dimanche 12 juillet 2009

Mestre Vitalino (1909-1963) : O Brasil festeja o centenário de seu nascimento.

Vitalino Pereira dos Santos
e uma das suas mais tradicionais figurinas: o boi.


(Texte français plus bas)
(texto traduzido do post precedente em francês com mais fotos e videos)

Alguém pode se perguntar por que depois de quase um ano e meio, esse blog tem a pretensão de intitular-se pomposamente « Art et Musique Populaire Brésilienne ».
É verdade que, no início, a idéia era a de compartilhar não somente a minha paixão pelas músicas do Brasil, mas também pela Arte Popular Brasileira, que eu considero a arte que verdadeiramente reflete a identidade desse país. Para tanto, eu havia criado um segundo blog (exclusivamente em francês, aqui, sob a coluna à direita dessa página) para o qual eu não tive tempo ainda de dedicar nada além do que um texto introdutório. No entanto, para acrescentar uma nova cor a esse blog essencialmente musical, eu considero interessante falar também de artes plásticas –de vez em quando- partindo do princípio de que as artes – quando elas atingem um patamar de qualidade – são por essência interligadas.
Nesses últimos anos, o interesse pelos mais famosos representantes da Arte Popular Brasileira não fez mais do que aumentar e – em conseqüência – idem suas cotações nas galerias e casas de leilões. Seus valores de mercado acompanham hoje de perto aqueles das pinturas e esculturas classificadas como eruditas que – em sua maioria – bebem mais nas fontes estrangeiras do que na cultura do seu próprio país.
As belas esculturas em madeira de Artur Pereira e de GTO – proeminentes artistas populares – podem chegar facilmente a valores que vão de 15 a 20.000 euros (de 40 a 60.000 reais), enquanto que as estatuetas pintadas de Vitalino do início dos anos cinqüenta chegam sob o martelo dos grandes leiloeiros a 3 ou 4.000 euros (8 a 10.000 reais). Algumas peças desse mesmo artista que já pertenceram à coleção do escritor Jorge Amado, foram arrematadas por 8.000 euros, em dezembro de 2008.
Minha paixão pela arte popular brasileira me veio naturalmente pelo viés da música e de suas letras, reflexo dos diferentes temas concernentes a cada região do país.
Dessa mesma forma, dentro das telas de Heitor dos Prazeres (1898-1966), eu captei o frenesi dos pagodes (reuniões de sambistas), assim como através das esculturas de Vitalino, me vieram à mente todo o cotidiano e o imaginário das regiões agrárias do Nordeste, cantadas à mesma época por Luiz Gonzaga (1912-1989).
Através de sua arte, Vitalino Pereira dos Santos foi o primeiro a se constituir cronista de sua época e de sua região, tão rica em tradições e festas, tanto religiosas quanto pagãs.
Como já foi comentado anteriormente nesse blog, um espaço-galeria dedicado à Arte Popular Brasileira (mas também portuguesa) está sendo elaborado no momento em Bruxelas, com vistas à sua inauguração em 2010. Mas hoje, como o Brasil comemora o centenário desse grande artista que é Vitalino Pereira dos Santos, eu não poderia perder a oportunidade de lembra-lo. Vitalino é uma figura emblemática do Brasil, cuja obra faz parte do currículo pedagógico do ensino geral das escolas primárias. Ele é simplesmente o primeiro nome que vem como referência do espírito brasileiro, quando se trata de evocar a Arte popular, que não é outra senão aquela com « A » maiúsculo.


Eu recomendo que vocês leiam aqui, abaixo, o texto escrito pela jornalista Leticia Lins - publicado no site « Globoonline » - enumerando as festividades e homenagens organizadas para honrar esse grande mestre.
« RECIFE e SÃO PAULO - A revista americana Time publicou na edição de 1º de fevereiro de 1963 a notícia da morte de um importante artista plástico brasileiro. O artista era o pernambucano Vitalino Pereira dos Santos, conhecido no Brasil como Mestre Vitalino, o homem que dava vida ao barro. Nesta sexta-feira, Pernambuco e todo o país lembram os cem anos de nascimento do artista. Em São Paulo, considerada a maior cidade nordestina do país, estão programados shows para o Centro de Centro de Tradições Nordestinas, neste domingo. A Banda de Pífanos de Caruaru se apresenta ao lado de Valdeck de Garanhuns, seu Jorge do Rastapé e a quadrilha Asa Branca. Pernambuco também comemora a data com uma série de homenagens aquele que foi o primeiro artesão do estado a imortalizar no barro os tipos populares do Nordeste: as bandinhas de pífano, os caçadores, os emigrantes, os vaqueiros. Ele viveu no Alto do Moura, no município de Caruaru, a 130 quilômetros de Recife e deixou uma multidão de discípulos que fazem hoje do manipular o barro o seu meio de vida. Calcula-se que só em Caruaru 500 pessoas vivem desse tipo de artesanato. No Alto do Moura está a casa museu onde Vitalino viveu e onde seus filhos dão continuidade ao seu ofício. É lá que acontecem as principais comemorações para lembrar o Mestre, que era também um tocador de pífano - o pife, como dizem os nordestinos da caatinga. Vitalino ganha selo dos correios e também ganha a Medalha comemorativa do centenário, instituída pela Casa da Nieda do Brasil. Além disso, no Alto do Moura, desfilam 26 grupos folclóricos. Para assinalar a data, ainda, Caruaru estendeu seus festejos juninos até esta sexta. O artista também ganha estátua em frente à casa onde residiu e os moradores de Caruaru verão de graça o espetáculo "As Sete Luas de Barro", que conta a trajetória de Vitalino para a fama e os choques culturais que enfrentou ao viajar para cidades grandes como o Rio de Janeiro. Em Recife, a Feira Nacional de Negócios do Artesanato também presta homenagem ao Mestre e para divulgá-la, o Governo de Pernambuco colocou estátuas gigantes dos bonecos do mestre nas principais vias da Cidade. A décima edição da Fenearte se encerra nesse final de semana. Mestre Vitalino nasceu no dia 10 de julho de 1909, na zona rural de Caruaru e morreu de varíola, aos 54 anos.Na cidade, coleções de obras do mestre estão em exposição permanente no museu do barro e no de arte popular. Neste ano do centenário, foram montadas ainda duas mostras de fotografias, uma com recriações de casas de barro, e outra no Recife, com fotos de Vitalino feitas pelo francês Pierre Verger, em 1947. »

1 commentaire:

Olguita a dit…

Belo post, Daniel !
Mestre Vitalino sempre me impressionou tanto pela expressividade de suas peças quanto pela sua consciência social e generosidade. Conta-se que, já famoso, quando questionado sobre a cópia exaustiva de sua "marca", ele respondeu simplesmente que, além de considerar uma homemagem a si próprio, achava justo que outros seguissem seus passos ... "porque afinal, todos precisam trabalhar para comer." Ele mesmo ensinou não só aos filhos de sangue a sua arte, mas a muitos outros, que multiplicaram sua idéia original.
Na feira de Caruaru, em cada peça de barro, pintada ou não, da mais tosca à mais elaborada, pulsa a alma de Vitalino, Mestre no melhor molde daqueles das primeiras corporações de ofícios.
Bjs.

CE BLOG EST DÉDIÉ AUX CURIEUX QUI AIMERAIENT CONNAÎTRE L'ART ET LA MUSIQUE POPULAIRE BRÉSILIENNE. UNE OCCASION POUR LES FRANCOPHONES DE DÉCOUVRIR UN MONDE INCONNU OU IL EST DE MISE DE LAISSER SES PRÉJUGES AU VESTIAIRE.