dimanche 17 octobre 2010

Sobrevoando 2010 : abril.

Roberta Campos convida Nando Reis em "Varrendo a lua"


-texte français plus bas
-texto português traduzido do francês

Assim como para 2009, a série de resenhas « Sobrevoando 2010 » se propõe a rever, de forma subjetiva, alguns álbuns lançados ao longo do ano inteiro. Falo daqueles que vieram a me interessar por diversos aspectos. Infelizmente, com alguns encontros musicais faltando, devido à indisponibilidade de determinados cd’s no mercado. Alguns dos álbuns abaixo citados já foram inclusive resenhados aqui no blog, cada qual a seu tempo...

Cada ano nos traz algumas cantoras delicadas que nos propõem repertórios refinados, baseados frequentemente em temas e ritmos regionais, ou ainda aqueles que evoquem um Brasil dos velhos tempos.
Em « Bangüe », Ilana Volcov reúne essas duas tendências, ao descobrir no repertório de ilustres compositores alguns títulos não forçosamente conhecidos, passando bem longe do mainstream das rádios FM.
Encontramos então dessa forma, em « Bangûe », nomes como os de Edu Lobo, Paulinho da Viola, Guinga, Caetano Veloso, Chico Saraiva, Noel Rosa e ainda Tavinho Moura (e a sublime Paixão e fé, canção composta em parceria com Fernando Brant !). O resultado é bom, mesmo que a voz afinada da cantora padeça de um pouco de modulação e possa se tornar cansativa ao longo do disco.

A capa de « Mundo de dentro » mostra um Dori Caymmi concentrado sobre seu violão, de olhos fechados, interiorizado, apenas iluminado sobre um fundo escuro. Não poderíamos encontrar melhor título e capa mais apropriada para ilustrar esse magnífico álbum tão denso, que reúne novas composições e temas já oferecidos a Maria Bethânia (É o amor outra vez) e a sua irmã, Nana Caymmi (Sem poupar coração, Saudade de amar). Ele engloba também antigos temas instrumentais contando com letras compostas por Paulo César Pinheiro, autor de 12 títulos dentre os 13 do álbum. Um trabalho concebido, no final das contas, como « Tantas marés », de Edu Lobo. (vide fevereiro). Dentre as numerosas pérolas, está Quebra-mar, que não deixa de evocar o universo marítimo de Dorival Caymmi, através do minimalismo de sua belíssima melodia. E « Mundo de dentro », o mais recente álbum autoral de Dori Caymmi desde « If ever… », de 1994, é um dos belos álbuns desse ano.

Leve e juvenil, « Varrendo a lua », segundo álbum da jovem cantora e compositora de Minas Gerais Roberta Campos, nos oferece uma música pop e folk revigorante que já faz alguns meses vem seduzindo as rádios FM de inúmeras capitais brasileiras. A tímida Roberta, metida em seu boné tal qual Milton Nascimento, lembra por vezes Mallu Magalhães (em versão menos rock) com a canção Mundo inteiro, enquanto que em Acabou, é inevitável deixar de evocar Paula Toller.
No entanto, a gente pensa mais nas baladas de Nando Reis, sobretudo quando ele compartilha o vocal em De janeiro a janeiro com Roberta, numa composição dela que poderia ter saído da pena do ruivo. « Varrendo a lua » é um álbum despretensioso e atraente.

Os cabarés de má fama e seus fins de noite ; os marinheiros ancorados no porto e as mulheres de vida fácil ; a fumaça dos cigarros, o whisky e os bad boys... Tudo isso já povoava o universo do primeiro álbum de 7 títulos que Renato Godá nos havia proposto em 2009. Em « Canções pra embalar marujos », Godá instala esse mesmo clima em seus 14 títulos gravados de uma só tacada em estúdio. Sem dúvida o resultado é bastante caricatural e previsível ; porém, mesmo assim, depois de algumas audições, ele nos parece irrresistível. Provavelmente porque esse personagem simpatico –sem deixar de comparar com Tom Waits e Paulo Conté- é um artista singular na cena brasileira, e que sinceramente adora o mundo que ele descreve em seu trabalho. E eu, sigo adiante...

Banjo e piano são os instrumentos igualmente recorrentes do cabaré –bem mais chique e intimista- de Thiago Pethit, outro artista cultuado da cena jovem de São Paulo. Uma espécie de alter ego masculino da cantora Tiê (outra artista egressa da cena antenada de Sampa), com quem ele se apresenta regularmente. Thiago passeia sua bela melancolia por 11 títulos no "Berlim Texas".. os quais eu pude escutar através da página Myspace do artista, uma vez não tendo sido possível encontrar seu álbum pelas vias habituais... Mas o ano ainda não terminou, e eu gostei bastante do que eu já escutei até aqui.

Autêntico « mezze » musical, « Mafaro » (já largamente eesenhado a seu tempo aqui nesse blog, capa no texto francês), de André Abujamra, nos impressiona pela riqueza da instrumentação de suas composições, que revisitam as influências do mundo inteiro (principalmente as mais orientais), com esse toque de loucura surrealista que caracteriza o antigo líder do grupo Karnak. Exercício brilhante ; e como todo bom mezze, agrada muito, mas o conjunto da obra é um pouco difícil de digerir...
No campo puramente instrumental, faz-se notar o belo « Chico violão », de Arthur Nestrovsky : violonista, escritor, teórico musical, e atualmente diretor artístico da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo. O musicista revisita, munido unicamente de seu violão, 15 temas de Chico Buarque que vão de 1972 a 2005, com a mesma maestria de « Jobim violão », que foi lançado em 2007.

Dentre as numerosas caixas lançadas esse ano, aquela dedicada a Dolores Duran (1930-1959) certamente aponta como umas das mais preciosas. Ela comporta os 4 álbuns lançados pela artista, 2 compilações póstumas, bem como dois álbuns reunindo outros artistas interpretando suas composições.
Se frequentemente consideramos Maysa (1936-1977) como a cantora mais moderna do final dos anos 50, por suas atitudes e seu modo de vida, Dolores Duran sem dúvida a supera no plano artístico. A excelente intérprete falecida precocemente –muito à vontade nos repertórios em francês, inglês, alemão ou espanhol- é a autora de clássicos inesquecíveis agregados ao Panthéon da canção brasileira. Dentre esses classicos figuram A Noite do meu bem, Fim de caso, Solidão e Castigo ; isso sem esquecer dos textos escritos por Antonio Carlos Jobim (Por causa de você e Estrada de sol) e também por Carlos Lyra (O Négocio é amar, Se quiseres chorar), além de outros colaboradores.
No total, vêm a ser quase 40 títulos de sua lavra que fazem de Dolores uma das primeiras compositoras importantes da música popular brasileira. E sua modernidade na interpretação já a distinguia da dramaturgia vigente dos boleros e do samba-canção da época. …Uma cantora que, se a vida lhe houvesse concedito um pouco mais de crédito, seria sem sombra de dúvida computada como um dos ícones da Bossa nova…Mas também, sem sombra de dúvida, ela já os precedia...

No departamento dos dvd’s : « Melhor assim, ao vivo » (capa no texto francês) de Teresa Cristina (sem o grupo Semente) demonstra que a artista definitivamente ultrapassou as fronteiras do bairro da Lapa, e até mesmo do Rio de Janeiro. O dvd, que vendeu muito bem em todo o Brasil, apresenta o show gravado no Espaço Tom Jobim em outubro de 2009. Teresa, jubilosa e mais extravertida, convida ao palco Seu Jorge e Marisa Monte ; essa última, para a bela canção Beijo sem, de Adriana Calcanhotto. O dvd compreende igualmente reencontros em estúdio com Lenine, Caetano Veloso e Arlindo Cruz
Zizi Possi lança (enfim !) seus dois dvd’s « Cantos & contos », show que comemora os 30 anos de carreira de uma das maiores intérpretes da moderna música popular brasileira, revelada por Chico Buarque (com o título Pedaço de mim) pelo final dos anos setenta. O conjunto da sua obra foi gravado no Tom Jazz de São Paulo, ao longo de vários concertos que se desenrolaram entre março e maio de 2008.
Dentre os inúmeros convidados que se sucedem ao longo de 39 canções, notamos Eduardo Dussek, Alcione, Ana Carolina, Edu Lobo, Luiza Possi, João Bosco, Alceu Valença e Ivan Lins.

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