samedi 2 août 2008

Encontros improváveis : Nelson Sargento, Johnny Alf, Tito Madi e Zézé Gonzaga.

Nelson Sargento andando pelas ruas de Copacabana (foto Daniel A.)

Existem os encontros marcados e programados, existem também os encontros inevitáveis, assim como os encontros fúteis ou fugazes. No entanto, os mais marcantes são provavemente aqueles que são fruto do acaso. E vocês sabem, como já dizia o “poetinha” Vinicius, do impacto que eles têm sobre nossas vidas.
Os nomes que vão constar deste “postinho” provavelmente não vão fazer explodir o número de acessos; mas fala de artistas de grande importância, porque de uma forma ou de outra participaram da modernização da música popular. O fato é que quando a gente se vê frente a eles, parece que surge da terra uma porção telúrica da cultura musical brasileira. Eles trazem estampadas em seus rostos, vincados pelas rugas, suas tantas histórias vividas.
Assim, é muito comun, andando pela zona sul do Rio de Janeiro, cruzar com artistas para os quais poucos se virariam para olhar; porém, às vezes, estão entre esses os mais importantes.
Lembrei-me, por causa de noticias que pude ler esses dias, de alguns desses encontros.
Há cinco anos, saindo da loja Modern Sound em Copacabana, eu vislumbrei no meio da multidão um senhor negro bem velhinho, baixinho e careca, e de barba branca. Ele parecia quase perdido, parado, e observava as pessoas que corriam daqui prá lá. Com medo de me enganar, me aproximei e perguntei com meu sotaque belgarioca : « O senhor não é o Nelson Sargento, da Mangueira ? ». Ele percebeu que de fato eu era estrageiro e respondeu : « Vocé é de onde ? Da Bélgica ? Será que as pessoas de lá me conhecem ? Dá para encontrar os meus discos lá fora?” Eu tive que responder que não, mas disse que tocava seus sambas no meu programa de rádio … e outras banalidades; pois me sentia talvez mais intimidado ali do que se estivesse frente a qualquer Caetano ou Chico Buarque. « Ô bicho, não dá para conversar agora não », disse ainda ele, e concluiu : «Vamos fazer uma entrevista para o seu povo lá, mas primeiro consulte o meu site que é muito bem feito, e depois a gente combina de se encontrar lá na Mangueira ! ». Eu estava quase no fim daquela viagem, e infelizmente o tempo me faltou. Não pude ir. Guardo apenas essa foto, que consegui tirar rapidamente na calçada da Rua Barata Ribeiro, registro desse encontro fugaz com um ícone da “Divina Dama” verde e rosa. Fiquei entusiasmado ao ler que o Nelson vai ser agora, aos 84 anos, a atração principal do Canecão neste mês de agosto, com apresentação marcada para o próximo dia 6. Infelizmente, mais uma vez, só vou chegar no dia 15 deste mês…
Garimpando na minha memória, me lembrei de um outro encontro informal em 1990, no Vinicius Piano Bar de Ipanema, às duas da madrugada, com o grande músico Johnny Alf. Esse pianista e compositor de tantas pérolas como “ Rapaz de bem”, “Ilusão à toa” e “Eu e a brisa”, considerado um dos pioneiros da Bossa Nova, representava para mim, ali, um monumento vivo. Eu tinha acabo de ler o famoso « Chega de saudade » do Ruy Castro, um livro que me havia provocado a nostalgia de um tempo e de uma cidade que eu nem imaginava que fosse conhecer um dia. O Johnny Alf fica, sem dúvida, um dos pilares do “templo” da música brasileira. Eu também tinha acabado de comprar « Olhos negros », que o artista havia lançado, contendo regravações em duetos de suas grandes canções. Artistas como Chico Buarque, Gil, Caetano, Zizi Possi ou Gal Costa dividiram os vocais com o compositor nesse trabalho. Esse disco, na minha opinião, foi um dos grandes lançamentos daquele ano de 1990, provavelmente por ter me revelado esse melodista fantástico. Antes tarde do que nunca. E a gente ali, assim, simplesmente bateu um papo em frente a um whiskinho, num final de noite em Ipanema. Como lembrança, guardei uma toalha de papel com uma dedicatória, agora já esmaecida pelo tempo.
Fiquei feliz de saber que o Johnny, agora com 80, se recuperou bem de uma doença séria, e que está pronto para atacar um novo projeto discográfico.
Mais à frente, acerca de 2000, acho eu, fui de forma já mais proposital aos camarins do Bar do Tom, no Leblon, cumprimentar a Claudia Telles - filha de outra musa da Bossa, a Silvia Telles - e o Tito Madi, mais uma figura importante dos anos 50. Depois da foto de praxe nos camarins, pude conversar com o compositor de « Chove lá fora » e « Balança Zona Sul », que, por mais moderno que tenha sido, não participou do movimento da Bossa Nova. O que não o impediu, no entanto, de hospedar - e suportar – um certo João Gilberto, durante 6 meses ! Tito Madi foi pauta de um artigo recente no segundo caderno do Globo, bem como o Nelson Sargento e o Johnny Alf; e, como esse último, pretende lançar em breve um trabalho novo, com inéditas.
Tenho um monte de historinhas assim desse tipo como, provavelmente, muitos dentre vocês.

Dia 25 de março 2007: Zézé Gonzega no dia dos seus 81 anos
no Centro Cultural Carioca (foto Daniel A.)

Mas prefiro fechar com uma última que aconteceu durante a minha mais recente viagem ao Rio, em março desse ano, assistindo no Centro Cultural Carioca, no centro, ao show da jovem mineira Ângela Evans, com a cantora Aurea Martins e o “mago” Herminio Bello de Carvalho (vide post “Para não dizer que...”,de 27 de março). Eu me esgueirava como uma enguia por entre as mesas, a fim de registrar o evento para esse meu blog querido. Atropelando sem querer alguém no escuro, pedi desculpas a uma senhora idosa, vestida com classe, que me aconselhou ajoelhar, praticamente a seus pés, para me permitir um melhor ponto de vista do palco. Acontece que no fim do show, essa mesma dama foi absolutamente surpreendida pelos holofotes que se fixaram sobre ela, ao som de um « parabéns pra você »…Era a grande cantora de rádio Zézé Gonzaga, a quem os presentes homenageavam, festejando ali seus 81 anos de vida. Comovida, Zézé aplaudia a platéia e os músicos, e eu me encontrava então no melhor ângulo para fotografar esse momento de emoção, com flores e lágrimas mais do que merecidas. Bem, depois do show, ainda pude roubar uns minutos dessa lendária cantora dos anos 50, que me prometeu,quando da minha próxima viagem, uma tarde inteira em sua companhia, para me contar sobre a sua grande época de glória, assim como a da Rádio Nacional. Minha próxima viagem se aproxima agora, e fico triste por saber que a Zézé saiu de cena, uns dez dias atrás... sem cumprir sua promessa.
Na verdade, foi essa notícia triste que me inspirou a idéia do tema desse texto, sobre esses encontros improváveis…

13 commentaires:

Tombom a dit…

Obrigado, Daniel
por compartilhar seus "encontros improváveis"... e com fotos!!! especialmente o da querida Zezé Gonzaga, de voz suave, delicada, afinada, de extrema elegância ao cantar...

Anonyme a dit…

Parece surreal um belga reconhecer o Nelson Sargento no meio da confusão da Barata Ribeiro. Mas essa é a grande mágica desses encontros. Que outros assim, surpreendentes, continuem acontecendo ... e continue fotografando, por favor! Eu não conhecia a Zezé Gonzaga ( era rádio, não era televisão ... ) e devia ser mesmo encantadora. O Nelson Sargento é um graça. Adorei o "Ô bicho ... entra no meu site ... " rs. Abç.

Anonyme a dit…

Salut Daniel, je na connais pas du tout les artistes dont tu parles, mais par contre j'aime beaucoup le chanteur qui accompagne la chanteuse Zézé Gonzaga. Superbe voix! Qui est-ce? Jacques.

Anonyme a dit…

Oi Daniel! Tu t'intéresses vraiment à toutes les générations! C'est vrai que c'est la mémoire d'un peuple! Et tous ces artistes qui ont 80 ans et qui sont toujours en activité! La cachaça conserve!!
Cousin Hub

Tombom a dit…

Message à "Jacques a."
--- Le superbe chanteur qui accompagne la chanteuse Zezé Gonzaga est... ZÉ RENATO, ex-Boca Livre, une populaiere groupe vocal brésilien du décennie 1980/1990...

Anonyme a dit…

Caramba, tombom... eu não reconheci o Zé Renato!

Daniel Achedjian a dit…

Salve Tombom, tenho tambem um grande admiraçao e interesse a respeito dessa grandes divas da Radio como Aracy de Almeida, Dalva de Oliveira ou Angêla Maria...Tenho um ou dois livros sobre essa época, mas confesso que nao tive o tempo de começar a lê-los...Sou etletico demais!! Um abraço...

Daniel Achedjian a dit…

Pois é Pandora, "Il n'y a plus de vieillesse!" ou "nao tem mais velhice!" O Nelson deve usar seu computador melhor do que eu. Isso é a grande magia da MPB: sair da Modern Sound com um cd de Sepultura na mao, e logo em seguida, louvar essa grande figura que é o Nelson Sargento!! Beijo...

Daniel Achedjian a dit…

Bonjour Jacques, Tombom a eu la gentillesse de te répondre. Zé Renato est à mon sens un des meilleurs chanteurs de la MPB depuis 30 ans. Il reste un des plus virtuoses et couvre une grande gamme d'octaves. A bientôt..

Daniel Achedjian a dit…

Et oui, Hub, maintenant à 50 ans, un artiste est encore un jeune! Regarde Madonna, Paul Weller, Prince, Michael Jackson...et au Brésil, Lulu Santos ou Marina Lima que tu connais peut-être. Tu vois l'évolution des mentalité? En 1980, il était impensable de créer un groupe rock au delà de 25 ans!! Bien à toi..

Daniel Achedjian a dit…

Olha so, Olga, tem que rever seus classicos rsrs beijos...

Anonyme a dit…

Oi Dani , a diferença do Rio para as outras cidades no Brasil é exatamente essa, de encontrar as pessoas na rua a toda hora e todo momento e as vezes nem se dar conta de quem está ao seu lado. Eu mesmo vivo encontrando vários cantores e artistas, a todo momento. Acho que um dos charmes da nossa cidade é esse . bjs tuka

Daniel Achedjian a dit…

Pois é Tuka, agente pode encontrar artistas que andam nas ruas a vontade sem que sejam assediados (fora um Chico ou um Caetano...). Em abril passado me lembro de ter visto em Ipanema Lobao, Oswaldo Montenegro ou Miucha, e perdi provavelmente outros...até logo amigo!

CE BLOG EST DÉDIÉ AUX CURIEUX QUI AIMERAIENT CONNAÎTRE L'ART ET LA MUSIQUE POPULAIRE BRÉSILIENNE. UNE OCCASION POUR LES FRANCOPHONES DE DÉCOUVRIR UN MONDE INCONNU OU IL EST DE MISE DE LAISSER SES PRÉJUGES AU VESTIAIRE.