dimanche 2 mai 2010

Escutando hoje : Antonia Adnet, Clara Moreno, Os Cariocas.

(texte français plus bas, texto português traduzido do francês)

Há quatro anos que Antonia Adnet é essa jovem instrumentista discreta que, no palco, à direita de Roberta Sá, se esconde atrás de seu violão quase grande demais para si.
« Discreta » é também o título bem escolhido para o primeiro excelente álbum desse outro membro do clã Adnet, uma família inteiramente devotada à música. Ao lado de Mario Adnet – que coproduz o disco- podemos citar Joana, Chico, Marcelo, Muiza e Maucha, não muito certos de que a lista soe exaustiva...
Antonia não poderia ter encontrado um título mais adequado para um álbum.
Com sua pequena voz doce, ela acaricia 12 pérolas, das quais a maior parte é de sua autoria. Assim viajamos por entre a bossa, o samba ligeiro, a marchinha, e o chorinho.
« Discreta » poderia ter sido simplesmente apenas mais um álbum dentro desses estilos já muito usuais no mundo das cantoras ; porém, a qualidade das composições e os arranjos –assinados também em parte por Antonia- a colocam acima dessa fornada de artistas. Minhas preferências vão para a faixa título assinada por Antonia e João Cavalcanti (do grupo Casuarina), Vem e vai (Antonia Adnet/ Ana Clara Horta), e Pessoas incríveis (Mario Adnet/ Bernardo Vilhena). No mais, as três faixas instrumentais colocadas estrategicamente ao longo do disco (pode-se dizer que equalizando o espaçamento entre as canções). Dentre essas, Vitrine : um chorinho pouco conhecido dos anos 40, do mestre Moacyr Santos.
Do alto de seus 24 anos, Antonia Adnet encontra-se então atuando em todos os campos da elaboração de « Discreta », que se revela uma muito (muito mesmo !) bela surpresa desses primeiros meses do ano.

Sexto álbum, já, esse « Miss Balanço » de Clara Moreno (filha de Joyce Moreno e Nelson Angelo), e talvez o de título mais acertado de sua discografia. E como no caso de Antonia Adnet, um disco cujo título não esconde qualquer enigma. Clara talvez não possua a mesma voz suave de sua mamãe, mas ela é sem dúvida mais tônica e perfeitamente adaptada ao repertório majoritariamente ritmado do disco. A grande proeza de « Miss balanço » recai no fato de nos restituir um som e uma instrumentação que nos faz mergulhar novamente no tempo abençoado da bossa jazz e o sambalanço da primeira metade dos anos sessenta. Ou seja, também no swing de Jorge Ben em seus melhores anos, ou ainda nos discos de Elis Regina dessa mesma fase.
E os títulos incluídos datam para além dessa época de ouro : de Jorge Ben(jor), ela resgata Bebete Vambora e o menos conhecido Uala uala-la ; quatro composições de Orlandivo, compositor produtivo dessa época (e que participa vocalmente em Tamanco no samba ) ; Que besteira, título raro de Gilberto Gil e João Donato (que martela aqui seu piano de forma cubana nos três acordes do blues) ; Jeito bom de sofrer, do repertório de Wilson Simonal; e ainda o eterno clássico de Tito Madi, Balança zona sul. Conferimos também Pourquoi ? (nega com sandália), composição que Elza Soares havia cantado em 1967 (a esse respeito, Clara Moreno foi uma das raras artistas a ter me concedido uma entrevista na língua de Molière, com Francis Hime e Mariana Aydar).
« Miss balanço » é lançado agora no Brasil, mas já existia na Europa com uma outra capa desde 2009. Um bom álbum, cuja maior qualidade é a de soar particularmente verdadeiro !

Os Cariocas é mesmo o mais antigo grupo vocal do Brasil ainda em atividade ? Sim, se considerarmos que ele ainda é regido por um de seus membros fundadores, Severino Filho, que participou dos primeiros momentos do grupo, em 1942. Não, se levarmos em consideração a formação do Demônios da Garoa, de São Paulo, nascido em 1940 ; porém, seus dois últimos membros originais faleceram ao longo desses últimos dez anos.
O fato é que os grupos vocais sempre foram uma tradição musical no Brasil, e ainda o são atualmente.
E Os Cariocas, atores importantes dos primeiros anos da Bossa Nova, pertencem há muito tempo à história da música popular brasileira.
Então, poderíamos nos perguntar por que esse último álbum, « Nossa alma canta », foi recebido pela crítica com elogios que não foram dispensados a seus discos precedentes. Sem dúvida porque o grupo se afasta um pouco dos álbuns convencionais concebidos sob o mesmo molde, girando em torno dos eternos clássicos da bossa nova.
O quarteto composto por Hernane Costa, Neil Teixeira, Eloi Vicente e Severino Filho renova em parte seu repertório, o que resulta num frescor e num espírito que a formação havia perdido um pouco.
O disco abre com a bastante solar Rio que corre (Joao Donato/ Lysias Ono/ Beth Carvalho) e sua orquestração luxuosa de metais, para encadear com uma composição tão bela quanto rara de Newton Mendonça (1927-1960), Quero você, mostrando que o grupo decidiu resgatar algumas pérolas esquecidas no fundo do baú. Outros bons momentos : a reedição swingada de Você vai ver (Antonio Carlos Jobim) ; ou Baiãozinho, que conta com a participação prestigiosa de seu autor, Eumir Deodato. Outras faixas também contam com a participação especial de seus autores, como Jet Samba com Marcos Valle ao piano, e Clube da esquina 2 com a voz celestial de Milton Nascimento. O grupo mostra ainda sua habilidade vocal milimétrica na intodução de Jet Samba e em Delírio carioca, uma faixa sinuosa de Guinga e Aldir Blanc, inteiramente à capela.
Mas que se tranquilizem os puristas, pois Os Cariocas guardam ainda a mesma essência de sua música, e o espírito bossa habita mais do que nunca nos clássicos Samba do carioca (Carlos Lyra/ Vinicius de Moraes), Você (Roberto Menescal/ Ronaldo Bôscoli) e Rapaz de bem (Johnny Alf).
Como escreveu Ruy Castro no libreto do cd, « Nossa alma canta » é sem dúvida a melhor produção do grupo desde a série de clássicos gravados nos anos 60. E ao escutar esse magnífico álbum, nada podemos fazer a não ser lhe dar toda a razão.

videos: Clara Moreno, making of de "Miss balanço" em estudios, e Antonia Adnet: "Discreta".
Para Os Cariocas, vide o texto francês no post anterior...

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