? Vejam que, com 24 anos de jornalismo, não hesito em me colocar em questão !
Esse prólogo era, finalmente, para introduzir essa crônica :
« Contando Estrelas », que voltará de vez em quando, relatando minhas impressões sobre discos e dvd’s muito recentes, ou até alguns mais antigos, que acompanham o meu dia-dia. Então, seguem aqui minhas estrelas, conforme os critérios habituais, dos discos que ouvi desde minha chegada aqui em Bruxelas, do Brasil, já faz um mês…

CE BLOG EST DÉDIÉ AUX CURIEUX QUI AIMERAIENT CONNAÎTRE L'ART ET LA MUSIQUE POPULAIRE BRÉSILIENNE. UNE OCCASION POUR LES FRANCOPHONES DE DÉCOUVRIR UN MONDE INCONNU OU IL EST DE MISE DE LAISSER SES PRÉJUGES AU VESTIAIRE.