mercredi 29 octobre 2008

Tropicalia 3, 27/ 10 : La ‘Playlist’.

Silvia Machete dans 'Tropicalia 3':
sur scène, elle boit, elle fume...et fait des bulles (Photo Daniel A.)

Générique : YAMANDU COSTA : « Lamentos do Morro » (Garoto )

TRIBALISTAS : « Passe em casa » (Marisa Monte -Margareth Menezes – A.Antunes- C. Brown)
CAETANO VELOSO :
« Os Outros romanticos » (Caetano Veloso)

LUIZ MELODIA : « Paixão » (Luiz Melodia)
FOLIA DE 3 :
« Cartomante » (Ivan Lins -Vitor Martins)

WILSON SIMONINHA :
« Essência » (W.Simoninha -Marcelo Yuka)

RENATO RUSSO :
« La Forza della vita » (P.Vallesi -Dati)

ANGELA RÔRÔ :
« Amor, meu grande amor » (Angela RôRô –Ana Terra)

BELÔ VELLOSO & MARIA BETHANIA :
« Brincando » (Alessandre Leão -Mabel Veloso)

IVETE SANGALO :
« Festa » (Anderson Cunha)


FLÁVIO HENRIQUE :
« Mãe » (Flavio Henrique -Guilherme Wisnik)

ADRIANA PEIXOTO :
« Ação entre amigos » (Dalmo Medeiros –Danilo Caymmi)

ALINE MUNIZ :
« O Baile » (A.Muniz –Marcos de Vita- Eloisa Melro)

SILVIA MACHETE :
« Eu só quero saber de vocé »
(Silvia Machete -C.Nickens)
RODRIGO SANTOS :
« Estrangeiro » (R.Santos –Mauro Sta Cecilia –Mauricio Barros)


ED MOTTA :
« The Runaways » (Ed Motta –Robert Gallagher)

PEDRO LUIS E A PAREDE :
« Tem juizo mas não usa » (Pedro Luis –Lula Queiroga)

LENINE :
« Magra » (Lenine –Ivan Santos)

CHICO CESAR :
« Girassol » (Chico César)

ZECA BALEIRO : « Toca Raul » (Zeca Baleiro )
SUELY MESQUITA & ZELIA DUNCAN : « Imenso » (Suely Mesquita –Zélia Duncan)
ZECA PAGODINHO & JOÃO DONATO : « Sambou sambou » (J.Donato –J .Mello)
MART’NÁLIA : « Ela é minha cara » (Ronaldo Bastos –Celso Fonseca)

THAÍS GULIN :
« Cinéma incompleto » (Arrigo Barnabé –Thaís Gulin)

GLAUCIA NASSER :
« Sambista bom » (G.Nasser –I.Rosa –Marta Costa)

ANNA LUISA :
« Cabra –cega » (Anna Luisa –Emerson Mardhine)


GERALDO AZEVEDO :
« Dia Branco » (G.Azevedo –Renato Rocha)

ALCEU VALENÇA & ZIZI POSSI :
« Tesoura do desejo » (Alceu Valença)

RITA RIBEIRO : « Missiva » (Zeca Baleiro)
NICOLAS KRASSIK :
« Relembrando meu pai » (Dominguinhos)

SIBA E A FULORESTA :
« Toda vez que eu dou um passo » (Siba)

TOTONHO E OS CABRA :
« Tudo pra ser feliz » (Totonho -Toni Monteiro)

CHICO SCIENCE & NAÇÃO ZUMBI : « Macô » (C.Science –Jorge du Peixe –E.BIBlovosky)

ROSA PASSOS :
« Eu sei que vou te amar » (Tom Jobim –Vinicius)

BEBETO CASTILHO :
« A Vizinha do lado » (Dorival Caymmi)

GENTE FINA & OUTRAS COISAS :
« Cochichando » (Pixinguinha)

vendredi 24 octobre 2008

Zeca Baleiro : « Compositores “brega” fazem parte da cultura popular ».

Zeca Baleiro, 19/08 (foto Daniel A.)

Nada mais complicado do que encontrar um artista na correria, em plena promoção do seu novo álbum... Quero dizer com isso que, minhas entrevistas, como jornalista estrangeiro, requerem mais disponibilidade por parte do artista, pois observo sua carreira sob um ângulo diferente: mais geral, num primeiro momento; mas também mais profundo, logo em seguida, explorando as facetas menos óbvias de um compositor. Isso pede tempo e tranqüilidade.
E eu tinha conseguido apenas 20 minutos com o Zeca Baleiro, mas meu objetivo secreto era conseguir “esticar” esse tempo. Afinal, foram quase 60 minutos em companhia do cantor maranhense, bem à vontade…Eu era o último jornalista daquela manhã de 19 de agosto, antes dele provar seu “brunch”… Neste formato de “blog”, decidi deixar muitos trechos, coisa que teria cortado no formato de jornal...
Enquanto explico ao Baleiro o projeto dum livro, a gente começa a falar sobre São Paulo...


Zeca
: ...e você, vai a São Paulo com freqüência?


Daniel
: Bom, só quando eu realmente preciso...


Z
: Você ama mesmo o Rio, hein?


D
: Na verdade eu não conheço bem São Paulo... eu me recordo de uma entrevista sua, parte de um de seus dvd´s, altas horas; e no meio da noite você fala da cidade...


Z
.: É, exatamente... no dvd “Pet Shop mundo cão” ...


D
: Você tem insônia, então deve ser difícil trabalhar de manhã, como hoje, por exemplo... ?


Z
: Quando a gente lança um disco, então, é pior... Mas eu de fato adoro as manhãs. É o melhor momento para me conectar com a tranqüilidade, eu me sinto cheio de energia, cheio de esperança (rs)... cheio de vida, né?


D: Bom, vamos então ao seu disco, que eu escutei rapidamente; afinal, eu não podia chegar aqui sem pelo menos uma carta na manga não é !? Foi o Antônio Miguel, d´O Globo, quem me deu... Rapidinho: já que a primeira coisa que eu li diz “volume 1”, como sou perspicaz , suponho então que vá existir um “volume 2”!!; mas depois de ter lido os textos, eu não tenho outro “gancho”... ou eu passei ao largo...

Z
.: Na realidade é apenas uma chamada de marketing; não há nada que aponte para algo que pode vir a remeter a esse “volume 1”. Você não viu o “release”?


D: Nem o release nem o disco! Eu fui abandonado... (rs), mas você vai me explicar...

Z.:
é, é isso, eu quero te mostrar... e pra te responder à questão do “gancho”...
Há nisso uma certa ironia, na verdade... todo mundo se pergunta do porque do “volume 1”, ainda mais quando o título é “O Coração do homem bomba”.

D
.: Não é um álbun conceitual, então...


Z
.: Não, na verdade o ponto de partida desse projeto é o resultado... Faz três anos que eu lancei meu último disco de inéditas, o “Baladas do Asfalto” (2005), que foi uma tentativa de fazer um pop mais assumido, FM, radiofônico... mais “friendly”, como diriam os americanos... e foi depois de apresentar o show sobre o conteúdo do disco ao longo de dois anos pelo Brasil todo, e assim... foi bom... E ao final de tudo isso, eu senti a necessidade de produzir um novo álbum de inéditas. Eu montei um estúdio para mim em São Paulo, bem pequeno, modesto... mas bom, com tudo que é preciso...e foi um projeto bem agradável, que me demandou menos pressão, e até me poupava de fazer a ponte aérea Rio-São Paulo a toda hora para estar com os músicos... o que me aborrecia um ponto quando fiz os discos anteriores. E agora, eu posso ficar uns cinco minutos no estúdio, sair pra tomar uma cerveja, ou um café numa padaria.


D
.: Pra beijar o português......


Z
.: Isso! (rs)... e então tudo começou a caminhar de maneira mais calma, o que pode ser percebido na fluidez do meu trabalho.


D
.:
...sem pressão...


Z.
: Sem pressão e ao mesmo tempo sem prazo. Já comecei a trabalhar em fevereiro desse ano várias bases para novas canções, algumas recentes mesmo, e outras antigas, recicladas; ou mesmo músicas de outros compositores... até que eu chegue a antever um álbum e uma linha de trabalho. Já trabalhei precisamente em 28 músicas, em 20 dias, e isso com o grupo que toca comigo e de quem sou parceiro há muito tempo... e algum convidado, vez por outra; e tudo de maneira calma, tranqüila... é um projeto do tipo caseiro... o co-produtor é o engenheiro de som que tem viajado junto com a gente todo esse tempo... a rigor, tudo acontece bem à vontade. E essa atmosfera me permite ser mais criativo, mais produtivo... e já eu se falou nisso... vamos produzir dois discos, não vamos ficar num só. E há canções tão boas...


D.: Você estará tão bem quanto neste?

Z
.: (risos) eu não sei... eu gostei muito...


D.: Você não jogaria nada na lata de lixo?

Z.: Eu gostaria que não. E há mesmo músicas que devem ser expurgadas; senão elas viram uma coisa difícil de se esquecer; ficam ocupando um espaço na memória... é preciso livrar-se delas, para dar lugar a um trabalho novo, fresco...E então chegamos à origem da questão sobre fazer dois volumes. Certamente este aqui tem uma identidade mais rítmica, mais festiva; e o próximo será mais calmo, mais doce; e finalmente serão dois discos, com a mesma sonoridade de um mesmo grupo de músicos tocando juntos, mas sem que haja uma coisa conceitual, estudada, cerebral...

D.: ...
É verdade que eu acho esse disco menos cerebral, mais leve que “Líricas”, por exemplo... Mas me desculpe que vou fazer a mesma pergunta que tudo mundo já fez, ou vai fazer... sobre o título ( “O Coração do Homem Bomba” ). Sorry!

Z.: Que nada, sem problema... eu me disponho a responder a qualquer pergunta (rs). O álbum abre com uma vinheta de poucos segundos... tum-tum, bum-bum (rs)... é um tipo de compasso para acalentar... de “acalanto”, “malambaia” ( cantigas de ninar para crianças ); e esse ritmo ficou na minha cabeça, e eu senti que esse timbre soava bem, e era provocador de uma certa maneira... aquilo podia sugerir várias definições... eu entrei em alguns blogs. Eu li que que eu promovia o terrorismo, coisas brutais – isso vindo dessas pessoas que só lêem as coisas literalmente. Mas trata-se de uma alegoria com a vida contemporânea. As bombas somos nós mesmos, à beira de uma iminente explosão; o que é uma idéia evidente, eu sei, não é uma teoria original... Mas se existe alguma coisa que pode fazer retardar o processo de explosão, essa coisa é a música... é a arte de uma forma geral, e a música popular mais especificamente. É que a música tem um aspecto assim, mais imediato, instantâneo. Ela tem um formato mais simples do que as artes plásticas, o teatro, o cinema... é um vetor mais democrático... uma música nos vem, assim, como se diz... como é bom... uma canção de Ray Conning... Jaques Brel ( rs). Existe uma certa onipresença da música popular... ninguém vive sem a música, jamais; mas muita gente pode viver sem teatro, cinema ou outras formas de arte...

D.
: Conheço gente que não tem o menor interesse por música: meu pai, por exemplo; um grande amigo meu..., pra eles a música só serve como fundo sonoro.


Z.: Ah, é ? Mas peça a essas pessoas que puxem do fundo de suas memórias uma música... mesmo uma canção que cantavam pra elas quando ainda eram crianças...

D.
: É verdade que meu pai escutou muito “The Platters”...


Z.
: “The Platters”!!... “Only You”..(cantarolando)! ( rs ).


D
.: Bom, deixemos meu pai quieto. Por que dois volumes, e não um álbum duplo?


Z
.: Eu não gosto... acho muito indigesto... Mas dentro desse contexto, é fato que é uma experiência, essa de lançar dois volumes em três meses... Talvez não seja uma boa estratégia; é uma experiência... comercialmente muita gente acha que não vá funcionar... que os dois discos vão acabar se anulando; vão rivalizar entre si.


D.
: Existe um bom exemplo, a partir da Marisa Monte, com os dois álbuns “Universo ao meu redor” e “Infinito particular”, que venderam bem, ambos...


Z.
: ... mas os dela foram lançados ao mesmo tempo... E, claro, Marisa Monte basicamente é uma artista que vende muito bem... Vamos ver, pode ser uma boa experiência... eu já não trabalho mais tanto em função do mercado fonográfico.... eu já vendi muito bem, e meu primeiro álbum ganhou disco de ouro...


D.: Quais foram os seus melhores em vendas?

Z
.: Os três primeiros: “Stephen Fry...”, “Vo´imbola” e “Líricas” – venderam em torno de 150.000...


D.: ... e não “Pet Shop mundo cão” ?

Z.
: Não ... houve problemas com a falência do selo em pleno processo do lançamento... vendeu 60.000. “Palavras e Silêncio”, com o Fagner, foi igualmente disco de ouro, mas “Baladas do asfalto” teve também uma repercussão menos expressiva.


D.:
Eu achei “Baladas do asfalto” mais difícil de atingir um público mais amplo: mais rock, mais blues...

Z
.: Eu acho que isso se deu num contexto diferente. Os meus três primeiros discos foram lançados numa época de melhores condições de mercado; até mesmo a marisa Monte, que você usou como exemplo, não vende mais como nesses primeiros anos.


D.: Observe que Ana Carolina vendeu muito bem seu último álbum duplo “Dois Quartos”...


Z
: Eu acho isso indigesto; eu não escuto um só disco de uma só vez... Eu preciso refletir sobre ele... Da mesma forma como 50.000 pessoas que irão comprar meus discos no Brasil, esse público vai assimilar isso dentro desses três meses ( três meses entre o volume 1 e o volume 2 ). A gente me pergunta: “Você não acha que é muito pouco tempo entre os dois... ?”. Não, esse projeto é para “agora”. Durante esses três meses, os que quiserem comprar irão comprar; os que quiserem conhecer, buscarão na internet. E assim, finalmente, mais importante para a divulgação do disco – mais do que a imprensa, mais do que as entrevistas, e todas as mídias... é o Show, esse que entra em cartaz agora ( 22.08.2008 ); e esse show vai começar a partir de capitais menos badaladas, como as do Norte do país, como Manaus, Belém... praças mais isoladas, onde os artistas não vão tão freqüentemente... é uma boa forma de se popularizar esse trabalho.


"Todas belas cançoes de amor sao cançoes de despedida..."

D.: E você planeja essa turnée para um ano?

Z.:
Eu creio que sim...quando você vai fazer um show em Brasília, por exemplo, três meses mais tarde há uma expectativa pelo seu retorno. Em Portugal, por exemplo, já me conhecem, e tenho muitos amigos là; e eles lamentam freqüentemente que so faça uma turnée de três meses. Mas depois não há demanda. O mesmo acontece na Espanha, no Canadá... Aqui não; você vai a Curitiba, e você pode retornar ainda três ou quatro vezes mais tarde... Com a tournée “Baladas”, isso durou dois anos. Mas também porque o show evoluiu, e atingiu sua maturidade. Nessa turnée de agora, vai haver mais músicos, vai haver metais... para que o show reflita o disco, bem caloroso, ritmado...


D.: E o repertório inclui o conteúdo do “volume 2” que ainda vai ser lançado?

Z.:
Não! Talvez uma ou dua músicas, e também aquelas que o público sempre pede.


D.:
Para falar mesmo do disco, eu ainda não pude ouvir mais do que uma vez; e assim não posso dar uma opinião minha definitiva; mas eu o achei festivo, alegre, me lembrou aquela tournée que você fez há uns dois anos, que se chamava “O Baile do Baleiro”; estou certo?


Z.:
Ah! Você viu o Bailé?


D.: Sim, e abria com um ritmo meio à la Emerson, Lake & Palmer... e eu pensei comigo mesmo: “olha só, o disco tem o mesmo clima do show...”.

Z.:
É, o clima do disco foi muito influenciado pelo “Bailé”. Esse foi um projeto para se dançar, divertir-se, e de fato essa ambiência permaneceu a mesma no disco.


D
.: Esse projeto do “Bailé” não foi além do Rio, onde eu assisti duas vezes?

Z.:
Não, e a rigor, eu não o promovi além de São Paulo, a sua base. Durou lá. em São Paulo, um mês e meio, toda terça-feira, e foi um grande sucesso. São Paulo é bem receptiva a esse tipo de projeto. Com o tempo, ele cresceu, e me foi requisitado pelo Rio, por Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba, etc... Mas era um projeto muito grande para ser levado em paralelo com outro, que era o que estava acontecendo. E eu coloquei ali toda a minha energia e não criei grande coisa. Agora eu devo me afastar. Eu disse a mim mesmo: “Eu vou me dedicar a trabalhar um disco novo e mais tarde eu vou resgatar esse projeto para fazer um dvd”.


D.: Era aí onde eu queria chegar...


Z.:
É necessário que se grave esse dvd, por se tratar de um projeto muito visual.


D.: Todas as turnées da sua carreira foram imortalizadas por um suporte visual, com exceção do primeiro, correto?


Z.:
Sim, eu acho que sou o artista que mais lançou dvd´s aqui no Brasil (rs).


D.
: Em todo caso, é formidável para mim, que moro longe, saber que é possível através dos dvd´s assistir aos shows brasileiros mais importantes. E voltando ao disco, há um tema que recorrente, em pelo menos três canções, que é o retrato daquela mulher superficial, que você já tratou varias vezes, que tem a seu lado um pobre sujeito, um desgraçado, que diz não receber nada em troca, e que é abusado por ela...


Z.:
(rs) E a minha mulher me disse: “Todo mundo vai pensar que eu sou assim!”


D
.: Será que o pobre Zeca sofreu tanto assim em sua vida por causa das mulheres?

Z.:
(rs) É muito mais interessante fazer músicas que falam de separações do que de um amor que funcione. Todas as canções de amor são canções de despedida, não?


D.
:Sim, como a grande parte das músicas do Roberto Carlos... Nesse álbum aqui tem “Você é má”...


Z.:
...e “Ela falou, malandro”; essa é uma mulher terrível! Essa sim é uma mulher terrível! ( achando muita graça ). É um tema inerente à música popular; se você se lembrar de algumas composições de Cole Porter, Gershwing, Noel Rosa... tem lá essa mulher, essa megera mítica, essa bruxa; mas eu te juro que esse tipo não tem nada a ver com a minha mulher ... tadinha!...


D.: esse “tipo” é muito presente em Jacques Brel, justamente...


Z.
: ...em Gainsbourg também... mas ela guarda também uma grande ironia...


D.: Já tinha trabalhado com o André Abujamara cuja canção “Alma não tem cor”, vocé retomou?


Z.:
Nós nos apresentamos juntos em Cannes, no Middem, e foi a festa total! É uma figura! E essa canção surgiu no repertório dos meus shows em 2006. E todo mundo acha que é uma composição tipicamente minha...


D.: Em todo caso, ela se encaixa pefeitamente no espírito do disco.


Z.:
Absolutamente, e ela é muito alegre, a garotada pede em todos os shows. Ela ficou tão incorporada ao show que eu decidi incluí-la no álbum. Era o momento; ela tem uma função despretenciosa, fluida...


D.: E uma vez seguindo o fio condutor do disco, há dois títulos bem “Baleirista” que são “Madureira” e “Elas por elas”... essa prática de composição que você tem de misturar as expressões tipicamente inglesas, francesas, é uma coisa muito sua...

Z.:
É, eu gosto disso; é como a expressão “mise-en-scène”, que eu escrevi à brasileira, é mesmo intencional... você não vai encontrar no dicionário, mas é um mote já tão incorporado à linguagem cotidiana... mas não à escrita. Eu me permito escrevê-lo à brasileira.


D.: E essa mistura de motes estrangeiros... os brasileiros entendem?


Z.:
Eu penso que sim, mas evidentemente essas “piscadas de olho” musicais mais sutis não aparecem para além da música popular – são os “trava-língua” ( jogos de palavras ). E agora para o show, eu coloquei uma canção de dois “emboladores” nordestinos que se chama “ O Coco do trava-lingua”. E eu mesmo não sei como é que eu vou interpretá-la, eu não sei nem ainda de cor as palavras. Poderia ter sido composta até por um poeta concretista como Augusto de campos, salvo o fato dela ter sido composta por analfabetos.


D.: Mas não é para ser cantada a dois?

Z.:
Não! Enfim, deveria, sim, ser cantada a dois – uma “embolada” se canta a dois, por definição, ..é um desafio; mas eu vou cantá-la sozinho. Não sei como..(rs)


D.: Você agregou uma outra vinheta, composta com o Chico César, “Aquela prainha”...


Z.:
Nada de pessoal contra os gringos, sabe (rs)! A letra é do Chico, e talvez não faça diferença se fala daquela praia do Ceará ou de qualquer outro recanto que os seus amigos europeus compraram... Por um lado é bom, mas por outro eles dominam a arte de devastar esses belos recantos... enfim, às vezes se instala um tipo de convivência com uma certa consciência do meio-ambiente; mas, claro, há uma piscadela de olho meio irônica sobre tudo isso...


D.:
Ainda nesse álbum, encontramos músicas que seriam mais um exercício de estilo do que propriamente voltadas para algum “conteúdo”?


Z.:
Vez por outra, sim; é só isso, mais um exercício verbal, como em “Nega, neguinha” ou mesmo “Elas por elas”...


D
.:
Parece que às vezes o que vale é rimar a qualquer preço... no fundo, você jamais pensou em escrever a poesia sem a música...


Z.:
Sim, já; mas eu nunca publiquei, e nem sei se publicaria um dia.


D.: Mas tratam-se de textos ou de poesias... ?


Z.:
É poesia; eu comecei a escrever a partir da inspiração poética; e depois, enveredado pelo caminho da música, eu fui abandonando... Agora, eu eventualmente exercito meu texto como cronista, a pedido da revista “Isto é”. Eles me convidaram a participar mensalmente.


D.:
... com o objetivo de ...


Z.:
Com nenhum objetivo ao certo... Diversificar.


D.: “A Crônica do Baleiro”...


Z.:
Poi é; há quatro cronistas que se revezam a cada semana... e dentro do meu site eu já venho escrevendo um pouco também. É um espaço onde compilo alguns de meus textos... Mas eu não me sinto investido de qualquer tipo de “missão literária”... hoje em dia pouco importa se escrever um livro... isso festá banalizado.


D.:
Bom, mas quando você faz uso do efeito desses textos “diferentes”, nem que apenas para jogar com com o som desses motes, você o faz sobre uma melodia já composta?


Z.:
Não, geralmente elas caminham justas – letra e melodia – e o tratamento desses motes é conduzido pelo ritmo deles mesmos.


D.: Mas tem algo de muito nordestino nessa forma de compor...

Z.:
Completamente; os repentistas, os emboladores, fazem um tipo de arte popular que eu admiro muito.


Luiz Ayrao, autor de sucessos para Roberto Carlos.

D.:
Você também nutre uma certa admiração por certos autores obscuros; pouco conhecidos ou “malditos”, como Luiz Ayrão, que consta do seu álbum. Quem é ele?


Z.
: Luiz é um compositor que começou com canções para o Roberto Carlos nos anos sessenta. Ele fez sucesso através de duas canções que Roberto cantava e que as pessoas não sabiam quem era o autor... Uma é “Ciúme de você” ( cantando "... mas é ciúme, ciúme de você, ciúme de você..." ) e a outra... é uma música que a Vanessa da Mata gravou... “Nossa canção” ( "Ei, preste atenção... essa é a nossa canção... vou cantá-la seja onde for..." ) . Bom, é dele, é ele é um craque! E dali, para os anos setenta, ele se tornou sambista e começou a lançar discos de samba. Um tipo de samba que o público apelidou pejorativamente de “samba jóia”, no estilo do Benito di Paula, Originais do samba. Eu adoro esse tipo de música. É muito popular, na cabeça das paradas de sucessos.


D.: Do tipo “cafona”, como se diz aqui?


Z.:
Sim, mas com o passar do tempo, elas são ouvidas dissociadas daquele tempo...


D.: “Cafona” ou “brega”, qual a diferença pra você... ?


Z.:
Ah, por assim dizer, é a mesma coisa ... (rs)...mas eu adoro... Como Odair José; mas o Brasil é desse jeito: a gente gosta em segredo, mas não gosta de confessar. É como com os filmes do Almodóvar, com todo aquele “kitch” espanhol, eu acho que é o máximo! Mas no Brasil, ele é esnobado... Pode parecer coisa de liquidação, mas esses cantores têm um valor cultural real. Eu gosto muito de beber dessa fonte dos anos setenta. Essa canção do Luiz Ayrão é de 74... e já se vão 34 anos... parece uma eternidade. Um jovem fã que veio ao meu show, nunca tinha ouvido falar dele. Mas se ele for curioso, ele vai revisitar a obra desse compositor, e vai descobrir coisas fantásticas.


D.: A propósito, me lembro de ter visto alguns cartazes do Luiz Ayrão pela cidade...


Z.:
É possível... ele tem mais de sessenta anos hoje, e é jurado de um programa de calouros, muito popular...

Sergio Sampaio (1947-1994)

D
.: Um outro personagem da música brasileira, bem diferente, que não é conhecido na Europa, que é o Ségio Sampaio...

Z.:
... nem no Brasil!


D.: Eu tenho a impressão de que ele é um artista meio ‘cult’, é isso mesmo?

Z.:
O Sérgio tem uma história muito curiosa. Eu o conheci quando eu ainda era moleque. Os meus irmãos tocavam violão, e eles eram um pouco mais velhos... e levaram o primeiro disco do Sérgio lá pra casa. E fez um sucesso popular extraordinário em 72, 73. Um título que era “Eu quero botar meu bloco na rua”. Era um verdadeiro hino na época da ditadura. Um tipo de canção rebelde que as pessoas cantavam nas ruas, e que vendeu 500.000 exemplares... de compacto simples, sabe... Só um Roberto Carlos podia chegar a um número desses. E a partir daí ele não fez mais nada, nem mesmo quis fazer; você sabe: fazendo o tipo “marginal”... Ele não fez mais qualquer sucesso, e sua carreira desabou dentro de um certo ostracismo... Ele caiu no esquecimento com apenas três discos... O último que ele lançou vai ser relançado com o meu selo, “Saravá Discos”, remasterizado. O Sampaio morreu em 1994, ainda muito jovem, com 47 anos. Ele era “junky”...


D.:
Morto jovem e “junky”, tudo para virar cult...!

Z.:
Pois é, e em 1997, eu participei de uma homenagem que fizeram a ele que se chamou “Balão de Sampaio”, e foi através dessa homenagem que me tornei amigo de seu filho e de sua ex-mulher, duas pessoas adoráveis dos quais sou amigo íntimo. E ela me deu, logo depois daquela ocasião, uma fita k7 demo com diversas canções de Sampaio. Havia a intenção de lançar o primeiro “CD” de sua carreira; mas ele morreu no ano seguinte de uma pancreatite crônica que ele tinha desde a sua juventude. Enfim, uma história breve e trágica, que o colocou nesse panteon cult, mítico, dos artistas “marginais”. Histórias que as pessoas adoram, evidentemente... quando estão vivos ninguém lhes estender a mão, mas depois todos passam a adorar...
O Sérgio Sampaio, foi uma referência muito forte para mim, e então eu relanço esse álbum que se chama “Cruel”, e eu estive sempre associado a ele... muita gente o conheceu através de mim... ele estava completamente esquecido pelas pessoas, mesmo pelos próprios fãs.

D.: Eu mesmo o conheci através desse disco-homenagem de 1997, e essa música famosa, “Eu quero botar meu bloco na rua”...


Z.:
Uma canção envolvente; eu já cantaria “Tem que acontecer”...


D.: Voltando ao seu novo álbum, eu saquei um truque... o título “Você é má”; eu acho que já tinha ouvido esta canção...


Z.:
Um programador de rádio me disse a mesma coisa ontem ( rs). Parece um tipo de canção familiar, a não ser que eu tenha plagiado a mim mesmo, inconscientemente (rs).
As pessoas já a cantam em coro comigo... e eu não a canto há mais de uma semana. Já é um hit. Eu vou fazer uma enquete (rs) pra saber se eu me plagiei.... !!

D.: Já tem algum título que toca nas rádios, um single que, como se diz, “puxa” o álbum?


Z.:
Na verdade, essa forma de funcionamento não acontece ainda muito aqui no Brasil. No Rio, a gente tem duas rádios importantes que tocam MPB: a JB FM e a MPB FM. A JB escolheu “Você é má”, e a MPB FM ainda não encontrou uma música adequada, ainda está à procura... Sobre o álbum, não tem muitas canções no “formato rádio”. No ‘volume 2’, já vai ter mais...


D
.:
O mais engraçado no “Coração”, talvez sejam as vinhetas, aquela do Beethoven...


Z.:
(rs) Essa é engraçada... Talvez seja “paulistana” demais!. Na verdade é uma referência aos caras que vendiam gaz em São Paulo, de porta em porta, o caminhão deles tocava “Pour Elise”, de Beethoven; é muito característico... mas isso tem uns 15, 20 anos... quando o caminhão deles passava, a gente ouvia Beethoven através daquele som horrível...desafinado.


D.:
Eu não acho que todo mundo vá entender (rs).


Z.:
Não vai, não; mas eu acho ela divertida (rs).


D.: A mesma coisa com relação a “Nega, neguinha”; você faz muitas referências ao Candomblé... eu me pergunto se todo mundo aqui compreende esse olhar multicultural...

Z.: É sobretudo um jogo com os motes mais uma vez, um gracejo verbal , como eu chamo, sobre a “bahianidade”, a “africanidade”... todas essas coisas que são ditas sem sequer saber do que se trata verdadeiramente....

...Onde andara Geraldo Vandré?

D.:
Ok, e a gente termina falando sobre o título que fecha o teu álbum, essa carta ao Geraldo Vandré... eu me lembro de ter lido n´O Globo, uns meses atras sobre um leitor que se perguntava onde ele ficava, o que acontecia com ele...a canção vem desse fato?


Z.:
É uma figura muito enigmática da nossa música um tipo de esfinge... ninguém sabe ao certo se ele foi torturado pelo regime militar, ou se sumiu por motivo fútil... mas ninguém sabe de verdade. Dizem que ele é visto freqüentemente em Teresópolis, barbudo, e que mora entre lá e São Paulo... Ele se tornou meio eremita... é uma figura curiosa que eu sempre achei enigmática. E o Chico Cesar, com quem eu não compunha desde muito tempo, me enviou uns esboços de textos cujo um sobre ele que achei fantastico... fazia alusão também àquela marcha da qual ele participou nos anos 60, contra a guitarra elétrica na MPB. É um episódio célebre dentro da época do Tropicalismo, com aquele antagonismo entre as figuras tradicionais da MPB e aqueles músicos cabeludos que queriam mudar a situação – a época dos “Mutantes”.
É uma das reivindicações mais estranhas da história da nossa música. Até o Gil, eu acho que participou...

D.:
Gil? Mas ele usava guitarra elétrica na época!
Os Mutantes eram atras dele...

Z.
: Sim, mas era mais para efeito das manifestações; e havia também o Edu Lobo; enfim, era uma época de confusão ( 1966-67 ). Mas tem uma coisa engraçada: de uma certa maneira, essa marcha deu resultado. Agora todo mundo quer lançar um disco acústico. Não por ideologia, mas por tendência do mercado ( rs). Todo mundo quer lançar seu “Unplugged”; é muito doido! E eu fiz essa música meio bossa... Mesmo que o Geraldo nunca tivesse feito Bossa Nova... mas aquilo tinha a ver com aquela batalha absurda e nacionalista.


D.:
E a carreira dele, durou até quando?


Z.:
A carreira dele foi muito curta, eu acho que depois disso, ele não fez mais nada; Mas ele tinha uma canção super boa: “Fica mal com deus”, que é a minha favorita. Ele fez belas músicas; mas ele é mais conhecido por aquela “caminhando cantando...” o hino contra a ditadura, que até Charlie Brown Jr. trouxe à cena. “Pra não dizer que não falei de flores”.


D: Ah é ? Mas você retomou Charlie Brown Jr, então...nada me surpreende mais...

Z:
(rs) pois é... enfim, em 1978, relançaram um compacto duplo 45 com “Pra não dizer” e “Fica mal com deus”; e foi um sucesso. Mais tarde a Simone relançou também e foi um grande sucesso popular... Acho que ele esta vivendo de direitos autorais, porque essa música ainda toca constantemente no rádio ou em shows.


D.: De volta ao seu disco, “Toca Raul”, já estava disponível...

Z.: Sim, através do meu site, desde dezembro de 2007...


D.: Você a regravou para o disco?

Z.
: Não, eu só remixei... Dentro de todo show pop, tem sempre um entusiasta que te pede pra tocar alguma música que ele gosta, mesmo de um outro artista... No início é só isso; mas depois, vira uma “onda” entre os amigos.


D.: Bom, e agora vai virar um pesadelo, que esse titulo vai levar...

Z.:
(rs) sim, eu criei um monstro!


D.: Antigamente, a gente gritava para que você tocava “Lenha”. Eu li que você não gosta tanto de “Lenha” ( hit do segundo álbum ).

Z.:
Não, tem muita gente que fala isso, mas não é assim. Eu tenho consciência que essa não é uma canção “menor” do meu trabalho... É o meu maior sucesso popular.
É uma canção tão simples em sua concepção que ela toca um grande número de pessoas... mas evidentemente eu não quero cantá-la pelo resto da minha vida.

D.: Pode ser uma canção “brega”...

Z.:
..é, e uma dupla sertaneja retomou “Lenha”; imagina! Mas é bom...Tudo mudo pensa que a canção é deles (rs)


D.:
Bom, Antes de terminar, já que eu vou receber de graça os discos do seu selo “Saravá” (rs), você pode adiantar alguma coisa?


Z.:
Sim, e agora estão saindo duas novas trilhas sonoras, ligadas a espetáculos de dança cuja "Geraldas e avengas" e também o primeiro disco do Tiago Araripe, um cantor do Ceará, que participou de maneira mais periférica da vanguarda de São Paulo; tem um álbum de Lopes Bogéa, e do Antonio Vieira, que é um sambista de 87 anos; esses são os pricipais projetos realizados...


D.: Eu adorei o disco de Lopes Bogéa... mas não são álbuns pra se ganhar dinheiro...

Z.:
(rs) De jeito nenhum; eu gasto mais do que ganho... É esse o impasse do selo nesse momento. É um luxo... um luxo que me custa caro! (rs). Há que se reorganizar para viabilizar isso... Você tem razão; são bons projetos, eu gosto desses “produtos”, mas não é muito viável comercialmente... Porém o disco da Hilda Hirst vendeu até agora 5.000 cópias.


D.: É sua contribuição à cultura, um pouco elitista, talvez..?

Z.:
Sim, mas também é importante.... e agora eu produzo um cantor angolano, que se chama Filipe Mukenga, que é um artista muito interessante também; ele já trabalhou para Flora Purim, Djavan, e que ficou muito tempo sem gravar. Nós nos reencontramos em Cabo Verde, ficamos amigos e eu propus a ele produzir um álbum... esse será o último dessa fase do selo; em seguida vamospensar seriamente em reestruturar a parceria para obter obter uma melhor distribuição... Deve acontecer por volta de outubro.

Desde a entrevista, o Zeca continua sua turnée, e eperamos aquele "volume 2". Quem quiser conferir, "Débora", "Tacape", "E como diria Odaïr" estao disponivel no site oficial do cantor...


"Toca Raul"

samedi 18 octobre 2008

Aviso aos navegantes/ Avis à la population!

Heitor dos Prazeres: guache sobre partitura
"Um Malandro Apaixonado" (col. D.A.)


Caros leitores lusófonos, Gostaria de comunicar algumas notícias e novidades sobre o blog :

1 ) Sobre o nosso programa « Tropicália », veiculado pela Rádio Judaica de Bruxelas : - A interrupção momentânea foi causada para dar espaço às festas judaicas de ‘Soukkot’ e ‘Chemini Atsereth’.
- O programa voltará ao ar na segunda – feira, 27 de outubro.
- Com o início do horário de verão a partir de domingo agora, dia 19 de outubro, aí no Brasil, o programa, sempre com no mínimo 150 minutos de duração, passará a acontecer das 18:30h às 21:00h, hora de Brasilia. E só cliquar nos links à direita.

2 ) … Até que enfim, esse blog, que se chama « Arte e Música Popular Brasileira » vai poder honrar seu título ! Inauguro, finalmente, a seção da « arte popular », através do novo blog, que leva o mesmo nome que esse. Assim como pela rádio, basta clicar no link da coluna à direita para conferir : Arte popular Brasileira.
Por enquanto, infelizmente, será postado apenas em francês… por enquanto...(fora os videos em portugues)

3 ) E começa logo, logo - aqui mesmo – o relato da série de encontros que venho fazendo nesses últimos meses, com feras da MPB. Isso tudo em português! O próximo post, inclusive, relatará a minha entrevista com o Zeca Baleiro, ocorrida em agosto desse ano

Chers lecteurs francophones, Sachez qu’enfin, j’ai décidé d’honorer l’intitulé de ce blog « Art et Musique Populaire Brésilienne », en inaugurant son frère jumeaux consacré à l’Art Populaire Brésilien (APB). Il en aura fallu du temps, je sais…
Il ne sera qu’en langue française pour l’instant. Je vous invite à y accéder en cliquant sur le lien dans la colonne de droite : ‘Art Populaire Brésilien’/ ‘Arte Popular Brasileira’

Concernant le programme radio ‘Tropicalia’ sur Radio Judaica, suite aux fêtes juives de ‘Soukkot’ et ‘Chemini Atsereth’, il ne reprendra que le lundi 27 octobre. Votre patience sera récompensée car je vous prépare un programme de 150 minutes de musiques passionnantes, on en reparlera fin de la semaine prochaine…
L’horaire reste le même, c’est-à-dire de 21h30 à 24 heures. De même, le lien se trouve à votre droite. Radio Judaica, c’est aussi 90,2 FM.

À moins d’un changement de dernière minute, les postes à suivre concerneront le grand artiste du Maranhao, Zeca Baleiro, avec son interview accordée pour ce blog (en portugais), et une approche de sa discographie (en français)… Restez attentifs ! À très bientôt !

mardi 14 octobre 2008

Cartola (1908-1980): Divine samba.

Angenor de Oliveira, ou Cartola (1908-1980)

Tandis que le Brésil continue à festoyer au rythme des 50 ans de la Bossa Nova, il commémore tout aussi justement, au travers divers événements, le centenaire de Angenor de Oliveira (1908-2008). Ce grand sambista, mieux connu sous le nom de Cartola, fut reconnu et plébiscité par ses pairs comme faisant partie des 20 personnalités les plus importantes de la musique brésilienne. Cette grande concertation avait été organisée par la revue « Isto é » en 1999. Cartola fut de ceux qui balayèrent mes préjugés d’entant, quand je rimais ‘samba’ avec rythmes frénétiques, prétextes à l’exhibition de sculpturales ‘mulatas’ qu’on nous servait en documentaires touristiques, ou dans des fêtes pseudo exotiques d’ambassades. De ces fêtes dans lesquelles je ne me suis jamais senti aussi loin du Brésil ! Des compositeurs de samba tels Paulinho da Viola, Candeia, Nelson Cavaquinho, Nelson Sargento ou Cartola, m’ont montré que leur art était riche d’un savoir-faire mélodique et harmonique qui n’avait rien à envier à la Bossa ou à n’importe quelle balade du monde de la musique pop. Ce n’est pas sans raison que le grand musicien de musique érudite contemporaine, Heitor Villa-Lobos (1887-1959) se rendait dans le ‘morro’ de la Mangueira, pour y rencontrer et écouter son ami dont il admirait la finesse des compositions. Il faut dire que l’ami Heitor n’était pas le dernier à vouloir s’encanailler loin des salons mondains !
Comme beaucoup de curieux qui s’initient à la MPB, mon entrée dans l’œuvre de Cartola s’est faîte au travers de deux de ses plus célèbres joyaux : ‘As Rosas nao falam’ (‘Les Roses ne parlent pas’) et ‘O Mundo é um moinho’ (Le monde est un moulin’), cette dernière dans la poignante interprétation de Ney Matogrosso accompagné par le grand guitariste Rafael Rabello (1962-1995), dont j’avais vu le concert lors de la tournée ‘A Flor da Péle’ en 1990. Il m’était difficile de croire qu’un autodidacte de la musique fut l’auteur de mélodies d’une telle beauté. Et je n’avais encore rien entendu…

Affiche du film "Cartola, musica para os olhos"

La vie de Cartola est digne d’un roman et fut d’ailleurs sujette à biographies, comédies musicales, et à un excellent film documentaire – «Cartola, musica para os olhos » - réalisé par Lirio Ferreira et Hilton Lacerda, en 2007.
La vie de l’artiste est liée de manière fusionnelle au quartier de Mangueira, dont il fut l’un des fondateurs de l’école de samba en 1928. C’est à lui que l’on doit les couleurs officielles de celle-ci : le vert et le rose, couleur du manguier, tout simplement. L’Estaçao Primeira de Mangueira reste toujours indubitablement l’école de samba la plus populaire au monde. Elle est à la samba, ce que le club du Flamengo de Rio est au football brésilien.

Cartola, à 11 ans, s'établit à la Mangueira

En 1919, à 11 ans, il s’installe donc à la Mangueira et mène déjà une vie de bohème qu’il partagera avec un de ses plus fidèles complices, le parolier Carlos Cachaça.
Après avoir composé pour le défilé de 1928, ‘Chega de demanda’, il fut très rapidement recherché pour ses talents de compositeur par de grandes vedettes et chanteurs de l’époque tel Mario Reis ou Francisco Alves, qui lui apportera son premier grand succès populaire avec ‘Divina dama’ en 1933. Une petite perle que j’ai connu pour la première fois à travers la voix de Chico Buarque en 1997 sur l’album « Chico Buarque da Mangueira » (mieux vaut tard…) Ces années 30 furent décisives pour Cartola. Il compose pour Aracy de Almeida, Silvio Caldas, Carmen Miranda et travaille avec le grand Noel Rosa (1910-1937). En outre, il se produit sur les ondes de la Radio Nationale de Rio et présente des programmes en compagnie de Paulo da Portela (fondateur de l’école de samba Portela) et d’Heitor dos Prazeres, compositeur et célèbre peintre de la vie de bohème carioca. Mais en 1946, on ne le rencontre plus…L’artiste est atteint d’une méningite et son premier grand amour, Déolina, décède en 1946. Ces événements le tiennent éloigné de la samba et de la Mangueira pour plus de dix ans. Tandis qu’il en en est réduit à laver des voitures dans le quartier d’Ipanema (RJ), le célèbre journaliste Sérgio Porto le retrouve mal-en-point, et décide de le remettre sur les rails.

L'inséparable couple: Cartola et Dona Zica.

Nous sommes en 1956 et Cartola se remet à composer et à reprendre la radio. C’est aussi l’époque où il rencontre Eusébia Silva de NascimentoDona Zica- avec qui il vivra jusqu’à la fin de ses jours. Avec elle, il mettra sur pied en 1964, le restaurant « Zicartola », qui sera le haut lieu de rencontre de la fine fleur de la samba, dans le centre ville de Rio de Janeiro.

Le menu du restaurant "Zicartola"
dessiné par Heitor dos Prazeres (1898-1966)

C’est à cette adresse, dans la bien nommée ‘rue du carioca’, qu’un certain Paulinho da Viola fera ses première armes.
De cette époque datent d’autres bijoux comme ‘O Sol nacera’ (‘Le soleil apparaîtra’) composé avec Elton Medeiros, qui connaîtra plus de 600 versions ; ou encore ‘Alvorada’, autres pièces d’anthologie de la samba. À cette époque, la Bossa Nova commence à s’essouffler, et certains de ces acteurs comme Carlos Lyra et Nara Leão délaissent les appartements de la zone sud de Rio pour s’intéresser à la musique des ‘morros’ et à ses grands sambistas comme Nelson Cavaquinho, Zé Kéti ou Cartola lui-même. Les compositions de ce dernier allaient encore être portées par des cadors comme Clémentina de Jésus, la grande Clara Nunes ainsi que Gal Costa, Caetano Veloso, Emilio Santiago et bien d’autres encore… De façon assez inexplicable, ce n’est qu’en 1974 que Cartola enregistre son premier album sous son nom (il en sortira quatre dont un en public). Et c’est aussi à cette époque déjà tardive qu’il composera les deux classiques que j’ai cité au début de ce post : 'As Rosas nao falam 'et ' O Mundo é um moinho', qui prouvent son éternelle finesse de mélodiste, mais aussi sa subtilité en tant que poète. Malgré son talent et sa reconnaissance, il ne gagna sa vie que très humblement (les droit d’auteurs n’étaient pas régis comme maintenant), mais l’Etat de Guanabara, à l’époque, lui octroya un terrain dans la Mangueira pour qu’il puisse réaliser son rêve : construire une maison aux couleurs de son école de samba tant aimée, peinte de vert et de rose. Les hommages depuis son décès en 1980 furent innombrables. Cependant, je me permets de conseiller l’album « Beth canta Cartola » (2003) de Beth Carvalho, ainsi que l’album et le dvd entièrement dédié au compositeur par le grand interprète Ney Matogrosso (2002).

Ney Matogrosso interprète Cartola (2002)

Cette année parmi les compilations et les hommages commémorant le centenaire de sa naissance, vient également de sortir le très bel album « Angenor » de Cida Moreira. Cartola reste essentiel à mes yeux, pour élargir notre vision de la samba, et nous emmener vers d’autres compositeurs incontournables…et d’autres émerveillements !

En écoute (à droite), As Rosas nao falam et Tive sim par Beth Carvalho et Luiz Melodia.


Ney Matogrosso: "Basta de clamares inocência" (Cartola)



Cartola: "O Mundo é um moinho"

mercredi 8 octobre 2008

Programme ‘Tropicalia’ du 6 Octobre 2008 : ‘la playlist’.

Jussara Silveira, en hommage à Dorival Caymmi (1914-2008)
dans 'Tropicalia' : "La vem a Baiana" (Photo Daniel A.)

Générique : YAMANDU COSTA : « Lamentos do morro » (Garoto)

CAETANO VELOSO & GILBERTO GIL : « Desde que o samba é samba » (Caetano Veloso)
MIÚCHA, JOÃO GILBERTO & STAN GETZ
: « Izaura » (Herivelto Martins/ Roberto Roberti)

CHICO BUARQUE
: « Meu caro amigo » (Francis Hime/ Chico Buarque)

IVAN LINS & LENINE : « Se acontecer » (Ivan Lins/ Lenine)
PAULINHO DA VIOLA : « Argumento » (Paulinho da Viola)
MARINA LIMA : « Três » (Marina Lima/ Antonio Cicero)
MILTON NASCIMENTO : « Certas Cançoes » (Tunai/ Milton Nascimento)
NEY MATOGROSSO & RAFAEL RABELLO : « O Mundo é um moinho » (Cartola)
FRED MARTINS & NEY MATOGROSSO : « Raro & Comum » (Fred Martins/ Marcelo Diniz)
IVETE SANGALO
: « Cravo e canela » (Milton Nascimento/ Ronaldo Bastos)

ZECA BALEIRO : « Nalgum lugar » (E . Cummings/ A.de Campos/ Zeca Baleiro)
ANA CAROLINA : « Retrato em branco e preto » (A.C.Jobim/ Chico Buarque)
FREJAT : « Eu não quero brigar mais não » (Frejat/ Black Alien)
JARDS MACALÉ : « Boneca Semiótica » (Jards Macalé/ R.Duarte/Chacal/ Duda)

ADRIANA PEIXOTO : « De cabeça pra baixo » (Dalmo Medeiros)
LILI ARAUJO : « Roma » (Alegre Corrêa-Lili Araujo)
ALINE MUNIZ : « Não vacile » (Marco de Vita/ Aline Muniz)
BRUNA CARAM : « Palavras do coração » (Otávio Toledo/ J.C.Netto)
FABIANA COZZA : « Incensa » (Roque Ferreira)

GILBERTO GIL : « Eu só quero um Xodó » (Anastácia/ Dominginhos)
CHICO CÉSAR & DOMINGINHOS : « Deus me proteja » (Chico César)
TOTONHO E OS CABRA : « Cabra Pentium » (Totonho/ Toti)
THAÍS GULIN : « Garoto de aluguel » (Zé Ramalho)
JUSSARA SILVEIRA : « Lá vem a baiana » (Dorival Caymmi)
ROBERTO MENDES : « Esse Sonho vai dar » (Roberto Mendes/ Jorge Portugal)
FERNANDA CUNHA & ZÉ CARLOS : « A Violeira » (Tom Jobim/ Chico Buarque)

PARALAMAS DO SUCESSO : « O Calibre » (Herbert Viana)
LOS HERMANOS : « Deixe o verão » (Rodrigo Amarante)
MOPTOP : « Desapego » (Gabriel Marques)
NANDO REIS : « O Segundo Sol » (Nando Reis)
LEGIÃO URBANA : « Há tempo » (Dado Villa Lobos/ Renato Russo/ Marcelo Bonfá)

TOM JOBIM : « Águas de março »-version « Matita Perê » (Tom Jobim)

dimanche 5 octobre 2008

Os desafios de uma re-estréia

Um cardapio musical caprichado...(caricaturas do Chico, cartaz "Musica")

Como montar um cardápio musical caprichado para um público aprendiz...?

Esse foi o grande desafio da retomada do programa “Tropicália”, e acredito que continuará persistindo nos programas por vir. O retorno que tive nessa re-estréia foi fantástico, mas não pude escapar à pergunta que já esperava vinda de boa parte dos ouvintes: “Será que um programa de MPB de 150 minutos, sem os nomes que conhecemos pelo menos um pouquinho - ou dos quais já ouvimos falar - como Caetano, Gil, Chico, Milton ou Roberto pode ser concebido? Ainda mais sem Djavan, Ivan Lins, João Bosco ou Cartola... E cadê o Dorival?!?
Pois é… Foi um pouco de propósito, porém sem tender a um exagero em termos de excentricidade. Quis mostrar que é possível construir uma coletânea radiofônica – várias, na verdade - sem necessariamente apelar para esses ícones incontestáveis. Organizei então vários núcleos dentro dos quais distribuí as músicas por essas mais de duas horas. No entanto, alguns grandes nomes não faltaram: Zé Renato com 'Por que estou aqui', essa linda parceria com Arnaldo Antunes, extraída do seu álbum “Cabô”, de 2000; e também a Bethânia com a Omara Portuondo, 'Marambaia'; sendo a Omara mais conhecida aqui do que a diva baiana.

Mas o momento ansiosamente esperado pelos ouvintes da pura Bossa Nova foi dignamente representado por “Só tinha de ser com você”, do Tom, assim como seu divino 'Retrato em branco e preto' parceria com o Chico Buarque, na versão orquestral cantado por João Gilberto. Na verdade, eu tinha extraído essas duas faixas pré-mixadas do "Chill Brazil 3", provavelmente a melhor coletânea – dentre milhares- que pude encontrar, para quem quer iniciar- se na MPB de um modo geral. São cinco volumes duplos, cada um capitaneado por uma personalidade musical detentora de absoluta credibilidade. O mais recente - 'Chill Brazil 5' - saiu esse ano, e consiste na escolha, pela avaliação esperta do Charles Gavin, de novas boas cantoras. O Charles Gavin, como vocês devem saber, além de ser baterista dos Titãs, sempre foi um pesquisador musical incansável.

Anna Luisa com Edu Krieger no palco do Cinématèque, Rio, agosto 2008 (foto Daniel A.)

Por falar em novas vozes femininas, veiculei a mineira Glaucia Nasser ('Vida em cena') e também a carioca Anna Luisa, com a faixa - título do seu primeiro disco (“Do zero”), parceria de Pedro Luis e Seu Jorge. O seu segundo disco, “Girando”, deveria sair ainda este ano. Foi a prórpia Anna Luiza quem me levou a falar dos dois compositores que a gente cita sem parar quando se refere à nova geraçao de talentos: Edu Krieger e Rodrigo Maranhão. Anna se apresenta regularmente com eles (em breve, no Teatro Rival, no Rio); e não pude também resistir a tocar 'Desafio' do Edu, com sua introdução fulgurante na flauta (na verdade um sampler).

Também do seu álbum “Bordado”, coloquei o irresistível 'Para tocar no rádio', do Rodrigo, que me lembra as melhores canções do Roberto Mendes ou do Gerônimo.
Com 'Mares de Espanha', cantado por Toni Platão, quis mostrar que bons intérpretes não se encontram apenas no meio feminino. Prova disso é que Zé Renato e Ed Motta, ambos presentes no programa passado, constam da minha lista dos melhores cantores do Brasil.

Esperando a volta da Verônica Sabino (foto Daniel A)

Durante esse meu “show” de regresso, quis abrir um espaço para algumas cantoras que parecem ter sumido do mercado por enquanto: Nila Branco, Marcela Biasi e a delicada e sutil Verônica Sabino. Na realidade, essa última não vai demorar a voltar à cena com um novo dvd, reassumindo sua carreira, meio em recesso desde seu disco autoral “Agora” (2003). A Marcela, por sua vez, havia gerado um dos discos mais sedutores do ano de 2004, “Arrastando maravilhas”, que eu já costumava tocar muito na primeira edição do “Tropicalia”. E a roqueira de Goiânia, a Nila Branco, com “Tudo que eu quis” (2004) foi responsável simplesmente por um dos melhores discos pop/rock desses últimos anos. Nesta excelente produção, ela juntava composições do Nando Reis, do Paulo Miklos, do Kiko Zambianchi, do Zeca Baleiro ou do Rodrigo Amarante, numa homogeneidade própria e madura, sem concessões ou fantasias.
Nao pude deixar de apresentar, para quem não a conhecia aqui na Bélgica (ou seja, a maioria...), a Maria Rita. Idem a paulistana “soul” Paula Lima (que desperdiçou seu talento no programa “Icones”, na França, como “La nouvelle star”). E bom, não dispensei também a Roberta Sá, com essa canção que não consigo tirar da minha cabeça: 'Que belo estranho dia…', com sua letra saborosa a serviço duma melodia bordada através de grande inteligência harmônica, da autoria de Lula Queiroga.

Adriana Calcanhotto, sempre muito pedida no 'Tropicalia' (foto Daniel A.)

E por falar em “valores incontestáveis”, toquei 'Mulher sem razão' da Adriana Calcanhotto, intérprete que sempre atraiu a curiosidade dos ouvintes iniciantes.
Creio que Adriana foi a artista sobre a qual recebi o maior número de ligações de ouvintes interessados em obter mais informações. Fechei então o programa com 'Fazê o quê”' do PLaP, faixa do seu primeiro e arrasador disco “Astronauta Tupi” (1997). Acrescentei ainda, como um “bônus”, 'Jacksoul Brasileiro', na versão que junta Lenine e Fernanda Abreu, extraída do álbum “Raio X”(1997), da “carioca sangue bom” – um disco que teve seu equivalente em fita VHS na época, mas que nunca foi relançado em dvd. Uma pena, pois nele podemos assistir à ultima gravação da qual o Chico Science participou, em 'Rio 40°', antes do seu acidente fatal.
E, por fim, antes de introduzir o último disco do Marcelo Camelo, tive que resumir a arte de Los Hermanos, colocando uma faixa do álbum “Bloco do eu sozinho” (2001).

As bolachas recentes...

Demorou um tempão até eu conseguir entrar no mundo introspectivo do Marcelo Camelo, via seu projeto solitário “Sou” / “Nós”. Claro que o Marcelo não consegue atingir aqui o nível de qualidade de muitas composições que ele fez para os Hermanos; mas, afinal, tudo é uma questão de “clima” nesse álbum “zen”. O tratamento das guitaras é exelente ao longo das 14 faixas (demais, mais uma vez, como sempre…). Aliás, a canção de introdução 'Téo e a gaivota' me fez lembrar direto “Sun King”, a canção mais obscura do lendário “Abbey Road” dos Beatles.
Para o programa, decidi colocar 'Mais tarde' um dos títulos mais próximos do universo hermaniano.

Apresentar o Ed Motta (que cancelou seu show em Paris por probelmas de saúde) não foi tarefa muito fácil, uma vez que o cara é multi-…tudo!!
Não consegui entrevistá-lo em agosto por falta de tempo, nem li qualquer entrevista com ele; porém, pressinto que “Chapter 9” deve concretizar o resultado perfeito que o talentoso artista vem buscando desde “Dwitza” (2001). “Chapter 9” é simplesmente brilhante, sem excessos por parte desse músico compulsivo, e exibe sua habilidade como malabarista em canções do mundo jazz / rock ('Tommy boy’s big mistake' ou dos musicais da Broadway ('The Runaways'), viés que ele já explorava em “Aystelum”, de 2005. “Chapter 9” é um grande disco, do qual pincei a faixa de introdução: 'The man from the oldest building'.


Provavelmente devo ser o único a não demonstar tanto entusiasmo com o mais recente cd da Mart’nalia, uma artista – na minha opinião - essencial na estrada da MPB desta década. “Madrugada” é provavelmente o disco mais “internacional” da cantora, o mais liso / limpo, com produção caprichada e tudo. E é isso que me causa um certo problema... parece o disco de uma artista que “se estabeleceu” de vez… De novo, só percebo a genuidade e a malícia que me seduzem na cantora em faixas como 'Ela é minha cara' (Celso Fonseca / Ronaldo Bastos). Mart’nalia também acertou nas versões de 'Sai dessa'(Nathan Marques e Ana Terra) - que passei nas ondas – “Sem dizer adeus” (Moska) e a bela 'Alegre Menina' (Dori Caymmi / Jorge Amado). Talvez a Mart’nalia devesse ter ousado envolver-se um pouco mais nas composições, pois ela já provou seu senso agudo para as melodias irresistíveis. Aqui, nada do calibre de 'Benditas', 'Entretantos', 'Pretinhosidades' ou 'Chega' Enfim: eu esperava mais desse álbum , que fica, de qualquer forma, acima da média dos lançamentos em geral.

Fã do Zeca Baleiro desde o primeiro acorde, apresentei a faixa 'Madureira', bem típica do mundo “baleirista” (que horror, esse neologismo!) e uma das canções do divertido “O Coração do Homen-bomba”, esse ainda bem no espírito dos seus “Bailes do Baleiro” - show que ele levou Brasil afora em 2007. Deixo mais reflexões sobre esse álbum para um post que aborde a entrevista que o artista me concedeu. Um disco bom, porém não tão essencial quanto “Stefen Fry”, “Líricas” ou “Pet shop”.




Veiculei também, como novidade deste ano, 'Quanto tempo' canção leve do conjunto Doces Cariocas, que reúne artistas como Pierre Aderne, Alexia Bomtempo, Dadi, os irmãos Lancelotti… enfim, integrantes dessa “new wave” chique carioca.
Como até mostra a capa, o disco, feito um doce, poderia ser comprado numa confetaria. Muito agradável, leve e despretensioso – passeando entre sambinhas, baladas pop e bossa nova. Mas afinal, um disco talvez mais consistante do que o parece.




Eu já conhecia o perfil da Suely Mesquita através dos trabalhos do Pedro Luis, da Fernanda Abeu e do Moska, e do seu primeiro disco "Sexo puro" (2002) mas foi uma satisfação perceber um rosto e uma voz nessa excelente compositora, quando a vi no “Alegro bistrô” de Copacabana, em agosto passado. E seu novo trabalho, “Microswing”, foi uma das boas surpresas do estoque de discos que trouxe aqui para a Europa. Quer dizer, o álbum não soa perfeito, e tem lá suas fraquezas, mas o achei tocante e humano. Provavelmente por causa da voz muito pessoal da Suely, que alterna entre o pop, o blues, ou até o folk... mas que nao hesita em flertar com o samba. Não resisti e toquei no ar a irresistível 'Zona e progresso', parceria com o Pedro Luis, e faixa título do disco desse último, de 2001.

E até o próximo programa, no dia 6 de outubro, segunda-feira agora! (Para saber como acessar, podem dar uma olhada no post do 23/09...)

CE BLOG EST DÉDIÉ AUX CURIEUX QUI AIMERAIENT CONNAÎTRE L'ART ET LA MUSIQUE POPULAIRE BRÉSILIENNE. UNE OCCASION POUR LES FRANCOPHONES DE DÉCOUVRIR UN MONDE INCONNU OU IL EST DE MISE DE LAISSER SES PRÉJUGES AU VESTIAIRE.