mercredi 14 avril 2010

Cantos e contos : Zizi Possi.


(texto traduzido do francês)

Não é exagero afirmar que Zizi Possi é simplesmente uma das maiores intérpretes da Música Popular Brasileira. E no seu caso, poderíamos quase falar de uma grande cantora de ópera. Seu estilo, dotado de lirismo, de ligeireza, e de pureza não difere muito daquele de outras cantoras de música erudita.
Zizi Possi possui uma técnica irretocável, e nos dois dvd’s « Cantos e contos 1 & 2 »- que comemoram seus 30 anos de carreira- ela mostra que o tempo não desgastou sua voz soberba. De uma maestria técnica que de forma alguma se torna uma barreira para a emoção à flor da pele que ela nos transmite.
Eu fui conquistado pela artista a partir de um show que ela fez em Bruxelas, em 1992 (vide foto em baixo), na época de seu álbum « Sobre todas as coisas », talvez o melhor título de sua discografia. Ela estava então cercada pelo grupo Aquarela Carioca, composto de músicos imcomparáveis como Marcos Suzanno e Lui Coimbra.
Eu guardo, também desse momento, um grande calor gerado pela interação amável com o público, que talvez até contrastasse com a aparente teatralidade de sua atitude cênica.

Zizi Possi com Lui Coimbra, Marcos Suzano e Benjamin Taubkin,
Bruxelas 1992 (foto Daniel A.)


Nascida em São Paulo, Zizi Possi (sob seu verdadeiro nome : Maria Izildinha Possi), foi procurada por Roberto Menescal –então diretor artístico da Polygram- para gravar seu primeiro álbum, « Flor do mal », em 1978. Mas é a partir de sua sublime interpretação do não menos sublime Pedaço de mim, em dueto com Chico Buarque, que a jovem cantora de origem napolitana se revela ao público. Ao longo dos anos 80, ela grava não menos de dez álbuns, com repertórios por vezes irregulares, lançando mão tanto dos compositores clássicos (Tom Jobim, Edu Lobo, Gilberto Gil, Ivan Lins) quanto dos seus contemporâneos que emergiam ao mesmo tempo que ela ( Marina Lima e Herbert Vianna).
Mas se suas interpretações continuavam irrepreensíveis, já os arranjos e a sonoridade pasteurizada e artificial inerentes a todas as produções MPB daqueles anos é que prestaram um deserviço aos discos dessa fase.

Em 1991, Zizi muda de gravadora e de foco musical. Ela grava o magistral « Sobre todas as coisas » (capa ao lado), a partir do título da composição de Chico Buarque e Edu Lobo. Nesse álbum, a cantora cerca-se unicamente de um trio instrumental formado pelas percussões, o violoncelo e o piano, evitando dessa maneira as fórmulas pop habituais da época. Zizi pode então apresentar a total extensão de seu talento, sem artifícios. Assim, são revisitados os clássicos Eu te amo (Jobim/ Chico Buarque), Com que roupa (Noel Rosa), A Paz (Joao Donato/ Gilberto Gil), Barato Total (Gilberto Gil), e O que é o que é (Gonzaguinha).
« Sobre todas as coisas » recebeu o Prêmio Sharp de melhor álbum, e Zizi Possi viu-se agraciada com o Prêmio APCA de melhor intérprete MPB do ano- prêmio esse que ela viria a receber uma segunda vez em 1993, pelo álbum « Valsa brasileira », que se enquadra na mesma linha de seu predecessor.
De volta à Polygram em 1996, a cantora lança « Mais simples », mais lírico e complexo, porém sempre de grande qualidade artística. A magnífica faixa título, assinada por José Miguel Wisnik, obteve aliás uma boa acolhida pelo público.
A partir dali, sua discografia se dispersou um pouco, mas o sucesso popular ampliou-se de forma surpreendente. A artista grava dois álbuns em itlaliano que se debruçam sobre as suas raízes napolitanas : « Per amore » (1997) e « Passione » (1998), atingindo o milhão de exemplares vendidos para os dois (Obs. : « Per Amore » foi tema da novela « Por Amor », uma das de maior audiência da TV Globo, e que levou as mulheres brasileiras à loucura. Com certeza isso ajudou muito na venda estrondosa de « Per Amore »).
Sobreviriam ainda « Puro Prazer » (1999), « Bossa » (2001), e « Pra Inglês ver e ouvir » (2005), três discos que –mesmo sendo qualitativamente bons- trazem quase nada de novo em termos de criativade.


Entre os meses de março a maio de 2008, Zizi Possi empreendeu uma série de 12 shows no Tom Jazz de São Paulo, para comemorar seus trinta anos de carreira discográfica. Para cada um de seus espetáculos, ela requisitou um artista diferente e adaptou o repertório em função do convidado. Isso resultou em 12 apresentações totalmente distintas, que estão compiladas nesses dois dvd’s editados pela Bicoito Fino. São 39 títulos que se sucedem em cena ; ao lado da cantora, os artistas por ela agregados, de uma forma ou de outra : Alceu Valença, Edu Lobo, Roberto Menescal, Alcione, João Bosco, sua filha Luiza Possi, o acordeonista Toninho Feragutti, Eduardo Dussek, Ivan Lins e Ana Carolina. O conjunto, de grande elegância, é degustável sem moderação, e constitui uma espécie de repertório definitivo. Porém esperamos também que seja um ponto de partida para futuros álbuns de referência.

A parte « Contos » dos dois dvd's mostra os depoimentos dos artistas convidados, além das conversas em « off » com o público.

Aucun commentaire:

CE BLOG EST DÉDIÉ AUX CURIEUX QUI AIMERAIENT CONNAÎTRE L'ART ET LA MUSIQUE POPULAIRE BRÉSILIENNE. UNE OCCASION POUR LES FRANCOPHONES DE DÉCOUVRIR UN MONDE INCONNU OU IL EST DE MISE DE LAISSER SES PRÉJUGES AU VESTIAIRE.