lundi 29 novembre 2010

António Zambujo, Varanda do Vivo Rio.

António Zambujo, Varanda do Vivo Rio, 26/11 (foto Daniel A.)

-texte français plus bas

A voz de António Zambujo merece ser classificada como uma das riquezas do patrimônio cultural português. Poucos cantores brasileiros possuem uma tal desenvoltura em sua modulação de voz. E esse dom aparece ainda mais em show.
Vestindo sóbria e elegantemente um terno preto, Zambujo entrou no pequeno espaço da Varanda do Vivo Rio, nessa sexta feira 26 de novembro, e encantou, ao longo de quase uma hora e meia, o público que havia se rendido à causa do nativo de Beja (Alentejo).
Um dos problemas –e esse não foi o menor deles- residiu na escolha do espaço para o concerto : um local particularmente inadequado para esse gênero de apresentação, que requer um mínimo de silêncio ! O palco fica na mesma altura da platéia, e a partir da terceira fileira de mesas já não era possível enxergar muito bem o cantor, sentado atrás de seu violão, durante toda a apresentação.
Em oposição ao que acontece nos clubes de Fado tradicionais, onde os ouvintes param de jantar ao longo do recital, uma vez que o mínimo ruído do serviço é desagradável, o público –embora também bastante chique - comportou-se de forma particularmente inconveniente. Ficou dificil suportar ouvir os copos se chocando com estardalhaço, as latas de bebidas sendo abertas e assim sujando os preciosos silêncios musicais, as mãos futucando bruscamente os baldes de gelo em busca de uma última cerveja, ou até mesmo uma parte da assistência que insista em continuar conversando, ignorando solenemente o show.
Sem falar nos motores do ar condicionado que roncavam para arejar o lugar abafado, ou ainda dos funcionários que continuavam a servir e a solicitar o fechamento das contas pendentes ; isso tudo enquanto Zambujo, imerso em seu universo de delicadeza, demonstrava toda a sua sensibilidade... Eu deixo a critério do leitor julgar se cabe ao artista submeter-se aos hábitos do público para o qual ele se apresenta como visitante, ou se é esse mesmo público que deveria demonstrar um mínimo de respeito para com o artista o qual ele escolheu vir assistir...
Bom, no entanto, parece que esse artista, ele mesmo, não foi atingido por tudo aquilo que me aborreceu tanto pessoalememte ; e à medida em que se desenrolavam suas interpretações, ele começou naturalmente a dominar a platéia distraída, que passou a se disciplinar ao longo do espetáculo.

Jon Luz, um cavaquinho ao lado dum fadista...(foto Daniel A.)

Assim como outros artistas portugueses de sua geração, António Zambujo ultrapassa os limites do fado tradicional, mesmo continuando fiel à sua estética original, como atestam seus dois álbuns lançados no Brasil : « Outro sentido » (2007) e « Guia » (2010). Através desses dois trabalhos (ele já gravou ao todo quatro discos até agora), Zambujo introduziu instrumentos pouco usuais para revisitar os clássicos desse gênero português (Foi Deus, Nem às paredes confesso...), além de tecer laços com o Brasil, ao contar com as colaborações de Rodrigo Maranhão (convidado ao palco, nesse show aqui no Rio, para acompanhar suas composições De mares e Marias e Quase um fado), Pedro Luis, Pierre Aderne (presente na platéia, também no show do Vivo Rio), Roberta Sá, Ney Matogrosso, Ivan Lins e Caetano Veloso- esse último, pródigo em elogios ao artista.
Zambujo relembrou a ida de Vinicius de Moraes a Portugal em 1969, quando então encontrou-se com Amália Rodrigues. E também tomou emprestado do « poetinha » Poema dos olhos da amada (c/ Paulo Soledad), Quando tu passas por mim (c/ Antonio Maria) e Apelo (c/ Baden Powell), com a qual, essa última canção, ele audaciosamente faz uma fusão com a melodia de Fado Perseguição (Carlos da Maia e Avelino de Souza).
Em resumo : o show foi de uma grande beleza, mas ele merece um local digno de acolhê-lo, como acontecerá, sem dúvida, no Bourbon Street de São Paulo, onde António Zambujo se apresenta nesse próximo dia 30 de novembro de 2010, acompanhado de Bernardo Couto (guitarra portuguesa), Ricardo Cruz (contrabaixo) e Jon Luz (cavaquinho).

2 commentaires:

LuGomesMachado a dit…

Realmente é lamentável esse comportamento recorrente do público brasileiro nos shows que acontecem em bares!

Anonyme a dit…

Bonjour Daniel
Alors que tu es surement à Rio, je t'envoie un lien sur une brésilienne qui est en exile esthétique justement, à Paris, en train de faire vivre la bossa:

myspace.com/liabarcellos

Abraço

Lia
liabarcellos@ymail.com

CE BLOG EST DÉDIÉ AUX CURIEUX QUI AIMERAIENT CONNAÎTRE L'ART ET LA MUSIQUE POPULAIRE BRÉSILIENNE. UNE OCCASION POUR LES FRANCOPHONES DE DÉCOUVRIR UN MONDE INCONNU OU IL EST DE MISE DE LAISSER SES PRÉJUGES AU VESTIAIRE.