mercredi 12 mai 2010

09/05 : O mundo encantado de Adriana Partimpim.

Adriana Partimpim se transforma em "guitar-hero" (foto Daniel A.)

(texte français plus bas, texto portugûes traduzido do francês)

Nesse domingo último, 9 de maio, foi a festa das mamães do mundo inteiro, a festa das crianças que foram ver Adriana Partimpim na matinê da sala Vivo Rio, e a festa dos predadores que foram caçar as mamães celibatárias que lá se encontravam acompanhando suas crias...
Brincadeiras à parte, esse formidável show lúdico chamado « Dois é show », que segue o lançamento do álbum « Partimpim 2 », me conduz a uma ou outra modesta reflexão...

Ao criar a personagem Partimpim, em 2004, Adriana Calcanhotto deu vida a uma nova artista, inteiramente à parte da cena MPB.
Partimpim não é uma pausa na carreira de Calcanhotto… Dessas que alguns artistas se concedem para recobrar o fôlego ; gravando, por exemplo, um disco de « covers » sem maiores esforços (ou qualquer interesse).
Fica-se frente à frente, isso sim, a uma nova personalidade. Um verdadeiro trabalho de aprofundamento da (re)cr(e/i)ação... Frente também a uma cantora que construiu um repertóriuo consistente em dois álbuns, superior àqueles de muitas cantoras nesse mesmo estágio de suas carreiras.
Melhor ainda : Adriana Partimpim torna-se rapidamente uma artista de sucesso. Um sucesso que nada fica a dever à Calcanhotto. O primeiro álbum vendeu mais de 100.000 exemplares no Brasil, o que se desdobra em mais outros muito milhares de cópias em Portugal, tendo à frente de tamanho sucesso o megahit Fico assim sem você (Abdullah/ Cacá Moraes) cantado originalmente pela antiga dupla Claudinho e Buchecha.

Ciranda da bailerina, com versos da letra
na saia "guarda chuva" (foto (Daniel A.)


Uma outra constatação : sob esse exterior lúdico, Adriana efetua um trabalho considerável no campo da educação.
Durante esse show de domingo, foi alucinante (e muito comovente !) ouvir essas crianças entre 3 e 6 anos cantando de cor O Trenzinho Caipira, Bim Bom, Saiba, Ciranda da Bailarina ou As Borboletas. Pois um dia elas se darão conta –uma vez adolescentes-, de que também já interpretaram os maiores poetas e músicos do patrimônio cultural brasileiro. No menu das canções mencionadas, notamos nem mais nem menos do que as assinaturas de Heitor Villa-Lobos, Ferreira Gullar, João Gilberto, Arnaldo Antunes, Edu Lobo, Chico Buarque, e Vinicius de Moraes. Sem esquecer os monumentos populares que são Roberto Carlos/ Erasmo Carlos (Gatinha manhosa) e Bob Dylan (O Homen deu nome a todos os animais, na versão de Zé Ramalho).
Um repertório que se situa a anos luz daqueles de cantoras de músicas tradicionais para crianças ; sem querer, em absoluto, desmerecer aqui a importância destas.
E o espetáculo toca a todos, uma vez que um dia fomos também crianças, e nos lembramos até hoje das canções da nossa infância, assim como aquelas crianças vão se lembrar um dia de suas respectivas. Sem dúvida que alguns desses pimpolhos desejarão, mais tarde, saber um pouco mais sobre esses personagens marcantes de sua cultura.

Momento voz/ violao: Gatinha Manhosa (foto Daniel)

E para nós, adultos, o que nos diz Partimpim (sem perceber, sem dúvida !) ?
Aquilo que sabemos muito bem ! Que somos complexos e múltiplos, feitos de diversas personalidades por vezes contraditórias. E que sob as pressões da sociedade, até por instinto de sobrevivência, tentamos forjar para nós mesmos uma personalidade monolítica aos olhos dos outros. Isso quando não são os outros que a forjam para si próprios e ao mesmo tempo para nós...
Nada de muito novo com relação a tudo isso, a não ser pelo fato de que Adriana transpõe essa idéia para dentro de sua arte, coisa que geralmente não é permitido nem apreciado. O artista obriga-se a ser rotulado e categorizado, sob pena de ser taxado de temperamental ou volúvel. Muitos escritores utilizaram, para evitar esse tipo de patrulhamento, diversos pseudônimos, a fim de abordar gêneros literários diferentes que gostariam de experimentar (e que direito alguém tinha, por exemplo, de recriminar Vinicius de Moraes, que passou de « grande poeta » a « poetinha-menor », pelo simples fato de ter colocado sua prosa à disposição da música... ?).
Mas a céu aberto, Adriana consegue apostar na criação de uma segunda artista, e deixa a critério de cada um comprar os álbuns da Partimpim, mesmo que a pessoa não aprecie a obra da Calcanhotto…E vice versa.

Partimpim e seu laboratório de brinquedos (foto Daniel A.)

Adriana Calcanhotto há muito é considerada, e com razão, uma artista bastante cerebral. Porém, ela sempre deixou transparecer, através de seu repertório, um quê de extravagância e uma doce insensatez. E foi sem dúvida para não cair na mistura de gêneros que Calcanhotto criou Partimpim, com o sucesso que comprovamos.
Desde seu primeiro álbum, Partimpim constitui para si um repertório feito de canções que, de uma forma ou de outra, possam evocar o universo da infância. Seja pela melodia, seja através das letras. Sem que nada caia no infantilismo.
Mas é no palco que ela toma toda a sua real dimensão. Um palco que transforma-se num laboratório de brinquedos –próximo ao mundo de Alice no país das maravilhas- com lápis de cor e lâmpadas superdimensionadas, balões enormes, animais gigantes em papel, caixas de música ; e também instrumentos de percussão improváveis, que os músicos têm um prazer todo especial em fazer uso deles. Aliás, será que existem hoje no Brasil músicos mais alegres e sortudos do que esses de Adriana Partimim ?
Cercada por Moreno Veloso, Domenico Lancellotti, Davi Moraes (o com cabeça de leão na foto) e Paulo Rocha, Adriana apresenta seu mundo encantado sem pudor.
Um pudor que nos impede muitas vezes de expressarmos nossa (grande) porção criança. Nesse último domingo, frente a Adriana « Calcanhotto » Partimpim, todo mundo passou a ter a mesma idade...

2 commentaires:

Unknown a dit…

Nossa em alguns momentos achei que esse post fosse para falar de um show dedicado ao público infantil, em outros momentos pensei estar lendo um estudo das personalidades humana. E no final ví que estavámos falando da Adriana Partimpim Calcanhoto.

Anonyme a dit…

Muito raro mesmo isso, uma artista criar "outra". Uma ânima com duas personas. Trabalho duro, esse da Adriana; ela é perfeccionista.

Bjs.
Olguita.

CE BLOG EST DÉDIÉ AUX CURIEUX QUI AIMERAIENT CONNAÎTRE L'ART ET LA MUSIQUE POPULAIRE BRÉSILIENNE. UNE OCCASION POUR LES FRANCOPHONES DE DÉCOUVRIR UN MONDE INCONNU OU IL EST DE MISE DE LAISSER SES PRÉJUGES AU VESTIAIRE.