mardi 15 avril 2008

Carta ao Rio 2008 / 1. Lui Coimbra

Lui Coimbra, 19/03/2008 (foto Daniel A.)

Foram muitos os títulos que me vieram à mente para melhor representar o final dessa minha trigésima segunda viagem ao Rio: “Canção da despedida”, “... é o fim do caminho”, “Samba da volta”; tantas referências e canções famosas, mas ao mesmo tempo tantos clichês um tanto pesarosos...mas “sei que ainda vou voltar...”

“Carta ao Rio” (um flerte com a “Carta ao Tom 74”) também não soa lá muito original, mas pelo menos não carrega essa impressão de despedida dolorosa, que de fato não corresponde ao meu sentimento ao voltar para Bruxelas.

Na verdade, os dias que se seguem a uma visita ao Brasil me proporcionam momentos prazerosos para curtir – deixando de lado as contas que se acumulam na minha caixa de correio – as imagens e os sons do Rio. Posso então, agora, me deliciar com os livros, CDs e DVDs que trouxe comigo - frutas que colhi na sua terra para degustar com a devida calma.

Também por ocasião dessa viagem, como já aconteceu em outras anteriores, pude assistir a vários shows antes mesmo de ter ouvido os mais recentes CDs dos artistas. Mas esse não foi o caso do Lui Coimbra.

Acredito que vocês conheçam, ao menos superficialmente, esse violoncelista excepcional, com seu jeito simpático e charmoso. Eu o conheço bem, e fui a seu show, no dia 19 de março, que eu assisti primeiro, assim que cheguei ao Rio, na pequena e aconchegante casa “Conversa Fiada” – espaço que eu não conhecia, na Vinicius de Moraes, em Ipanema. Lui foi um dos integrantes, até certa época, da banda instrumental “Aquarela Carioca” (contando, dentre outros, com o percussionista Marcos Suzanno) - da qual as pessoas se lembram mais como a banda que acompanhou o Ney Matogrosso no excelente disco “As aparências enganam” (1993), ou a Zizi Possi em outro grande trabalho que é “Sobre todas as coisas” (1991). Discos cujas turnês passaram pela Europa, e às quais tive o prazer de prestigiar em Bruxelas... (those good old days...!).

Zizi Possi e Aquarela Carioca em Bruxelas, 1992. Lui Coimbra e Marcos
Suzanno a esquerda (foto Daniel A.)


Como músico de acompanhamento, Lui tocou nos discos e shows de Ana Carolina, Paulinho Moska, Zeca Baleiro, Gil & Caetano (“Tropicália 2”) e ainda Alceu Valença (“Sol e Chuva” – 1997). Aliás, foi depois de uma entrevista com esse último, o Alceu, que tive a oportunidade, levado pelo próprio, de assistir em seu estúdio no Leblon a uma gravação da trilha sonora do filme “Cordel Virtual”, sobre diversos nomes da cultura nordestina.

Uma vez no estúdio, lá vi o Lui Coimbra, sob as ordens “tiranas” do “Bicho Maluco”. Durante um intervalo, Lui e eu conversamos, e marcamos então uma entrevista para falarmos do disco que ele havia acabado de lançar: “Ouro e Sol” (2004); o qual, por acaso e para sua própria surpresa, eu já tinha escutado. Pois saibam que o cara, além de um grande violoncelista e violonista, revelou nesse álbum seu talento como compositor, dotado de uma belíssima voz.

Naquela ocasião, por conta do seu total envolvimento com a fenomenal turnê “Estampada”, da Ana Carolina, eu só podia encontrá-lo de manhã bem cedo. Combinamos então lá no flat que eu tinha alugado em Ipanema, na hora do café da manhã; e aí ele me aparece com esses bolinhos - “sonhos” - que eu não conhecia até então. Aliás, acho que desse café só me lembro desses bolinhos maravilhosos...

Agora, falando sério: o Lui é um cara super educado, entusiasmado pelo seu trabalho, e a gente conversou sobre o seu disco, e também, sobre peculiaridades de alguns artistas com quem ele já tinha tocado.

Eu já tinha visto o Lui durante um show dele mesmo, no projeto “Novo Canto”, que eu adorava, e que tinha por objetivo revelar artistas ainda pouco projetados no circuito nacional; nas mídias, enfim.

A Conversa Fiada, bar, restaurante, casa de show no segundo andar.
Rua Vinicius de Moraes, Ipanema (foto divulgaçao)

Agora, voltando ao show no “Conversa fiada” , esse tinha como roteiro base quase o próprio CD “Ouro e Sol” (selo Rob Digital) – contendo a própria canção-título, de uma música do Sting. Acredito que o disco possa ser encontrado ainda na Fnac ou na Livraria Saraiva.

Mas esse carioca não consegue esconder sua paixão pela música nordestina. A abertura do show, somente com sua voz (se diz ‘a capela’ em francés), assim como no disco, da canção “Astrologia” (poesia de Mário Quintana musicada pelo Lui) foi carregada de uma forte emoção. Depois se seguiram outras composições de sua autoria e covers de Zeca Baleiro (“Babylon”) ou Pedro Luis (“Fazê o quê?”). Nesse ponto, talvez ainda impressionado por “Astrologia”, dei por falta de outra música do disco: “O idiota desta aldeia”, também um poema de Quintana, musicado por Lui em parceria com Admar Branco.

Engraçado isso, inusitado... ver um cantor / violoncelista à frente de um palco, acompanhado por uma banda de instrumentistas de primeira linha atrás.

Já os pontos mais fracos do show foram as canções interpretadas por Lui com seu violão, chegando mesmo perto de um romantismo brega.

Mas poucos foram esses momentos, e a pequena mas compacta platéia do lugar, bem intimista, ficou bastante entusiasmada, formando uma roda durante “Minha ciranda” (Capiba) – retomada no bis.

Esse primeiro show da minha viagem não caberia, por assim dizer, na absoluta atualidade musical brasileira; mas o Lui Coimbra é um músico que sempre teve sua importância na moderna MPB, e que é por isso, e com toda a razão, respeitado por seus colegas...

7 commentaires:

Eduardo a dit…

Grande Daniel. Quando estive no Rio, você já tinha ido embora. Mas acompanhei seu périplo carioca e vi que, de belga, você tem mesmo é o passaporte, pois, pelo pessoal que você conhece, você hoje já está ficando mais carioca do que eu, exilado desde 1991 em Brasília. Vou ver se consigo te mandar o nº9 da Brasileiros, revista onde estou hoje. A capa é uma matéria do Ruy Castro contando tudo sobre a gravação de Getz/Gilberto, o disco que realmente colocou a Bossa Nova no mundo. E o Lui, uma grande figura, é meu concunhado. Abraços. E volto depois.

Anonyme a dit…

Daniel, é impressionante como eu tenho andado longe da música brasileira. Acho super legal resgatar esse tipo de atista também: o "musiciste". Que componha - ótimo, melhor ainda! O que seria dos "megastars" se não fossem esses caras como o Lui, hein?

Daniel Achedjian a dit…

Espero essa revista Eduardo, ja que o Ruy Castro escreve com muito humor (depende do assunto, claro). Fiquemos em contato, e obrigado para seguir meus passeios atraves da sua musica, grande abraço!E uns desses dia vamos se encontrar sim.....

Daniel Achedjian a dit…

prezada Olga!E Verdade, esses musicos sao tao importantes, veja como o Celso Fonseca construi sua carreira, depois de ter sido um guitarista de estudio e acompanhador!! Beijo...

Anonyme a dit…

Não conheço o Ruy Coimbra , mas do jeito que vc "vendeu" ele, estou "comprando. bjs /tuka

Anonyme a dit…

O Lui Coimbra é mesmo um músico extraordinário. Inesquecível a fase dele no Aquarela Carioca, e o disco que lançaram. O trabalho de Ney Matogrosso que vc citou, "As aparências enganam" é um dos discos mais marcantes e originais da história da música brasileira. Um abraço!

Daniel Achedjian a dit…

Bom dia Tuka, nao vendo ninguem, senao ja seria rico...Tambem nao conheço o Ruy Coimbra (-:, mas em compensaçao, vocé ja viu o Lui talvez sem saber. Como instrumentista de tantos grandes artistas. Alias a cançao-titulo do cd, "Ouro e Sol, serviu para uma novela, na época (2004). Nao me pergunte qual....Um abraço, e volte sempre, amigao...!

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