samedi 31 juillet 2010

29/07 : As viagens de Déa Trancoso no Teatro de Arena (RJ)

Déa Trancoso, Teatro de Arena (RJ), 29/07 (foto Daniel A.)
-texte français plus bas.
-texto português traduzidodo francês, com outras fotos.


Déa Trancoso é nativa do Vale do Jequitinhonha (Minas Gerais), uma das regiões mais pobres do Brasil de que eu tenho notícia, sobretudo por sua célebre colônia de artistas populares femininas que criam, em torno da grande Dona Izabel Mendes da Cunha, as famosas bonecas de barro. O « sertão do sertão », como o classificou a cantora, nesse 29 de julho no Teatro de Arena, por ocasião da apresentação de seu álbum « Tum tum tum », lançado na verdade em 2006, mas inteligentemente relançado esse ano pelo selo Biscoito Fino.
Se eu não amo lá muito a expressão « música regional » -vaga demais para significar seja lá o que isso venha a ser-, é no entanto nessa categoria que o álbum havia sido indicado quatro vezes ao Prêmio Tim de Música, em 2007.
Um renascimento, então, desse trabalho que demandou 12 anos de pesquisas para reunir uma coleção de peças musicais, cuja maior parte está sob a égide do patrimônio folclórico tradicional de Minas Gerais, e para além... Déa Trancoso nos propõe um mosaico de temas e ritmos –lundú, acalanto, congo, côco, catimbós- que visitam os estados de Pernambuco, do Acre, do Pará, e do Rio Grande do Sul (além de algumas composições pessoais de Déa).

Participaçao especial de Mariana Baltar como bailarina (foto Daniel A.)

Rodeada de André Siqueira e de Tabajara Belo nos violões, e de Beth Leivas e Danuza Menezes nas diversas percussões, a cantora transportou a seu universo musical as 250 pessoas presentes no pequeno teatro escondido em pleno coração tumultuado do centro urbano do Rio de Janeiro, perto de algo que se assemelharia ao essencial e ao universal : talvez simplesmente à cultura popular brasileira. Participaram também do encantamento do repertório apresentado Vânia Lucas ao violoncelo, Mauricio Féres na viola caipira, Claudio Nucci –que interpreta de passagem seu Casa de Lua cheia- e Mariana Baltar ; essa última vindo a emprestar seu talento de bailarina em Jurema, composição de Déa.
Um excelente show que –não que eu seja mistico !- me lançou a um certo estado de paz ; e. por um momento, me fez sentir melhor e mais rico como ser humano...

29/07 : Les voyages de Déa Trancoso au Teatro de Arena (RJ)

Déa Trancoso, Teatro de Arena, 29/07 (photo Daniel A.)


Déa Trancoso est native de la Vallée de Jequitinhonha (Minas Gerais), une des régions les plus pauvres du Brésil que je connaissais surtout pour sa célèbre colonie d’artistes populaires féminines qui créent, autour de la grande Isabel Mendes de Cunha, les fameuses « bonecas de barros » (poupées en terres). « Le sertão du sertão » comme le qualifia la chanteuse, ce 29 juillet, au Teatro de Arena, pour la présentation de son album « Tum tum tum », sorti en réalité en 2006, mais judicieusement relancé par le label Biscoito Fino, cette année.
Si je n’aime pas trop les termes de « musique régionale » -trop vague pour signifier quoi que ce soit-, c’est cependant dans cette catégorie que l’album avait été indiqué quatre fois au Premio Tim da Musica en 2007.
Une nouvelle naissance donc, pour ce travail qui demanda 12 années de recherches, pour réunir une collection de pièces musicales dont la plupart appartiennent au patrimoine du folklore traditionnel du Minas Gerais, et bien au-delà. Déa Trancoso nous proposa une mosaïque de thèmes et de rythmes –lundo, acalanto, congo, coco, catimbós- qui visitent les états du Pernambuco, d’Acre, du Pará, ou du Rio Grande do Sul (en plus de quelques compositions personnelles).

Déa Trancoso invite Mariana Baltar en tant que ballerine (photo Daniel A.)

Entourée d’André Siqueira et Tabajara Belo aux guitares, et de Beth Leivas et Danuza Menezes aux diverses percussions, la chanteuse a transporté les 250 personnes présentes dans ce petit théâtre enfoui en plein milieu du tumulte du centre urbain de Rio de Janeiro, vers quelque chose qui ressemblerait à l’essentiel et l’universel : peut être tout simplement la véritable culture populaire brésilienne. Ont aussi participé à l’enchantement du répertoire présenté, Vânia Lucas au violoncelle, Mauricio Féres à la guitare caipira, Claudio Nucci -qui interpréta au passage son Casa de Lua cheia- et Mariana Baltar, venu mettre son talent de ballerine sur Jurema, composition de Déa.
Un très beau moment qui –tant pis pour l’emphase- m’a plongé dans une certaine paix, et pour un moment, m’a fait sentir meilleur et plus riche humainement…

vendredi 30 juillet 2010

Em julho, o Rio Scenarium deu lugar ao « forrozeiro » Chico Salles.

Chico Salles, Rio Scenarium, 21/07 (foto Daniel A.)

-texte français plus bas

-texto português traduzido do francês


O pouco tempo que passei em Bruxelas, entre minhas viagens ao Brasil nos meses de maio e julho desse ano, não me permitiram escrever muito sobre os diversos álbuns escutados recentemente.
Eu já havia mesmo planejado fazer um post dedicado aos excelentes discos de Chico Salles e Déa Trancoso, que divulgam uma música classificada como « regional », e que me seduziram particularmente (o de Déa Trancoso data de 2007, mas vem a ser reeditada pelo selo Biscoito Fino). Seus respectivos shows, por esses dias no Rio, me deram então a oportunidade de começar a cumprir minha promessa como previsto.

Todas as quartas-feiras do mês de julho, Chico Salles apresentou-se no espaço Rio Scenarium acompanhado de um convidado diferente a cada espetáculo. Foi a vez de Edu Krieger, quando eu lá estive no dia 21 de julho passado.

O Rio Scenarium: como um grande magazin de Antiguidades ecléticas

E para começar, algumas palavras sobre esse ambiente único, aberto desde 2001 nos limites do bairro da Lapa, e que todos os turistas de passagem pelo Rio –mesmo que somente por alguns poucos dias- deveriam visitar.
Situado à Rua do Lavradio (perpendicular à célebre Avenida Men de Sá, sede de outras « casas de show »), o Rio Scenarium é uma espécie de grande magazin de Antiguidades ecléticas (e foi mesmo), abrigando mais de 10.000 objetos diversos. Isso vai de carros antigos, peças de arte popular, móveis antigos e esculturas religiosas ; passando por utensílios de antigas profissões já extintas.
O espaço conhece um enorme sucesso que garante perto de 2000 pessoas a cada fim de semana, provocando um baita engarrafamento humano na rua. E dentro de uma determinação recente de se regrar esse tráfego à entrada (melhor dizendo, na verdade, de o complicar !), nos deparamos com filas intermináveis, que não existiam quando a questão era tratada mais à vontade.
Mas fora isso, esse local de três andares –que é também um restaurante com pista de dança ao lado do palco- é regularmente citado pela imprensa estrangeira como um dos clubes musicais dos mais originais do planeta.
A programação, baseada em músicas essencialmente brasileiras, varia com frequência conforme os dias da semana. E se vocês puderem escolher, vão entre a terça e a quinta, sobretudo se quiserem um pouco de espaço para arriscar uns passos de dança... Mas eis que me afasto agora do meu momento « guia de turismo ».

Chico Salles, cantor e compositor da Paraíba– e que reside por volta de 40 anos no Rio de Janeiro- sempre navegou entre as músicas de seu Nordeste de origem e as rodas de samba que ele frequenta desde os anos 80. Mas seu quinto álbum, « O Bicho pega », é de fato um disco enraizado no xote, no côco, no forró e no baião, em sua mais pura expressão. Esse belo álbum, ornado com uma dessas xilogravuras típicas do cordel, se distingue por sua excelente podução e seu repertório, onde os ritmos irresistíveis não ocultam as melodias bem superiores às outras produções desse estilo. Dessa forma, impõe-se rapidamente a faixa título, O Bicho pega (Bule Bule), Como alcançar uma estrela (Miltinho Edilberto), e ainda Masculina, composta em parceria com, justamente, Edu Krieger.
Como convidados do disco, encontramos também Fagner, Alfredo Del-Penho, e o violonista João Lyra, sendo que esse último na direção musical. Esses encontros conferem ao trabalho um resultado caprichado e definitivamente profissional –sem tirar a alma- que não possuíam seus trabalhos anteriores. E o proprio Chico se consolida como um cantor de voz firme, pronto a animar qualque arrasta pé.
Assim, o « O Bicho pega » somará uma das belas produções do gênero esse ano, e dará certamente uma visibilidade mais ampla a esse « forrozeiro » do Rio de Janeiro.

jeudi 29 juillet 2010

En juillet, le Rio Scenarium a fait place au « forrozeiro » Chico Salles.

Chico Salles, Rio Scenarium 21/07 (photo Daniel A.)

Le peu de temps passé à Bruxelles, entre les voyages au Brésil du mois de mai et de juillet, m’ont donné peu d’occasions de relater les divers albums écoutés récemment.
J’avais prévu un post dédié aux excellents disques de Chico Salles et Déa Trancoso, qui divulguent une musique qualifiée de « régionale », et qui m’avait particulièrement séduit (celui de Déa Trancoso date de 2007, mais vient d’être réédité par le label Biscoito Fino). Leurs concerts, ces jours-ci à Rio, me donne l’occasion de tenir ma promesse initialement prévue.

Le Rio Scenarium: antiquaire transformé en "casa de show".

Tous les mercredis du mois de juillet, Chico Salles se produisait au Rio Scenarium, en compagnie d’un invité différent à chaque édition. C’était le tour d’Edu Krieger, quand je m’y suis rendu le 21 juillet dernier.
Et d’abord quelques mots sur cet endroit unique ouvert depuis 2001 à la limite du quartier de Lapa, et que tous les touristes de passage à Rio –même pour quelques jours- se doivent d’aller visiter.
Situé rua do lavradio (perpendiculaire à la célèbre Avenida Mem de Sá, siège d’autres « casas de show »), le Rio Scenarium est une sorte de grand magasin d’Antiquités hétéroclite, qui abrite plus de 10.000 objets disparates. On va de la voiture ancienne, aux pièces d’art populaire, meubles anciens, sculptures religieuses, en passant par des ustensiles d’anciens métiers disparus.
Le lieu connaît un succès énorme qui lui amène près de 2000 visiteurs en fin de semaine, provoquant un gros embouteillage humain dans la rue. Et dans une volonté récente de régler ce trafic à l’entrée (c’est-à-dire, en réalité, de le compliquer !), on se retrouve devant des files interminables, qui n’existaient pas quand on traitait cela de manière tranquille.
Quoi qu’il en soit, cet endroit -qui est aussi un restaurant flanqué d’une piste de danse- est régulièrement cité par la presse étrangère comme l’un des clubs musicaux les plus originaux de la planète.
La programmation, basée sur les musiques essentiellement brésiliennes, varie souvent selon les jours de la semaine. Et si vous avez le choix, allez-y entre le mardi et le jeudi, surtout si vous voulez un peu d’espace pour esquisser un pas de danse…Mais j’arrête là mon moment « guide touristique ».

Chico Salles, chanteur et compositeur du Paraíba - qui réside depuis près de 40 ans à Rio de Janeiro- a toujours navigué entre les musiques de son Nordeste natal et les rodas de samba qu’il fréquente depuis les années 80. Mais son 5ème album, « O Bicho pega », est bel et bien un disque enraciné dans le xote, le coco, le forró et le baião, dans sa plus pure expression. Ce bel album, orné d’une de ces xylogravures typiques de la littérature du cordel, se distingue par son excellente production et son répertoire où les rythmes irrésistibles ne masquent pas les mélodies bien supérieures aux productions du style. Ainsi s’imposent très vite la plage titulaire, O Bicho pega (Bule Bule), ou encore Como alcançar uma estrela (Miltinho Edilberto) et Masculina, cette dernière composée en collaboration avec, justement, Edu Krieger.
En invité sur l’album, on retrouve aussi Fagner, Alfredo Del-Penho, et le guitariste João Lyra, également à la direction musicale. Des rencontres qui donnent à l’ensemble un aspect abouti et définitivement professionnel –sans en enlever l’âme- que ne possédaient pas encore ses travaux précédents. Et Chico Salles lui-même, s’affirme comme un solide interprète.
« O Bicho pega » comptera comme l’une des belles productions du genre de cette année, et donnera certainement une visibilité plus ample à ce « forrozeiro » de Rio de Janeiro.

Vidéo amateur: "O bicho pega" au Rio Scenarium...

mercredi 28 juillet 2010

Hermeto Pascoal e Aline Morena, no Teatro Sesc Ginástico Rio.

Hermeto Pascola harmoniza a lista de agradecimentos
lida por Aline Morena (foto Daniel A.)

(texte français plus bas, texto português traduzido do francês)

« Uma Noite em 67 » é o título do filme documentário lançado por esses dias nas capitais do Brasil, e que relata um momento importante na história da Música Popular Brasileira : aquele da edição de 1967 dos famosos festivais da canção pela TV Record (São Paulo), que aconteceram entre 1965 e 1972. Eu vou tentar assistí-lo o mais rápido possível e postar para vocês as minhas impressões aqui.
Atrás de Edu Lobo e Marilia Medalha, os intérpretes de « Ponteio » (Edu Lobo/ Capinam), o título vitorioso daquele ano objeto do filme, estava o Quarteto Novo, do qual um dos integrantes não era outro senão Hermeto Pascoal, que abriu a canção com uma performance magistral à flauta, que tornou-se quase tão célebre quanto seu contagiante refrão : « Quem me dera agora eu tivesse a viola pra cantar ».
Isto para relembrar que por trás do feiticeiro Hermeto –conhecido por extrair sons e notas de qualquer coisa- existe esse instrumentista talentoso que trabalhou no seio de numerosas formações de jazz durante os anos sessenta, antes de doar seus talentos a músicos e compositores de prestígio como Antonio Carlos Jobim, ou ainda Miles Davis.
Inclusive, já faz um bom tempo que a música de Hermeto Pascoal ultrapassa além do círculo dos amantes de músicas do Brasil, e que ele vem sendo assistido com entusiamo por platéias dos quatro cantos do mundo.

Hermeto Pascoal, Aline Morena & "familia",
Sesc Ginastico 20/07 (foto Daniel A.)


Já de alguns anos para cá Hermeto vem se apresentando sob diversas formações ; porém, atualmente, ele privilegia aquela que ele iniciou a partir de 2002 com sua companheira Aline Morena, com quem ele se apresentou em 2004, no duo « Chimarrão com rapadura » : primeiro, o nome do chá mate típico do Sul do Brasil, de onde Aline é originária ; e em seguida, o desse alimento açucarado –mais nutritivo do que o açúcar (eu pesquisei !) do Nordeste, de onde vem nosso músico albino barbudo (de Alagoas, mais precisamente).

Hermeto Pascoal e Aline Morena apresentaram-se no último dia 20 de julho no Sesc Ginástico do Rio de Janeiro, frente a uma platéia quase explodindo de tão lotada, para o lançamento do álbum « Bodas de latão ».
Quem conhece Hermeto Pascoal sabe que vê-lo em cena é uma experiência quase que obrigatória. E se devemos aqui encontrar uma definição para seu espetáculo, poderíamos clasificá-lo como um « Exercício em torno da harmania ». Harmonia essa, por sua vez, em torno de um tema de Mozart, de uma composição de Sivuca ou de Astor Piazzolla ; em torno de suas próprias criações, mas também de uma chaleira, de uma caçarola, de canos, de potes de barro, de uma piscina de plástico... e até de bichos de pelúcia. Rimos no inicio, e nos surpreendemos logo em seguida. Com diversos instrumentos tradicionais e adulterados, Hermeto gravita em torno de Aline, que por sua vez se lança em exercícios vocais próximos aos de Tetê Espíndola ou Badi Assad, isso tudo tocando ela mesma ao violão ou ao piano. Mas nós não estamos tratando de um campo de experimentação gratuita, pois nesse caso existem um sentido e uma beleza que apenas um virtuose pode se permitir ousar.
E ao final do show, até a partir da lista de agradecimentos que Aline enumera, Hermeto busca uma base para criar diveras harmonias ao teclado... Dêem-lhe uma lista telefônica, e ele comporá uma sinfonia para tamancos e buzinas... (Eu inclusive meto-lhe um processo, se eu vejo isso num próximo espetáculo !)

Hermeto Pascoal et Aline Morena, au Sesc Ginástico de Rio.

Hermeto Pascoal et Aline Morena, Sesc Ginastico, 20/07 (photo Daniel A.)

« Uma Noite em 67 » (« une nuit en 67 »), est le titre du film documentaire qui sort ces jours ci dans les capitales du Brésil, et qui relate un moment important dans l’histoire de la Musique Populaire Brésilienne : celle de l’édition 1967 des fameux festivals de la chanson de la TV Record (São Paulo) qui eurent lieu entre 1965 et 1972. Je tenterai d’aller le voir vite pour vous en faire part ici.
Derrière Edu Lobo et Marilia Medalha, les interprètes de « Ponteio » (Edu Lobo/ Capinam) le titre victorieux de cette année-là, se tenait le Quarteto Novo, dont l’un des intégrants n’était autre qu’Hermeto Pascoal, qui ouvrait la chanson avec une envolée magistrale à le flûte qui devint presque aussi célèbre que son refrain contagieux : « Quem me dera agora eu tivesse a viola pra cantar » (« Si je pouvais avoir une guitare pour chanter »).
Ceci pour rappeler que derrière le sorcier Hermeto -connut pour extraire des sons et des notes de toute chose- il y a cet instrumentiste surdoué qui travailla au sein de nombreuses formations de jazz dans les années soixante, avant d’offrir ses talents à des musiciens et compositeurs aussi prestigieux qu’Antonio Carlos Jobim ou encore Miles Davis.
D’ailleurs, cela fait bien longtemps que la musique d’Hermeto Pascoal va bien au-delà du cercle des amateurs de musiques du Brésil, et qu’il est attendu avec enthousiasme aux quatre coins du globe.

Variations autour d'un petit singe en peluche (photo Daniel A.)

Depuis quelques années, Hermeto se produit sous diverses formations, mais il privilégie actuellement celle qu’il a initiée depuis 2002 avec sa compagne Aline Morena, avec qui il donna vie en 2004, au duo « Chimarrão com rapadura », du nom du mate, le thé du sud du Brésil d’où est originaire Aline ; et de cet aliment sucré –plus nutritif que le sucre (j’ai fais des recherches!) du Nordeste, d’où nous vient notre musicien albinos barbu (d’Alagoas, très exactement).

Hermeto Pascoal et Aline Morena se produisaient le 20 juillet dernier au Sesc Ginástico de Rio de Janeiro devant une salle pleine à craquer, pour le lancement de l’album « Bordas de latão ». Qui connaît Hermeto Pascoal sait que le voir sur scène est une expérience immanquable. Et si l’on devait trouver une définition à son spectacle, on pourrait la qualifier de « Déclinaisons autour de l’harmonie ». Harmonie autour d’un thème de Mozart, d’une composition de Sivuca ou d’Astor Piazzolla, de ses propres créations, mais aussi d’une bouilloire, d’une casserole, de tubes, de pots en terre, d’une piscine en plastique, ou de cris de jouets en peluche. On rit d’abord, et on s’étonne ensuite. Avec divers instruments traditionnels ou trafiqués, Hermeto tourne autour d’Aline qui se lance dans des exercices vocaux proches de Tetê Espindola ou Badi Assad, tout en jouant elle-même de la guitare ou du piano. Mais nous ne sommes pas dans l’expérimentation gratuite et tout a un sens et une beauté que seul un virtuose peut se permettre.
Et à la fin du concert, même autour de la liste des remerciements qu’Aline énumère, Hermeto trouve une base pour créer diverses harmonies au clavier…Donner lui un bottin de téléphone et il en fera une symphonie pour sabot et klaxon…(Je lui fais un procès si je vois ça dans un prochain concert !)

mardi 27 juillet 2010

« O Rio de Janeiro continua o mesmo » (do jeito que eu gosto !)



(texte français plus bas, texto português traduzido do francês)

Antes de retomar os posts com informações puramente musicais, eis aqui uma pequena história para descontrair, que –mesmo sem provas que eu possa apresentar- garanto que é 100% verídica.
Ela foi vivida sem trucagem, sem atores profissionais, e nem mesmo amadores...

É a história de um gringo que tinha um blog de música popular brasileira em dois idiomas (além de animar um super programa de rádio sobre MPB na Bélgica !), e que, para sua próxima ida a São Paulo, desejava comprar dois ingressos para assistir, com um amigo, o show de Maria Rita, na pequena sala do Tom Jazz (SP), no dia 9 de agosto de 2010.
Estando no Rio, ele telefona então à dita sala, que o aconselha a dirigir-se por telefone ao sistema « ingresso rápido » (guardem bem esse nome !)… Sem problema...
Depois de um atendimento automático em português e inglês (bacana para os gringos !), a gentil telefonista sugere a ele dois super lugares para apreciar o espetáculo, pede a ele seus dados bancários, lhe anuncia o elevado preço (bom, assim quis o gringo...), e o faz babar ao informá-lo de que ele será super bem acomodado na sala. Como ele já conhece a casa, não tem qualquer dúvida a respeito... Tudo certo, exceto pelo fato de que, no momento de finalizar a compra dos ingressos, a gentil telefonista solicita o número do seu CPF, coisa que ele não possui, até porque –como foi dito no início da história- trata-se de um gringo viajando... Mas aparentemente seu sotaque afrancesado não foi percebido pela gentil telefonista... Mas ok, e uma vez mais, nenhum problema ; o gringo então pergunta como ele pode fazer sem o CPF, e se acaso o número de seu passaporte pode resolver o problema. Que nada ! Ela no entanto indica a ele diversos pontos de venda no Rio onde ele pode retirar os tickets com esse seu status burocrático tão complicado –sendo ele um gringo.
E ele vai desabalado, à essa altura um pouco nervoso, para a « Modern Sound », em Copacabana, para proceder à sua preciosa aquisição...
Aí começa uma situação bastante surrealista essa, que, como belga, ele é centrado o suficiente para classicá-la como tal...(a Bélgica, pra quem não sabe, é o país do surrealismo)
Ele pega um táxi (sim, eu sei, ele poderia poupar grana indo a pé, encarando uma caminhada de 40 minutos sob 30°), e, na « Modern Sound », uma gentil mocinha mostra a ele uma tela com os lugares do show ainda disponíveis. Formidável, essa tecnologia !… Salvo que a gentil mocinha lhe diz que ela só pode vender a ele apenas um ingresso. O gringo pergunta então a ela por que ela não pode vender-lhe mais do que um ingresso de uma só vez...
Ela responde a ele que pode, sim, mas o problema é que ela não dispõe de papel suficiente na máquina para imprimir dois tickets…
O gringo explica que, de fato, ele precisa mesmo de dois ; aí então, a gentil mocinha responde muito irritada : « Eu estou dizendo que não é possível, já que eu não tenho papel suficiente para imprimir mais do que um !» (Eu sempre tive certeza que ainda não se abateram árvores o suficiente na Amazônia !). O gringo então começa a se sentir culpado diante de tanto desgaste ! Como a vida o agraciou com a paciência que ele adquiriu justamente viajando há mais de 20 anos para o Rio de Janeiro (a melhor escola, sem discussão !), ele pergunta a ela com sua doce voz de apresentador noturno de programa de rádio se, apesar de tudo, ela não teria lugares disponíveis para assistir Lulu Santos, que se apresenta nos dias 20 e 21 no Vivo Rio (na verdade, eu me pergunto seriamente por que ele resolveu pedir a ela uma coisa paralela àquela altura !). Ela pergunta a ele para que dia ele desejaria. (aí se lê um ar perplexo na cara do gringo !). Ele responde que para o dia 20 ; mas, ali mesmo, ainda incrédulo, ele pergunta a ela se nesse meio tempo ela já teria conseguido o papel para imprimir... Naturalmente que não, responde ela : « Só a partir de amanhã. ». Preferindo não mais tentar racionalizar o processo, o gringo se vira e vê uma fila, imaginando como será o caos após a sua partida.
A gentil mocinha (porque sim, ela tem realmente um ar gentil) diz a ele que, entretanto, se ele se dirigir a um ponto de venda « Vivo Rio » em Ipanema (bom, de onde ele veio), lá ele encontrará sua felicidade... Aí o gringo pega um táxi de volta (sim, eu sei ; ele poderia poupar grana retornando a pé, numa caminhada em torno de 40 minutos, agora já sob uma temperatura de 35°)…

Como a bilheteria do ponto de venda da Vivo Rio em Ipanema só funciona a partir das 14 horas, o gringo, achando que já tinha decorado a música, lá chega às 14h15, de modo a que tudo mundo se instale em seus postos. Lá mesmo, outras pessoas gentis o informam de que o balconista da bilheteria ainda está no almoço, que ele está atrasado, sim, mas que retornará sem falta às 14h15… Devidamente informadas de que são 14h15, as pessoas gentis começam então a se dispersar, e aconselham ao gringo que retorne às 14h30. Sem falta.
Depois de ter anestesiado seu cérebro, ele contorna o quarteirão três vezes, e retorna às 14h35, para constatar que o balconista ainda está ausente. Contando com seu humor como única arma de sobrevivência, o gringo comenta que o dito rapaz deve sofrer, sem dúvida, de algum problema digestivo que o leva a mastigar muito lentamente os alimentos que consome. Assim, diante da reação das pessoas gentis, ele se dá conta de que jamais faria uma carreira de humorista no Brasil...
Eis que o gentil balconista se instala calmamente por volta das 14h50 (claro que os bons lugares do início dessa história já tinham ido embora há muito tempo), quando surge novamente a questão do bendito CPF... Mas como o gentil balconista é realmente gentil, ele diz que no lugar desse número mágico, ele anotará apenas a sua data de nascimento, o que, enfim, é bastante lógico... (digam-me que é lógico !!). Naturalmente, o gringo não pôde pagar com cartão (mas isso – ha ha !! – ele havia previsto !). E é então que, finalmente, com o coração acelerado, que às 15h10 ele passeia pelas ruas de Ipanema com seu troféu nas mãos, assoviando a canção do clip aqui acima... E sonhando que Maria Rita, navegando pela rede ao acaso, aporte aqui nesse relato, e que, maravilhada diante de tanta abnegação, considere a possibilidade de dedicar a aquele gringo teimoso, « Cara valente », uma canção bem a propósito.
Eu acho que ele bem que merecia...

« Isto é o meu Brasil » (como eu o gosto !)*



* « Ceci est mon Brésil » (comme je l’aime !)- Chanson d'Ary Barroso.

Avant de revenir à des textes de pures infos musicales, voici une petite histoire pour se détendre, qui –même sans preuve à l’appui- est 100% véridique. Elle fut vécue sans trucage, sans acteurs professionnels, ni amateurs…

C’est l’histoire d’un gringo* qui tient un blog de musique populaire brésilienne en deux langues (en plus d’animer un super programme radio de MPB en Belgique !), et qui, pour sa venue prochaine à São Paulo, désirait acquérir deux places pour aller voir, avec un pote, Maria Rita, dans la petite salle du Tom Jazz (SP), le 9 août.
Étant à Rio, il téléphone à ladite salle qui lui conseille de s’adresser par téléphone au système « ingresso rapido » (« billet rapide », retenez bien ce nom !)… Pas de problème…
Après un accueil d’attente automatique en portugais et anglais (chouette pour les gringos !), la gentille téléphoniste lui propose deux supers places, lui demande ses données bancaires, lui annonce le prix élevé (bon, ça le gringo l’a voulu), et le fait baver en lui affirmant qu’il sera super bien placé. Comme il connaît la maison, il n’a aucun doute là-dessus… Sauf que, au moment de finaliser l’achat, la gentille téléphoniste lui demande son CPF (numéro officiel obligatoire que possèdent les brésiliens pour toutes sortes de démarches), ce qu’il n’a pas puisque -comme on l’a dit au début de l’histoire- c’est un gringo…Et visiblement, son accent francophone n’a pas alerté la gentille téléphoniste…Mais pas de problème à nouveau, le gringo demande comment il peut faire, et si un numéro de passeport peut résoudre le problème. Que nenni ! Elle lui indique cependant divers points d’achat à Rio où il peut retirer des places avec son statut compliqué –semble-t-il- de gringo.
Et donc il se rend légèrement énervé au « Modern Sound » à Copacabana pour son précieux achat….
S’en suit une situation assez surréaliste qui, en tant que belge, il est bien placé pour la qualifier comme telle…
Il prend un taxi (oui, je sais, il pourrait aller à pied, environ 40 minutes de marche sous 30°), et au « Modern Sound », une autre gentille jeune fille lui montre sur écran les places disponibles. Formidable la technologie !…Sauf que… La gentille jeune fille lui dit qu’elle ne peut vendre qu’un seul billet. Le gringo lui demande alors pourquoi elle ne peut vendre qu’un seul billet à la fois…
Elle lui répond qu’elle peut, mais qu’elle n’a juste pas assez de papier pour imprimer deux tickets…Le gringo lui dit que cependant il lui en faut deux, et la jeune fille de lui répondre très énervée : « Je vous dis que ce n’est pas possible puisque je n’ai du papier que pour imprimer une place !! » (j’ai toujours dit qu’on n’abattait pas assez d’arbres en Amazonie !). Le gringo commence sérieusement à se sentir coupable devant tant de désarroi ! Comme la vie lui a enseigné la patience qu’il a acquise justement en voyageant depuis 20 ans à Rio de Janeiro (la meilleure école, sans discussion!), il lui demande de sa voix douce de présentateur de radio nocturne si, malgré tout, elle n’aurait pas de places pour voir Lulu Santos le 20 et 21 août au Vivo Rio (après coup, il se demande vraiment pourquoi il lui a demandé une chose pareille !). Elle lui demande pour quel jour il désirerait. (Étonnement sur le visage du gringo!) Il demande le 20, mais de là, incrédule, il lui demande s’il elle a retrouvé du papier à imprimer entre temps… « Bien sûr que non ! », répond elle, seulement à partir du lendemain. Préférant ne pas rationaliser, le gringo se retourne et voit une file, en se demandant vers quelle émeute on se dirige….
La gentille jeune fille (parce que, oui, elle a vraiment l’air gentille) lui dit cependant qu’en se rendant dans un point de vente « Vivo Rio » à Ipanema (donc, d’ou il vient) il trouvera son bonheur…Le gringo reprend un taxi (oui, je sais, il pourrait rentrer à pied, environ 40 minutes de marche sous 35° alors)…

Comme la billetterie du point de vente du « Vivo Rio Ipanema » ne fonctionne qu’à partir de 14 heures, le gringo, qui croit connaître la chanson, s’y rend à 14h15, histoire que tout le monde s’installe. Là, d’autres gentilles personnes lui disent que le « balconiste » de la billetterie est toujours en train de déjeuner, qu’il est en retard, mais qu’il reprendra son travail à 14h15…Signalant qu’il est déjà 14h15, les gentilles personnes commencent à se disperser, et conseillent au gringo de revenir à 14h30.
Après avoir anesthésier son cerveau, il fait trois fois le tour du pâté de maison, et revient à 14h35 pour constater que le « balconiste » est toujours absent. Avec son humour comme seule arme de survie, le gringo signale qu’il s’agit sans doute d’un problème de mastication pour une meilleure digestion, ce qui lui indique très clairement -au vue de la réaction des gentilles personnes- qu’il ne fera jamais une carrière d’humoriste au Brésil…
Le gentil « balconiste » s’installe tranquille vers 14h50 (bien sûr les bonnes places du début de l’histoire sont parties depuis longtemps) quand survient à nouveau le problème du CPF…Mais comme le gentil « balconiste » est vraiment gentil, il dit qu’à la place de ce numéro, il prendra juste sa date de naissance, ce qui, somme toute, est assez logique…(dîtes moi que c’est logique !!). Bien sûr, le gringo ne pouvait pas payer par carte (mais ça, il l’avait prévu !), et c’est le cœur léger qu’à 15h10, il se promène dans les rues d’Ipanema le trophée entre les mains, en sifflant la chanson du clip ci-dessus…Et en rêvant que Maria Rita, perdue sur le net, ne tombe sur ce texte, et qu’émerveillée par tant d’abnégation, pensera à lui dédier « Cara valente » (« un garçon courageux »), une chanson bien de circonstance... Je crois qu’il le mériterait… !

*"Gringo": terme pour désigner le non-brésilien, sans connotation péjorative.

jeudi 22 juillet 2010

TROPICALIA EUROPEAN SUMMER (2)

Tropicalia spécial artistes de Niteroi

(texto portugês
, texte français)


Para muitos canais de rádio e televisão, o verão é sinônimo de reprogramação, com a veiculação de reprises de transmissões anteriores e diversos.
A Rádio Judaica não foge muito à regra, e assim, o Programa Tropicália encontra-se em férias durante os meses de julho e agosto (verão europeu), até retomar suas transmissões ao vivo na segunda-feira 6 de setembro. Mas nada de pânico !!!
Eu decidi mergulhar nos arquivos do programa para fazer uma repescagem do melhor de Tropicália e aproveitar para reescutar alguns números apresentados sob as ondas em 2009.
Vocês poderão recordá-los ao longo dessas férias na Europa sob o site podomatic e através de nosso próprio blog.
Para começar essa série, aqui vai uma transmissão na qual o assunto central não é outro que alguns artistas de Niteroi (RJ) como Suely Mesquita, Zélia Duncan, Fred Martins, Marcela Biasi...Mas tem espaço também para João Nogueira, Emilio Santiago, Moacyr Luz, Zeca Pagodinho, Fernanda Abreu, Elza Soares, Maria Rita, Natalia Mallo, Pedro Luis e a Parede, Lua, Zeca Baleiro, Mariana Eva, Verônica Ferriani...
Boa audição

Pour beaucoup de chaînes de radio et télé, l’été est synonyme de programmations light, faîtes de rediffusions et divers « best of ».
Radio Judaica ne faillit pas à la règle et Tropicalia se retrouve en congé pour les mois de juillet et août, avant de reprendre le direct le lundi 6 septembre. Mais pas de panique !!
J’ai décidé de faire un plongeon dans les archives du programme pour repêcher le meilleur de l'émission et profiter pour réentendre quelques numéros passés sur les ondes en 2009.
Vous les retrouverez tout au long de ses vacances européennes sur le site podomatic et sur ce blog.
Pour commencer cette série, voici une émission dont le sujet central n’était autre que quelques artistes de Niteroi come Suely Mesquita, Zélia Duncan, Fred Martins ou Marcela Biasi
On retrouvera aussi au long de cette émission : Joao Nogueira, Emilio Santiago, Moacyr Luz, Zeca Pagodinho, Fernanda Abreu, Elza Soares, Maria Rita, Natalia Malo, Pedro Mariano, Lua, Zeca Baleiro, Mariana Eva, Verônica Ferriani.

Bonne écoute… !
TROPICALIA EUROPEAN SUMMER (2)

mardi 20 juillet 2010

« Muito pouco » : Moska no Teatro Municipal de Niterói.

Moska no TMN, 18/07 (foto Daniel A.)

(texte français plus bas, texto português traduzido do francês)

O acaso que conduziu bem os fatos, a partir da recente crônica postada aqui sobre os dois álbuns de Moska -« Muito » e « Pouco »- acabou por me levar a conferir aquele que colocou em cena o novo repertório de seu duplo projeto cd em cena.
O artista iniciou sua nova tounée nos dias 17, sexta, e 18, sábado, agora em julho, no Teatro Municipal de Niterói, esse magnífico pequeno teatro tradicional que merece a travessia da ponte de uns quinze quilômetros –a famosa Rio-Niterói- que liga esses dois municípios do Estado do Rio de Janeiro.

Moska convidao por Casuarina em 2008, no CCC (foto Daniel A.)

Depois do lançamento de seu último álbum, « Tudo novo de novo » (2004), eu tive a oportunidade de entrevistar por duas vezes Paulinho Moska, e de vê-lo em cena participando de projetos bem diferentes : bem rock, revisitando seu (bastante incomum) primeiro álbum solo, em companhia de Rodrigo Santos, no terceiro andar da finada « Letras & Expressões », em 2008 ; bem samba, convidado pelo Casuarina, no Centro Cultural Carioca ; e sobretudo no projeto « Tem Moska no samba », que ele conduziu por bastante tempo através de diversos espaços, junto com o flautista e saxofonista Eduardo Neves.

E depois disso tudo, naturalmente, Moska tornou-se guardião do patrimônio da MPB moderna através de « Zoombido », seu programa de entrevistas via Canal Brasil, que já contabiliza mais de 130 edições ; e são tantos os artistas e encontros que Moska deseja relembrar nesse seu novo show, que ele qualifica a si mesmo de « fotografia desses últimos seis anos ».
Os encontros que o puseram em contato com diversos artistas do continente sulamericano aos quais ele presta homenagem, surgem perto da metade do espetáculo, quando ele interpreta uma sequência de parcerias, como Idade do Céu (Jorge Drexler), Nuvem (Nano Stern/ Moska), e Waiting for the sun to shine (Moska/ Kevin Johansen).

Moska, TMN, 18/07 (foto Daniel A.)

Como a maioria dos artistas que vieram dos palcos (ele fez parte de troupes teatrais e foi membro do grupo performático Inimigos do Rei, nos anos 80), Moska revela um grande desembaraço cênico, o que prende rapidamente a atenção do público.
Se por um lado eu continuo ainda meio dividido acerca do conteúdo dos dois álbuns ( preferindo de longe « Pouco » a « Muito »), por outro, reconheço que os repertórios de ambos se fundem em cena numa osmose de pop inteligente e sutil.
E muitos dos títulos ganham em intensidade ao vivo, como o blues Provavelmente você (Moska), e a bela Saudade (canção já oferecida a Bethânia por Chico Cesar e Moska), nas quais o cantor demonstra sua grande habilidade vocal.
Entre uma canção e outra, o carioca vai reconhecer alguns de seus antigos sucessos, que o pianista Sacha Amback e o violonista Daniel Lopes revisitam com uma nova roupagem instrumental : A Seta e o alvo, Pensando em você, Lágrimas de diamante, Admito que perdi, e, como não podia deixar de ser, O Último dia, que fecha o espetáculo em meio a ecos apocalípticos.

Zélia Duncan e Moska: "Sinto encanto" no bis (foto Daniel A.)

Se ele fala frequentemente em reencontros, aquele com Zélia Duncan, durante o bis, foi mais surpreendente do que o esperado pelo público, que havia entrevisto a cantora na platéia do Teatro.
Em resumo : nesse último fim de semana, Moska deu a largada para uma tournée que será certamente longa, e que, indubitavelmente,
ainda vai crescer em densidade com o tempo. Mas aqueles que já a provaram, com certeza também já a amaram...

« Muito pouco » : Moska au Théâtre Municipal de Niteroí.

Moska, au Théâtre Municipal de Niteroi, 18/07 (photo Daniel A.)

(texto português em breve)

Le hasard faisant bien les choses, après la chronique récente faîte ici des deux albums de Moska -« Muito » et « Pouco »- il ne manquait plus qu’à vérifier ce que donnerait le nouveau répertoire de ce double projet sur scène.
L’artiste initiait sa nouvelle tournée ce vendredi 17 et samedi 18 juillet, au Théâtre Municipale de Niteroí, et rien qu’en soit, ce magnifique petit théâtre vaut de parcourir la quinzaine de kilomètres qui sépare Niteroí de sa capitale carioca.

Paulinho Moska, interview en 2004 (sans barbe!) (photo Daniel A.)

Depuis son dernier album, « Tudo novo de novo » (2004), j’ai eu l’occasion d’interviewer par deux fois Paulinho Moska, et de le voir sur scène dans des projets bien différents.
Soit très rock, revisitant son (très rare) premier album solo, en compagnie de Rodrigo Santos au troisième étage du défunt « Letras & expressoes », en 2008 ; soit très samba, invité par Casuarina au Centro Cultural Carioca ; et surtout dans le projet « Tem Moska no samba » qu’il promena assez longtemps à divers endroit, avec le flûtiste et saxophoniste Eduardo Neves. Il fut d’ailleurs question d’un album qui serait issu de cette rencontre.
Et puis bien sûr, Moska est devenu gardien du patrimoine de la MPB moderne à travers « Zoombido », son programme d’interviews sur Canal Brasil, qui compte déjà plus de 130 numéros, et autant d’artistes et de rencontres que Moska veut évoquer dans ce nouveau show qu’il qualifie lui-même de « photographie de ces six dernières années ».
Des rencontres qui l’ont mis en contact avec divers artistes du continent sud américain auxquels il rend hommage vers le milieu du concert en interprétant une suite de collaborations, comme Idade do Céu (Jorge Drexler), Nuvem (Nano Stern/ Moska) et Waiting for the sun to shine (Moska/ Kevin Johansen).

Moska, show "Muito pouco",
Théâtre Municipal de Niteroi, 18/07 (photo Daniel A.)


Comme tous les artistes qui viennent des planches (il fit partie de troupes théâtrales et membre du groupe performatif Inimigos do Rei, dans les années 80), Moska déploie une grande aisance qui prend rapidement possession du public.
Si je reste très partagé sur le contenu des deux derniers albums (préférant de très loin « Pouco » à « Muito »), les répertoires se fondent sur scène dans une osmose de pop intelligente et subtile.
Et beaucoup de compositions gagnent en intensité, comme le blues Provavelmente você (Moska), ou le très beau Saudade (chanson offerte à Bethânia par Chico César et Moska), où le chanteur démontre sa grande habilité vocale.
De tant à autre, le carioca va rechercher quelques-uns de ses anciens succès que le pianiste Sacha Amback et le guitariste Daniel Lopes, revisitent dans un nouvel habillage instrumental : A Seta e o alvo, Pensando em você, Lagrimas de diamante, Admito que perdi, et bien sûr O Ultimo dia, qui clôt le concert noyé dans des échos apocalyptiques.

Avec Zélia Duncan en rappel (photo Daniel A.)

S’il parle souvent de rencontres, celle avec Zélia Duncan, durant le rappel, était aussi inattendue qu’espérée par le public, qui avait entrevu la chanteuse dans les rangs du théâtre.
Pour résumé, en cette fin de semaine, Moska donna le départ à une tournée qui sera certainement longue, et qui, sans aucun doute, prendra encore de l’épaisseur avec le temps. Mais ceux qui l’ont vu, ont déjà aimé…

lundi 19 juillet 2010

« Melhor assim », Teresa Cristina no Teatro Rival.

Teresa Cristina, Teatro Rival, 17/07 (foto Daniel A.)

(texte français plus bas, texto português traduzido do francês)

Em seu espetáculo «Melhor assim » -como podemos verificar também em seu recente dvd de mesmo nome- Teresa Cristina começa seu show a partir de um exercício que pode se revelar arriscado, se não se está em grande forma vocal. Ela introduz, à capela, alguns versos de A voz de uma pessoa vitoriosa, de Caetano Veloso, e –nesse sábado, 17 de julho, no Teatro Rival- um pequeno resfriado parecia estar lhe causando alguns problemas em atingir certas notas. Mas sempre muito simples e natural, depois da primeira canção -Maria Joana, a pérola de Sidney Miller-, Teresa explica ao público que fará o máximo possível para debelar a gripe no dia seguinte. E na realidade, esse pequeno problema transformou-se rapidamente em anedota, uma vez que sua voz aqueceu-se de vez.

Teresa Cristina "vive" as suas canções (foto Daniel A.)

Ao relembrar as numerosas ocasiões que tive de assistir à cantora, eu me disse que, agora, eu estava frente a uma artista verdadeiramente na auge da sua arte.
Eu não gostaria de traçar um perfil psicanalítico barato de Teresa ; porém, ouso dizer que a partir da maternidade, ela tornou-se uma mulher completa a partir desse evento, o que transparece de maneira evidente através da artista. Ela adquiriu uma segurança tanto como intérprete quanto como compositora –um papel agora definitivamente assumido. Até mesmo visualmente, Teresa tornou-se uma mulher jubilosa, sorridente, que brinca com o público e que « interpreta », ou seja, « vive » as suas canções. O que não era o caso até alguns anos atrás.
Numa entrevista, em 2008, ela me havia dito que não se sentia ainda tecnicamente irrepreensível. Mas é essa voz aparentemente frágil, carregada de emoção (nos lembra Alaide Costa, menos exacerbada), que faz dela uma personalidade única dentre as cantoras de samba.
Quanto ao show, durante o qual eu não fiz anotações, ele me pareceu mais curto do que no dvd, mas foi suficiente para reviver, nessa bela noite musical, a maioria dos títulos do seu repertório, ao qual ela acrescentou Medo de amar... prestando assim uma dupla homenagem : a Vinicius de Moraes (1927-1980), e a Eliseth Cardoso (1920-1990), que completaria 90 anos.

dimanche 18 juillet 2010

« Melhor assim », Teresa Cristina au Théâtre Rival.

Teresa Cristina, Théâtre Rival, 17/07 (photo Daniel A.)
(português em breve)

Dans son spectacle «Melhor assim » -tel qu’on peut le voir aussi dans le dvd récent du même nom- Teresa Cristina commence le show par un exercice qui peut s’avérer périlleux, si l’on est pas en grande forme vocale. Elle entame a cappella quelques vers de A voz de uma pessoa vitoriosa de Caetano Veloso et -ce samedi 17 juillet au Théâtre Rival- un petit refroidissement semblait lui poser quelques problèmes à atteindre certaines notes. Mais toujours très simple et naturelle, après la première chanson (Maria Joana, la perle de Sidney Miller), Teresa expliqua au public qu’elle ferait de son mieux pour reporter la grippe au lendemain. Et en réalité, ce petit soucis devint très vite anecdotique, une fois que sa voix se chauffa quelque peu.
En repensant aux nombreuses occasions qui me furent données de voir la chanteuse, je me disais que j’étais vraiment en face d’une artiste vraiment accomplie.

Teresa, interprète pleinement épanouie (photo Daniel A.)

Je ne voudrais pas faire de l’analyse à deux euros (ou reais), mais depuis sa maternité, le fait de s’être réalisé en tant que femme transparaît de manière évidente au travers de l’artiste. Elle a acquis une assurance en tant qu’interprète mais aussi en tant que compositrice, un rôle définitivement assumé. Même visuellement, Teresa est devenue une femme épanouie, souriante, qui joue avec le public et qui « interprète », dans le sens où elle joue ses chansons. Ce qui n’était pas le cas, il y a quelques années.
En interview, en 2008, elle m’avait dit qu’elle ne se sentait pas encore techniquement irréprochable. Mais c’est cette voix apparemment fragile, chargée d’émotion (on pense à Alaide Costa, en moins exacerbée), qui fait d’elle une personnalité unique parmi les chanteuses de samba.
Quant au show, sans avoir pris de notes, il m’a semblé plus court que sur le dvd, mais c’était suffisant pour revivre en cette belle soirée musicale, la majorité des titres du répertoire auquel elle ajouta Medo de amar, rendant ainsi un double hommage à Vinicius de Moraes (1927-1980) et à Eliseth Cardoso (1920-1990), qui aurait completer 90 ans cette année...

O som de Olinda no Rio : Banda Eddie, Oi Futuro Ipanema.

Fábio Trummer (Banda Eddie), 16/07, Oi Futuro Ipanema (foto Daniel A.)

(texte français plus bas, português traduzido do francês)

…Eis que me dou conta de não ter mencionado ainda que, por razões extra culturais (não necessariamente agradáveis), eu tive que interromper de forma abrupta uma viagem bem recente ao Brasil, cobrindo como de costume o eixo Rio-São Paulo… E cá estou eu de volta, por algumas semanas, certamente.
Mas vejamos o lado bem positivo da coisa : haverá então agora bastante material para alimentar esse blog com novidades musicais super frescas ! (Agora que a Copa do Mundo acabou... ufa !)
E embora eu acabe de deixar um verão europeu particularmente sufocante, o que encontro aqui agora é uma chuva ininterrupta que se abate sobre o Sudoeste do Brasil, paralizando de alguma forma as iniciativas de cada um de nós.

Prédio Oi Futuro Ipanema, rua Visconde de Pirajá

Mesmo assim, foi caminhando por Ipanema na noite dessa última sexta, 16 de julho, que me surgiu a oportunidade de descobrir a Oi Futuro : uma pequena sala de espetáculos que fazia mesmo falta ao bairro. Tanto que a programação sai um pouco do contexto da MPB tradicional, ao propor nomes achegados à cena independente e mais para alternativa.
Para minha maior felicidade, nesse fim de semana é o grupo pernambucano de Olinda, a Banda Eddie, que exibe o cartaz para três dias de apresentação.
Esse grupo me empolga já faz uma dezena de anos, porém ele existe desde 1989, sendo assim uma das mais antigas formações nascidas sob a influência do famoso Mangue Beat, do eixo Recife-Olinda (estambado « Original Olinda style »).

A Eddie, formada em torno de seu líder, o guitarrista e cantor Fábio Trummer, não produz no entanto um som similar ao do Nação Zumbi, esse último o mais ilustre representante dessa onda. Sua música é mais ligeira, saltitante, menos agressiva, e encontra suas raízes nos confins do reggae, do ska, da new wave novaiorquina, e, naturalmente, do frevo e do maracatu.
Fábio Trummer (o único membro original do grupo) tem mais de vinte anos de carreira nas costas, mas o público bastante jovem de ontem à noite devia ser ainda pré adolescente quando, em 1993, Eddie ofertou ao repertório do Mangue Beat uma de suas pérolas, daquelas a serem inscritas no rol de seus clássicos : Quando o mar encher, posta em destaque pelo Nação Zumbi em 2000, e imortalizada na mesma época por Cássia Eller.
Quando o mar encher não constava do repertório de ontem à noite, mas foram alguns outros títulos irresistíveis que botaram fogo na sala, tais como Lealdade, É de fazer chorar, Pode me chamar, Vida boa (absolutamente a top, essa música !). Além dessas, algumas outras partes tiradas de seu mais recente álbum, « Carnaval no inferno » (2008), que eu já procurava havia meses, e que o show de ontem me permitiu finalmente adquirí-lo. Nesse cd, podemos encontrar- além do percussionista Curumin- uma das figuras femininas mais em destaque na cena paulista atual, Karina Buhr, que fez parte integrante do grupo em seus primeiros tempos.

Na próxima semana, será a vez de um outro nome obrigatório da cena Mangue, o Mundo Livre S.A., de invadir o Oi Futuro Ipanema…

Youtube: "Tô cansado dessa..." (com Karina Buhr no vocal)// "Vida Boa"

Le son de Olinda à Rio : Banda Eddie, Oi Futuro Ipanema.

Fabio Trummer, Banda Eddie, 16/07,
Oi Futuro Ipanema (photo Daniel A.)

…C’est alors que je me rends compte que je n’ai pas mentionné que pour des raisons extra culturelles (pas forcément agréables), j’ai dû me rendre de manière impromptue au Brésil, toujours sur l’axe Rio-Sao Paulo…Et ceci pour quelques semaines, très certainement.
Mais voyons le côté très positif de la chose : il y aura donc matière à nourrir ce blog de nouvelles musicales de première fraîcheur !
Tandis que je viens donc de quitter un été européen particulièrement étouffant, c’est une pluie ininterrompue qui s’abat sur le sud-ouest du Brésil, parasitant les initiatives de chacun.

Le bel immeuble, tendance Art Déco, du Oi Futuro Ipanema

Passant par Ipanema, ce vendredi soir 16 juillet, ce fut l’occasion de découvrir le Oi Futuro, une petite salle de spectacle dont le quartier avait bien besoin. D’autant que la programmation sort un peu du cadre de la MPB traditionnelle, en proposant des noms apparentés à la scène indépendante et plus alternative.
Pour mon plus grand bonheur, en cette fin de semaine, c’est le groupe pernambucano d’Olinda, Banda Eddie, qui tient l’affiche pour trois jours d’affilés.
Ce groupe m’enthousiasme depuis une dizaine d’années, mais il existe déjà depuis 1989, étant en cela, une des plus anciennes formations de la mouvance du fameux Mangue Beat de l’axe Recife-Olinda.

Eddie, formé autour de son leader, le guitariste et chanteur Fabio Trummer, ne produit cependant pas un son proche Naçao Zumbi, le plus illustre représentant de cette vague. Leur musique est plus légère, sautillante, moins agressive, et se trouve aux confins du reggae, du ska, de la new wave new yorkaise, et bien sûr du frevo et du maracatu.
Plus de 20 ans de carrière donc, pour Fabio Trummer (le seul membre original du groupe), mais le public très jeune d’hier soir, devait être préadolescent quand en 1993, Eddie donnait au répertoire du Mangue Beat, une de ses perles à inscrire dans ses classiques : Quando o mar encher, mis en exergue par Naçao Zumbi en 2000, et immortalisé à la même époque par Cassia Eller.
Quando o mar encher n’était pas au répertoire, hier soir, mais ce furent d’autres titres irrésistibles qui mirent le feu à la salle comme Lealdade, É de fazer chorar, Vida boa (franchement top celle-là !) et d’autres morceaux tirés de leur dernier album « Carnaval no inferno » (2008), que je cherchais depuis des mois, et que le concert d’hier soir m’a donné l’occasion d’acquérir. Sur ce cd, on retrouve -outre le percussionniste Curumin- une des figures féminines les plus en vue de la scène pauliste actuelle, Karina Buhr, qui faisait déjà partie intégrante du groupe à ses débuts.

La semaine prochaine, ce sera au tour d’un autre nom incontournable de la scène Mangue, Mundo Livre S.A., d’envahir le Oi Futuro Ipanema

CE BLOG EST DÉDIÉ AUX CURIEUX QUI AIMERAIENT CONNAÎTRE L'ART ET LA MUSIQUE POPULAIRE BRÉSILIENNE. UNE OCCASION POUR LES FRANCOPHONES DE DÉCOUVRIR UN MONDE INCONNU OU IL EST DE MISE DE LAISSER SES PRÉJUGES AU VESTIAIRE.