samedi 26 mars 2011

Escutando hoje: Adriana Calcanhotto.

Adriana Calcanhotto cercada por Davi Morais,
Domenico Lancellotti e Alberto Continento (fot divulg.)


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Quem poderia realmente acreditar por um só instante que Adriana Calcanhotto, uma das mais importantes artistas da cena musical brasileira desses últimos 20 anos, iria se moldar ao estetismo e aos códigos formais do samba?
Se bem que... A cantora de Porto Alegre sempre cultivou essa dupla imagem que nos revelou, às vezes uma artista intelectualizada, e às vezes uma cantora despreocupada como uma criança, quando imerge no mundo no qual ela se transforma em Adriana Partimpim; aquela que nos surpreende pelo refinamento de Esquadros, e aquela que nos apresenta um título « dancefloor » como Maresia; aquela que, enfim, resolve abandonar seus livros de poesia e seus tratados de filosofia para se perverter, beber e flertar nas noites da Lapa, como no título Beijo sem, incluído aqui e entregue em 2010 à interpretação de Teresa Cristina.
Um álbum de samba tradicional não seria de fato algo inconcebível, mas « O Micróbio do samba » é um pouco mais complexo do que isso...

Esse oitavo álbum da artista pertence a um universo mais intimista, e não forçosamente de leitura imediata, com frequência ainda bastante atrelado ao estilo original da compositora gaúcha.
E era uma farefa dificil dar sequência a « Maré », um dos grandes álbuns de 2008, quiçá o melhor de sua carreira.
Ao fazer samba, tal qual o concebemos em seu aspecto tradicional, seu disco só mostra realmente Você disse não lembrar como uma música que mais se aproxima do gênero.
Haja vista que, quando ela nos canta, em Tá na minha hora, seu desejo de juntar-se à Mangueira, ficamos musicalmente mais próximos de Justo Agora, sua composição incluída em « Cantada » (2002), do que de qualquer homenagem tradicional à Estação primeira.
Aqui encontramos a elegância e a sutileza dos sambas lentos em tom menor assemelhados às melhores composições de Paulinho da Viola, quando a cantora nos apresenta os belos Mais perfumado ou Vai saber ? (entregue, esse último, a Marisa Monte , em 2006) ; ou adentramos a atmosfera hipnótica dos afrosambas de Vinicius de Moraes, através de Eu vivo a sorrir, título carro chefe do álbum escolhido para o mercado português.

Com uma instrumentação minimalista centrada em torno das percussões de Domenico Lancellotti (com surdo e tamborim, mas nada de pandeiro !) que pontuam todo o álbum, e também do contrabaixo estertorante de Alberto Continento, Adriana Calcanhotto compartilha por vezes as cordas com Davi Morais, e exepcionalmente com Rodrigo Amarante, cujas notas aéreas da guitarra em Já reparô são igualmente pouco comuns ao mundo do samba, tanto quanto o piano quase impressionista que abre Aquele plano pra me esquecer.
Na realidade, é preciso ouvir o final do disco, com a já mencionada Você disse não lembrar, a marchinha Tão chic, e o frevo Deixa Gueixa, para nos aproximarmos de um clima mais festivo.
O samba de Adriana, filtrado por sua lente peculiar a um universo sutil e feminino, nos oferece então um belo álbum singular, apaixonante como a maioria das obras da artista...

Show da Adriana Calcanhotto, dia 6 e 7 de maio no Centro Cultural de bélem, Lisboa. Resenha do evento aqui, neste blog, e logo no site Tropicalia MPB...


CE BLOG EST DÉDIÉ AUX CURIEUX QUI AIMERAIENT CONNAÎTRE L'ART ET LA MUSIQUE POPULAIRE BRÉSILIENNE. UNE OCCASION POUR LES FRANCOPHONES DE DÉCOUVRIR UN MONDE INCONNU OU IL EST DE MISE DE LAISSER SES PRÉJUGES AU VESTIAIRE.