Diz que fui pro Rival...

Fernanda Takai (foto Daniel A.)

Em novembro passado, quando eu soube do lançamento do disco solo da Fernanda Takai, homenageando o repertório da Nara Leão no disco “Onde brilhem os olhos seus”, não foi para mim uma grande surpresa. A vozinha ingênua da cantora, não era, afinal, tão distante do timbre da voz da Nara. Mas tinha que conferir a afinação da menina do Patu Fu, para canções que requerem uma técnica mais segura.

Como humilde cantor de bar em Bruxelas (há alguns anos, é não riam, por favor!) posso dizer que cantar “Insensatez” representa um desafio que a Fernanda assumiu com a maior facilidade.

Vinda de um universo pop/rock, ela conseguiu se adaptar aos estilos variados que a própria Nara já tinha visitado.

Para os mais jovens, é bom lembrar que a Nara não foi simplesmente aquela “musa da bossa nova”; ela também ajudou a resgatar para o palco grandes sambistas dos morros do Rio, como Zé Kéti, Cartola, ou Nelson Cavaquinho. Logo depois, a Nara aderiu ao Tropicalismo, tornando-se um ícone do movimento, como se constata na capa do disco-manifesto do mesmo.

Voltando à Fernanda, eu já havia tentado desesperadamente comprar o disco na Bélgica, através de lojas virtuais, mas sempre me informavam que o CD estava esgotado. Só consegui comprá-lo durante essa viagem, e ainda não tive nem a oportunidade de ouvi-lo.

A regravação “Diz que fui por ai” (Zé Kéti), que toca bastante na MPB FM, já me dava água na boca, pelo seu jeitinho swingado - pop, que, sem perda da alma da canção, justamente ganha essa graça especial exatamente por conta da interpretação da Takai.

No projeto “Palco MPB FM”, no teatro Rival, ela fez um show nos moldes do programa da própria Rádio, ou seja: 3 ou 4 canções, com intervalos contando a história do disco - projeto genial, que só podia mesmo ter nascido da cabeça do sempre jovem / jovial Nelson Motta, também presente na platéia.

Nelson Motta, iniciador do projeto (foto: Daniel A.)

A maioria das quase 15 canções ganhou na modernidade pop de bom gosto, para a qual contribuíram outros integrantes do Patu Fu: o mentor da banda, o guitarrista /compositor John Ulhoa - bem escondido no fundo do palco - e o Lulu Camargo, tecladista que também carimba o som da banda mineira.

Até solos rock de guitarra se integraram às composições na melhor das harmonias.

Para se ter noção da diversidade do repertório, a Fernanda revisitou Pixinguinha (“Odeon”), Tom (“Insensatez”), Chico Buarque (bela interpretação de “Com açúcar, com afeito”), Robeto Carlos (“Debaixo dos caracóis...”; bem swingada, essa), e, claro, Zé Kéti (Diz que fui por ai)... dentre outros...

A platéia ficou entusiasmada nesse Rival que eu ainda não tinha visto reformado, e que, para mim, agora perdeu toda a sua alma.

O show, que já foi apresentado em vários estados, voltará ao Rio no Canecão, no início de maio, com um repertório mais extenso. Nota dez para a idéia do Nelsinho e para o disco (gravadora Deckdisk), que já vendeu mais de 25.000 cópias; e parabéns para a Fernanda, que nos surpreendeu, mais uma vez, para nosso maior prazer....