Carta ao Rio 2008 / 2. Edu Krieger

Edu Kriger, Estrela da Lapa, 20/03/2008 (foto: Daniel A.)

No dia seguinte ao do show do Lui Coimbra, foi a vez de um outro carioca enfeitiçado pela musica nordestina, como pude conferir na atmosfera carioquíssima da Lapa.

Nos últimos meses, muitos espaços dedicados à música foram inaugurados, enquanto outros fecharam - mas nem tantos. Mas a «Estrela da Lapa», foi sempre uma casa de bom gosto, onde costumo ir com o maior prazer.

O Edu Krieger não era um desconhecido meu. Já o conhecia, como baixista e compositor da banda de forró « Paratodos », que acompanhava Alceu Valença, Geraldo Azevedo ou Elba Ramalho.

Edu, filho do famoso ‘maestro’ e compositor Edino Krieger, acompanhou também outras estrelas do Nordeste, como Belchior e Zé Ramalho.

Impressionante como esse jovem compositor-cantor-músico, de 33 anos, sentiu-se atraído pela geração dos anos 70, que projetou a música nordestina misturada com o folk / rock estrangeiros. Enfim, o que eu quero dizer é que soa estranho para um europeu...

Edu Krieger lançou seu primeiro disco solo em 2006, através de um selo independente, mas esse mesmo disco foi relançado pela Biscoito Fino no ano seguinte. Posso dizer, sem exagero, que esse álbum, na minha opinião, foi um dos melhores de 2007.

É claro que a boa idéia da Maria Rita de regravar duas composições do Edu, «Novo amor» e «Maria do Socorro» no seu «Samba Meu», ajudou a firmar o nome do jovem e talentoso compositor. Especialmente porque o CD da Maria Rita, tanto quanto o «Sim» da Vanessa da Mata, obtiveram alguns dos melhores índices de vendas nesses últimos meses, em termos de MPB pura.

O disco «Edu Krieger» nao tem sequer um momento fraco, e conta com as participações da Nilze Carvalho com seu bandolim (outro CD destaque do ano passado!), o fiel violonista «biscoitinho» Nicolas Krassik, e o Geraldo Azevedo - o único com quem Edu abriu mao de partilhar uma composiçao, « Temporais », nesse caso, com tambem o canto dos dois.

O show no Estrela da Lapa, fora o roteiro do disco, pode ser classificado como uma homenagem aos seus ídolos já citados, mas também relembrou sucessos da geração dos anos 90, como Chico Science.

Acompanhado pelos mesmos músicos do próprio disco – vale citar: seu irmão Fabiano Krieger na guitarra, Fabiano Salek na percussão, e Marcelo Caldi na sanfona e teclados - Edu não largou seu violão de 7 cordas.

O show valeu mais pela qualidade das composições, a voz melodiosa e firme do Edu, e os «toques» mais rock do irmão Fabiano (também pelos arranjos ligeiramente eletrônicos do Lucas Marcier) do que propriamente pelo desempenho da banda como um conjunto.

Mas se não foi fácil apontar uma real tendência na cena musical brasileira em 2007, acredito que Edu e alguns poucos novos compositores, nos permitem hoje antever futuros bons artistas, que ocuparão seu próprio espaço no cenário da MPB, lado a lado com artistas já devidamente valorizados, mas que agora já pensam na necessidade de se reinventarem. Principalmente, aquela geraçao dos anos 90.

Um pequeno registro de viagem, en passant : se bem me lembro, foi a primeira vez, em 20 anos, que não assisti a algum show no Canecão, nem em qualquer outro espaço ainda maior. Perdi, por um dia, o show da Bethânia com a Omara Portuondo, e ainda tive que passar adiante meu ingresso para ver a Paula Toller, no dia 5 de abril, pois teria que acordar cedinho no dia seguinte para voar até São Paulo.