mercredi 9 septembre 2009

O fenômeno Ana Carolina : 10 anos de carreira.

"...e a platéia parecia bastante aturdida diante daquela bela guerreira
de voz poderosa"
(foto Washington Possato)


(texto traduzido do francês, escrito especialmente para um público francófono que não conhece a cantora)

Isso pode parecer difícil de se imaginar para um brasileiro, mas o nome de Ana Carolina tem pouca ressonância na Europa e nos Estados Unidos. É bem mais provável ter-se a sorte de encontrar na França, por exemplo, o mais recente álbum de Mariana Aydar ou de Vanessa da Mata do que o da cantora de Juiz de Fora (Minas Gerais). Claro que excluindo-se Portugal dessa constatação.
A despeito dos seus recordes de vendas que, no Brasil, deixaram bem para trás seus colegas da MPB tradicional, pode parecer que o plano de carreira de Ana Carolina não tenha previsto uma conquista do mercado estrangeiro. Tanto que através de seu último álbum, « N9ve », é possível até antever alguns sinais de abertura a tanto (ver mais à frente).
Já em 2003, quando eu havia conseguido sem problema todas as entrevistas individuais que eu desejava, pude apenas participar de uma coletiva na qual Ana Carolina apresentou seu álbum « Estampada ». A explicação que me foi dada por seu empresário à época teve o mérito de ser clara : « Nós apreciamos seu interesse pela artista, mas nós não pretendemos distribuir os álbuns da Ana na França e na Bélgica, portanto acho pouco útil tentar organizar um encontro com ela tendo essa finalidade ». É verdade que na época eu ainda não militava nas fileiras das ondas radiofônicas.
Com relação à discografia de Ana Carolina, somente seu cd / dvd em público com Seu Jorge (2005) ficaram restritos a uma distruibuição discreta e mereceram umas poucas linhas por parte da imprensa especializada... graças à presença de Seu Jorge. Mas essa timidez é em sua totalidade bastante compreensível.
Contrariamente a artistas como Marisa Monte, Daniela Mercury, Mariana Aydar, Céu, ou ainda Vanessa da Mata, Ana Carolina pratica uma música brasileira baseada em grande parte nos critérios « pop », muito pouco « exótica » para aguçar a curiosidade dos aficcionados da World Music.
Como me havia dito em entrevista o compositor e cantor Roberto Frejat : « Eu toco uma música influenciada pelo rock inglês e americano, e eu não vejo o porquê de um consumidor estrangeiro interessar-se por um artista que pratica a mesma música que ele já conhece, e ainda por cima cantada em português ». A abordagem musical (sobretudo rítmica) de Ana Carolina me pareceu no entanto profundamente brasileira, mas minha visão sem dúvida alguma já está bem ditorcida depois de tanto tempo.

Foi totalmente por acaso que eu assisti pela primeira vez à Ana Carolina, em 1999, através da transmissão televisiva Bem Brasil, que a consagrou. Esse programa apresentava todo domingo à tarde, veiculado pela TV Cultura, duas apresentações de artistas, captadas ao vivo no Sesc Pompéia de São Paulo. Ana era então praticamente desconhecida do público ; seu primeiro álbum viria a sair na mesma semana, e a platéia parecia bastante aturdida diante daquela bela guerreira de voz poderosa, que já nos havia balançado com Garganta (seu primeiro grande sucesso), Tô saindo, e ainda as versões « viris » de Retrato em branco e preto (Tom Jobim/ Chico Buarque) ou de Alguém me disse (Evandro Gouveia/ Jair Amorim). Ela apresentou um toque de violão percussivo, e surpreendeu a todo mundo ao atacar sozinha com o pandeiro sua composição Armazém. Ana Carolina seguia bem a linha dessa onda feminina dos anos 90, que viu nascer uma geração de cantoras – mas também de compositoras – de personalidade forte, como Cássia Eller, Zélia Duncan e Adriana Calcanhotto - sem esquecer Marisa Monte ou Fernanda Abreu, essas um pouco mais no início daquela década.
Porém, mais que todas as outras, Ana foi a que chegou mais perto dos habituais grandes vendedores de álbuns como Ivete Sangalo e Roberto Carlos (não falo aqui de vendas referentes à musica sertaneja ou de discos de « padres » evangélicos & afins).

« Ana Carolina »
(1999) vem a ser disco de ouro (a partir de 100.000 cópias, na época), e seu segundo álbum « Ana Rita Joana Iracema e Carolina » (2001), foi disco de ouro e de platina. Extraído desse último, Quem de nós dois (Gean Luca Grignani/ Massimo Luca) vem a ser a faixa mais executada no rádio em 2001.
O ano de 2003 será aquele da consagração absoluta para Ana Carolina. Com seu terceiro álbum, « Estampado », ela atinge o apogeu de seu talento, mas talvez também - segundo alguns - seus limites. O álbum é brilhante e contém um número de muitos bons títulos como Vestindo estampado, Encostar na tua, 2 Bicudos ou O Beat da beata. É também o ano do reconhecimento por parte de seus pares. No primeiro dvd de « Estampado » -em parte documentário- a vemos ao lado de Chico Buarque, Maria Bethânia e João Bosco, que não disfarçam sua admiração pela cantora. Ao nível das composições, ela assina parcerias com Chico César, Vitor Ramil, Celso Fonseca e Seu Jorge, ainda que junto com seu velho cúmplice Antônio Villeroy.


Ainda em 2003, através de uma espécie de ritual de sagração, ela reuniu perto de 10.000 pessoas no Claro Hall de Rio de Janeiro, para a gravação de um segundo dvd público.
Pelo fato de ter ido assistir no local, eu posso testemunhar que havia uma certa histeria, atestando que estávamos em plena « Carolinomania ». Um sucesso que começa por sinal a irritar a crítica, de tanto que a artista insiste em não chegar a um meio termo. Ana Carolina tranformou-se numa espécie de cantora barroca, que abusa de efeitos vocais excessivos e que joga com uma subversão um pouco antiquada, ao cantar sua bissexualidade assim com tão pouca sutileza. Mas o sucesso vai crescendo, e o cd/dvd que reúne Ana Carolina e Seu Jorge num concerto acústico em 2005 é novamente ouro e platina, ao passo que, no mesmo ano, a compilação Perfil que é a ele dedicada, ultrapassa os 800.000 exemplares.
Sempre marcada pelo timbre do excesso, Ana Carolina se lança então ao perigoso desafio de apostar num álbum duplo - « Dois quartos ». Mas a inspiração da cantora parece esgotada. A fonte esvaiu-se, e o álbum soa pretencioso e sem fôlego. O público ainda acompanha (disco de platina), mas a crítica se deleita com o declínio. Nesse meio tempo, ela terá assim mesmo ofertado algumas pequenas pérolas de sua criação como Sinais de fogo (c/ Totonho Villeroy) a Preta Gil, Cabide a Mart’nália, Escolher a Luiza Possi, e a muito boa Doida de varrer (c/ Chacall) ao grupo Moinho. « Dois Quartos ao vivo » seguirá o rastro do álbum homônimo em estúdio, e às vésperas de « N9ve », seu mais recente opus, terão sido nada muito menos do que uns três milhões de cd’s que Ana Carolina terá vendido em dez anos de carreira...

Geralmente depois de um prato um pouco pesado demais, a gente se rende a uma canja de galinha para dar algum sossego a nosso estômago. E de certa forma, o álbum « N9ve » é um pouco isso... Depois da overdose de 24 títulos do álbum « Dois quartos », Ana Carolina faz uma dieta ligeira através de um número de faixas inferiror ao que se produz habitualmente. Nove canções, é o bastante... ou é pouco, de acordo com a qualidade destas.
Se « N9ve » não é o álbum da ressureição, ele parece ao menos levar a vantagem de uma convalescença. Pode-se dizer que não é preciso demais para se esperar por tão pouco. Atrás da bela capa minimalista, e a excelente produção de Alê Siqueira e duo Mário Caldato/ Kassin, revela-se um repertório ainda fortemente irregular. 10 minutos (A.C / Chiara Civello)- tango com toques eletrônicos, Era (Ana Carolina)-balada penosa conduzida pelo violoncelo, e Dentro (A.C / Dudu Falcão) –muito previsível- nos batem como frágeis variações de títulos já conhecidos. Em contrapartida, o álbum contém verdadeiras belas surpresas como o samba Torpedo, escrito com Gilberto Gil e Mombaça ; Traição (A.C/ Chiara Civello), composição intimista com acentos jazzísticos ; e o irresistível Tá rindo, é ? (A.C/ Mombaça/ Antônio Villeroy) que nos reporta aos melhores momentos da cantora.
Por outra via, coloca-se a questão do interesse por duetos em inglês (com John Legend, em Entreolhares) ou em italiano (Resta, com Chiara Civello), se é que isso não é justamente para fazer uma tentativa de por o pé no mercado externo. Artisticamente, isso não se justifica. Em resumo, « N9ve » não converterá os detratores de Ana Carolina –mesmo que ela cante de maneira mais comedida, dosando suas capacidades vocais das quais não se duvida mais ! – e alegrará aos numerosos fãs que já o transformam – o álbum – num sucesso de vendas. Que eles se alegrem : já é previsto o dvd...



2 commentaires:

Helaine Giraldeli Balla a dit…

Bonjour, je suis professeur de Portugais dans un lycée brésilien. J'aime la langue Française, mais mon Français n'est pas très bon. Alors...

Aqui no Brasil, Ana Carolina tornou-se sucesso popular no país todo quando "Encostar na tua" fez parte, em 2003, da trilha sonora da novela de Gilberto Braga, "Celebridade", exibida pela Rede Globo de televisão (Tv aberta). Aqui,o artista que não participa destas vitrines de cultura de massa não chega ao conhecimento da grande maioria da população, que está acostumada com a música pop, sertaneja, etc. Uma pena!

Para as pessoas que gostam de música brasileira este blog é um presente.

Um abraço.

Daniel Achedjian a dit…

Merci Helaine! Acho seu francês perfeito! C'est vrai que la participation à une "trilha sonora" d'une novela, est ce que cherche tous les artistes pour une visibilité. Le pouvoir de Globo est décidif à une carrière. O publico deveria ir mais além do que os midias estao oferecendo...Tem toda razao..
Abraço e volte sempre!

CE BLOG EST DÉDIÉ AUX CURIEUX QUI AIMERAIENT CONNAÎTRE L'ART ET LA MUSIQUE POPULAIRE BRÉSILIENNE. UNE OCCASION POUR LES FRANCOPHONES DE DÉCOUVRIR UN MONDE INCONNU OU IL EST DE MISE DE LAISSER SES PRÉJUGES AU VESTIAIRE.